O Google acordou com “os palhacitos acesos” na cabeça e decidiu lançar um novo vídeo, um comercial onde critica a Apple em tom jocoso pela adoção de protocolos restritivos de funcionamento do iMessage, o serviço de mensagens instantâneas do iPhone que substituiu o SMS.

O vídeo é intitulado “iPager” – você pode vê-lo a seguir – e usa do sarcasmo para mostrar “um serviço” que usa “tecnologia antiquada de mensagens” para “trocar mensagens com o Android”. O uso do pager – aqui no Brasil, mais conhecido pelo nome popular de “bipe” – foi uma jogada narrativa inteligente, já que o SMS vem mais ou menos da mesma época.

Para entender o humor por trás do comercial, é preciso contextualizar um pouco a forma como o iOS e o Android “conversam” sobre mensagens: o sistema operacional do Google usa um protocolo conhecido como RCS (sigla em inglês para “Serviço de Comunicações Ricas”), baseado na tecnologia CDMA e com criptografia de ponta a ponta para a proteção da privacidade de seus usuários.

A Apple conta com o iMessage desde outubro de 2011, quando adotou o padrão para smartphones iOS. Superficialmente, o iMessage faz a mesma coisa que o RCS – ou seja, a troca de mensagens de texto entre dois dispositivos – e também conta com criptografia para proteção…mas apenas de iPhone para iPhone.

Em outras palavras: se você tem um iPhone e quer mandar uma mensagem para, digamos, sua mãe que usa um Android, o iMessage é desativado e a mensagem viaja pelo formato comum mais antigo, sem criptografia e podendo ser interceptado por hackers. Fora que, quando isso acontece, ainda há a cobrança de tarifas por parte de algumas operadoras.

Ah, e há que se considerar que, quando uma mensagem sai do Android para o iOS, o RCS também abre mão da criptografia para poder fazer a entrega.

Imagem mostra a diferença entre iMessage e RCS, sistemas de mensagem usados, respectivamente, pela Apple e pelo Google

Imagem: Android Authority/Reprodução

A Apple pode adotar o formato RCS e gozar de todos os benefícios de proteção e gratuidades? Sim, mas ela não quer. Ao priorizar o iMessage, a “Maçã” se vale de um sistema proprietário que só ela usa, com ela mesma. Como o RCS é bem mais universal que o iMessage, fica fácil perceber como a fabricante do iPhone acaba saindo como a “mesquinha” da história.

O Google vem pedindo para que a Apple mude isso há anos, e o assunto é do tipo que vai e volta ano após ano (o Google lança uma nova versão do Pixel e a Apple, do iPhone, anualmente, afinal). No que depender da Maçã, no entanto, isso deve continuar mais um tempo: em setembro do ano passado, o CEO da empresa, Tim Cook, foi questionado por isso e respondeu apenas com “então compra um iPhone pra tua mãe, rapá” [nota do editor: desde quando o Tim Cook fala assim, Rafael?].

Claramente, o homem não tem muito apreço pelo bolso brasileiro, já que um iPhone novo de presente – mesmo para as mamães – pode ser uma empreitada bem cara

Não é a primeira vez que o Google “dá uma tunga” na Apple por esse assunto. Iterações disso – engraçadinhas ou mais séries – existem há anos: em 2022, a empresa de Mountain View fez isso duas vezes, sendo uma com um vídeo onde até contratou o rapper Drake para isso; e outra durante aquele ano do Google I/O.

A Apple é notoriamente teimosa quando o assunto é tecnologia proprietária – o recém lançado iPhone 15, por exemplo, é o primeiro a adotar o padrão USB-C de conector, abandonando de vez o Lightning. Só que a Apple só fez isso por ter sido obrigada pela Justiça de vários países, então…sei lá, de repente um processinho ajuda?

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