Roupa clássica de Cammy em ‘Street Fighter 6’ revive polêmica que Capcom não precisava
Personagem ganhou necessária repaginada no jogo, mas ‘Street Fighter 6’ tem pack de trajes clássicos que a coloca em maiô bem sugestivoBy - Rafael Arbulu, 5 junho 2023 às 11:42
Cammy White, a agente secreta britânica de Street Fighter 6, é o pivô de uma nova polêmica sobre o jogo. Melhor dizendo, seu traje clássico é o problema: segundo diversos canais de mídia – imprensa e youtubers – a Capcom cometeu um erro ao trazer de volta o maiô verde que a personagem usava nos jogos anteriores da franquia em um trailer do novo título.
Como sabemos, Cammy recebeu um redesign bastante necessário: estreante da série de jogos de luta em Super Street Fighter II (1993), a ex-assassina mentalmente controlada pela organização criminosa Shadaloo sempre usou um maiô bastante curto e revelador. Considerando que a maior parte dos seus golpes envolve acrobacias que a colocam em posições desfavoráveis, não demorou muito para que ela se tornasse, digamos, uma sex symbol dos games.
Em Street Fighter 6, no entanto, seu novo visual a vê usando uma jaqueta jeans com um top e calça legging, além de luvas e botas de combate. Suas icônicas tranças também deram lugar a um cabelo mais curto, com mechas longas caindo sobre o rosto. A mudança foi bastante positiva e bem recebida, com internautas elogiando a beleza da personagem sem a apelação das pouquíssimas roupas (valeu, GamesRadar!).
Entretanto, o jogo conta com a possibilidade de habilitar os trajes clássicos dos lutadores – a maioria dos personagens clássicos contam com visuais novos por padrão – o que invariavelmente trouxe o traje da agente britânica de volta. Isso…não caiu bem para alguns, como este longo trecho de uma coluna veiculada pelo The Gamer:
“Essa não é uma opinião do tipo ‘credo, roupa sexy em mulher gostosa’. Eu mantenho minha preferência sobre Juri e não aceito questões sobre seus pés serem um fator determinante para isso. Eu quero que Christie Monteiro de Tekken 8 use suas faixas cruzando os seios e calça capri com aberturas nas coxas. Eu tenho vários artigos publicados onde declaro meu amor pelo pokémon Tsareena, um amor que é inteiramente fíciso. A dança feita por Taylor Swift na música ‘Vigilante Shit’ me faz precisar de reidratação e se eu vê-la ao vivo, é capaz que eu desmaie. Eu não sou contra mulheres serem gostosas. Parte do motivo pelo qual eu morri tanto em Hades foi para encontrar Megaera. Eu aprovo demais as mulheres serem sensuais. O problema é que a aparência de Cammy é estúpida.
Esse traje sempre foi meio esquisito, mas os detalhes extras de Street Fighter 6, a solidificação do realismo cartunesco da arte e a tendência do jogo em valorizar ângulos de câmera de baixo para cima, tudo isso combina para que o traje pareça ridículo. Enquanto a nova roupa de Cammy parece, bem, nova e coerente, a volta do visual clássico é extremamente tosca.
É, na verdade, uma conquista e tanto – Cammy White tem um ‘tanquinho’ no abdômen que daria até para lavar roupas, além de poderosas coxas, e ainda assim consegue fazer com que ‘mostrar a bunda’ pareça um comportamento de gente perdedora. O tecido do maiô desaparece no vácuo escuro entre as nádegas e, na frente, onde só uma tira de tecido mal cobre sua virilha, a coisa não melhora.”
Em outro texto sobre o assunto, o mesmo The Gamer ressaltou que o recém-divulgado trailer dos trajes clássicos, pela Capcom, rendeu uma thread bastante acessada no Reddit com posições “generosas” da personagem no maiô verde: “[a postagem] mostra Cammy se alongando enquanto veste o design original, com a legenda ‘Cammy se alongando :)’. Eu vou deixar que você adivinha o que está sendo destacado nas imagens, mas digamos que a etiqueta ‘NSFW’ no topo da página com certeza oferece uma boa ideia”, diz o site.
Outro que dedicou um vídeo inteiro a criticar o “novo antigo lookinho” foi o youtuber 8BE:
O problema todo – e este é um argumento que, francamente, nós também reconhecemos – parece residir no fato de que, ao angariar amplos elogios por fazer um “make over” em uma personagem anteriormente conhecida quase que exclusivamente por ser sensual, a Capcom meio que desfez o próprio trabalho ao trazer de volta justamente a parte explícita que era um problema para muita gente.
Convenhamos, como disseram as pessoas que elogiaram a mudança de visual, Cammy conseguiu ficar ainda mais bonita com mais roupas, além de fazer com que seus golpes e histórico ficassem em maior evidência graças ao visual mais despojado. Ao trazer o maiô verde de volta, a Capcom acabou abrindo o precedente para, ao mesmo tempo, ser criticada pelo sexismo e atrair a parte mais problemática da comunidade gamer – a misógina.
Sim, é óbvio que o pack de trajes alternativos dos personagens é opcional – e acredite, não é dos mais fáceis de se destravar dentro do jogo já que envolve longas horas em partida para a obtenção de uma moeda de compra cujos preços não facilitam. Mas a questão é: se você quer repaginar a aparência de uma personagem para algo melhor e trazê-la para um destaque mais coerente com a ambientação do jogo, então para que trazer o problema antigo que, até então, essa mesma repaginada resolvia?
E não é nem tanto pelo fato de um maiô tornar a personagem mais ou menos sensual: obviamente, o mesmo problema atinge Chun-Li, suas pernas imensas e o seu traje clássico, em menor grau, mas basta ver o segundo traje de Juri, por exemplo, que traz de volta a roupa justíssima de couro que ela usou em Street Fighter V). É como diz o The Gamer: é tosco. Por todos os aspectos, qual sentido faz um maiô “socadão você sabe onde” em…lutas de rua? Narrativamente falando, que agente do MI6 – a organização para quem Cammy trabalha – sai no braço com o “popotão” à mostra?
A grosso modo, a Capcom parece querer agradar o jogador mais saudosista de Street Fighter, o que é uma atitude louvável. Afinal, o jogo é cheio de easter eggs e menções de outros personagens que já apareceram na franquia em títulos passados. Mas essa parte, especificamente, acaba recriando um problema que, inevitavelmente, ficará acima do saudosismo dos clássicos, e apelando à audiência de uma parte da comunidade que, hoje, muita gente se dedica a combater.
Comentários