É inegável que a Coreia do Sul virou um fenômeno, dominando o Brasil e o mundo com todos os seus quatros pilares — K-Pop, K-Drama, K-Food e K-Beauty. Eis que a febre avança mais um passo com a chegada de Além do Guarda-Roupa, uma produção original do HBO Max com DNA brasileiro, mas inspirado em séries coreanas.

Também chamado de “K-Drama brasileiro”, a série estreou com três episódios no serviço de streaming do HBO em 20 de julho e os novos capítulos chegam semanalmente ao catálogo. O blog KaBuM! teve oportunidade de assistir antecipadamente a primeira leva da temporada e relata abaixo o que achou de Além do Guarda-Roupa.

Essa é a mistura do Brasil com… a Coreia

Na nova série do HBO Max, você acompanha a estudante Carol (interpretada pela brasileira Sharon Cho), de 17 anos, filha de uma brasileira e um sul-coreano. A garota sonha em se tornar uma bailarina profissional, mas precisa encarar muitos desafios em seu conturbado cotidiano.

O primeiro deles é a relação com a tia que a cria desde criança, Regina (Júlia Rabello). A mulher tem um café localizado no Bom Retiro, o bairro coreano típico de São Paulo, e faz Carol trabalhar no estabelecimento diariamente. O emprego não lhe parece tão ruim, mas tudo muda quando o local passa  por um rebranding.

Seguindo as tendências, o café muda de nome e de visual e passa a se chamar K-Café, adotando a temática do K-Pop. Afinal, assim como na vida real, a música popular coreana se torna uma febre no mundo da série também. Em Além do Guarda-Roupa, porém, o grupo masculino do momento é o ACT.

[Crítica] Além do Guarda-Roupa mescla o melhor do Brasil com a Coreia
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O grupo fictício ACT é composto por idols coreanos reais: Kim Woo-jin (ex-integrante do Stray Kids), Kim Jin-kwon (membro do Newkidd), Yoon Jae Chan (do ex-duo XRO), e o ator Lee Min-wook. Na série, eles interpretam Kyung-Min, Dae-Ho, Sang-Mok e Chul-Woo, respectivamente.

De repente, Carol vê seu mundo sendo invadido pelo grupo de K-Pop. Na escola se escuta somente sobre eles e o K-Café de sua tia ganha inúmeras ativações com imagens dos idols para os clientes aproveitarem. A protagonista precisa até mesmo se vestir com a roupa oficial do mascote do ACT durante seu expediente de trabalho.

Entretanto, a trama destrincha com doses leves de informações um evento curioso: Carol odeia tudo que vem da Coreia, e isso inclui o K-Pop e, por tabela, o ACT. Aos poucos, o espectador entende melhor os traumas da jovem e o que a leva a negar suas origens — e isso adiciona uma camada dramática muito interessante à série.

O grupo de K-Pop, ACT, em Além do Guarda-Roupa

Imagem: HBO Max/Reprodução

Mas o verdadeiro desafio de Carol começa quando ela descobre que seu guarda-roupa é, na verdade, um portal para a Coreia do Sul — mais especificamente para o dormitório onde moram os integrantes do ACT. A descoberta acontece organicamente para o espectador, mas de forma abrupta para a protagonista.De repente, a jovem vê seu quarto invadido pelo líder do ACT, Kyung, que decide fugir do mundo concorrido, pressionante e frenético do K-Pop em que vive. Apesar de ser engraçada a forma como começa a relação entre ele e Carol, a narrativa começa a criar paralelos intrigantes entre os dois.

Enquanto a protagonista deseja melhorar suas habilidades de dança para participar de um concurso de balé, o líder do ACT precisa urgentemente escrever uma letra para a música do próximo comeback de seu grupo. Mas a série vai além de apenas mostrar, de forma sutil, que a dupla precisa um do outro para crescer profissionalmente.

Com nuances multiculturalistas, Além do Guarda-Roupa demonstra nas peripécias de Carol o “jeitinho brasileiro” de lidar com múltiplos problemas de uma só vez. Não à toa, a jovem se desdobra em várias versões de si para aguentar a puxada rotina. Em paralelo, Kyung vem de uma criação rígida, e ainda por cima se torna um idol, o que demanda perfeccionismo, exposição constante e criatividade.

O lado sombrio de cada cultura

[Crítica] Além do Guarda-Roupa mescla o melhor do Brasil com a Coreia
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Com o K-Pop como pano de fundo, Além do Guarda-Roupa desenrola uma trama divertida, leve e deliciosa de assistir, com bastante apelo para o público infanto juvenil. E mesmo que não seja sua intenção, existem camadas de crítica em sua narrativa, especialmente no que tange à obsessão com idols e a fetichização com coreanos (problemas muito modernos que precisam ganhar mais visibilidade).

Essas questões exigem delicadeza ao serem abordadas porque carregam muitos níveis de complexidade, mas Além do Guarda-Roupa retrata isso muito bem — talvez porque talvez nem fosse seu objetivo? Existem também temas indiretamente trabalhados, como jornada excessiva de trabalho excessiva, e a indústria (ou fábrica) de idols na Coreia.

Ao mesmo tempo, é muito bonito ver como Carol e Kyung se complementam e atuam nas jornadas pessoais um do outro, auxiliando no processo de autodescoberta um do outro. A série conta ainda com muita narração por parte da protagonista, um recurso narrativo que é bastante explorado em K-Dramas.

[Crítica] Além do Guarda-Roupa mescla o melhor do Brasil com a Coreia
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Faz sentido, pois a proposta de Além do Guarda-Roupa é ser uma série brasileira com inspiração nas produções coreanas. As referências (ou homenagens) também estão presentes no encerramento dos episódios, inclusive.

Sabe quando acaba o capítulo do K-Drama e surgem imagens estáticas em meio aos créditos mostrando os melhores momentos e a música toca? Até mesmo essa característica está presente, e honestamente, apenas enriqueceu a produção brasileira do HBO Max. 

Além do Guarda-Roupa vale a pena?

Muito! É uma série com DNA brasileiro e carinha de K-Drama muito especial. Os episódios têm cerca de quarenta minutos cada e a trama se desenrola de maneira muito prazerosa.

[Crítica] Além do Guarda-Roupa mescla o melhor do Brasil com a Coreia
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De forma geral, o elenco de Além do Guarda-Roupa tem uma química excelente e a atuação está ótima para o que propõe. Embora alguns personagens sejam caricatos, a grande maioria entrega uma atuação muito boa, como é o caso dos quatro integrantes do ACT. A protagonista Carol e sua tia Regina também são ótimas, mas um dos maiores destaques do elenco é sem dúvidas Nayara (vivida por Sabrina Nonata), a personificação dos fandoms de K-Pop.

A fotografia também é muito bonita e colorida, e a trilha sonora conta com uma excelente seleção de faixas de músicas populares. Além disso, prepare-se para cantarolar por dias a música VROOM, principal hit do ACT na série. Além de ser extremamente bem produzida, a canção vicia facilmente.

Além do Guarda-Roupa é apaixonante! A série mescla o melhor do Brasil com a Coreia com leves críticas ao lado sombrio de cada cultura, enquanto desenrola uma trama divertida, jovem e relacionável. Agora é aguardar pelos episódios restantes ao longo das próximas semanas no HBO Max, mas até o momento, o saldo é muito positivo.

Com direção geral de Marcelo Trotta, e codireção de Paula Kim e Sabrina Greve, Além do Guarda-Roupa tem 10 episódios e é uma série com o selo Max Original, coproduzida com a Coração da Selva.

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