Quais as diferenças entre o metaverso e a realidade virtual?
Será que tudo que é referenciado como metaverso faz realmente parte da definição? Conversamos com uma especialista para descobrirBy - Renata Aquino, 16 abril 2022 às 12:04
Desde que o metaverso passou a fazer parte dos planos de grandes empresas de tecnologia, quase todos os ramos de negócios já lançaram uma ou outra ideia de lançamento com o termo. A proliferação de ideias com o conceito deixa de lado uma outra tecnologia, mais antiga mas não menos importante, a realidade virtual (RV). Tanto uma quanto a outra se assemelham na possibilidade de uso óculos de RV e periféricos para controle de um avatar. Mas, quais as diferenças entre metaverso e realidade virtual?
A professora doutora Eliane Schlemmer, que coordena o Grupo Internacional de Pesquisa Educação Digital – GPe-dU Unisinos/CNPq, está no metaverso desde os anos 90. “É muito importante lembrar que não é porque o Mark Zuckerberg anunciou a mudança de nome de sua empresa que o interesse no conceito passou a existir”, afirma a professora da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos – RS).
Segundo a especialista, o conceito se diferencia da RV e da RA (realidade aumentada) em três aspectos principais.
1) Abordagem física: a realidade virutal tem como foco uma abordagem mais física. Trata-se de interagir com itens e espaços, renderizados em três dimensões. Já o metaverso não tem necessariamente estas características.
2) Foco em conteúdo e significado sociais: o metaverso é focado na interação com conteúdo e participantes, mesmo que estes sejam NPCs (non-playable characters ou personagens não-manipuláveis). Não é o caso da RV, que não precisa ter estes elementos.
3) Ambiente escalável: o metaverso possui um ambiente que pode ser escalado, para comportar um maior número de pessoas e reforçar o seu significado social. A realidade virtual é um contexto isolado, um momento no espaço.
Para entender ainda mais essas diferenças, Schlemmer lembra do contexto histórico do conceito. É um termo composto de duas palavras: meta que significa “além de” ou “transcendência” e verso, que é a abreviação de universo. A ideia remonta à década de 90, associada ao gênero de ficção científica cyberpunk, que teve como um de seus maiores autores William Gibson. Entretanto, o termo em si foi criado em 1992, com Neal Stephenson, no romance pós-moderno de ficção científica Snow Crash.
A criatura metaverso por seu criador
Em Snow Crash, o termo é utilizado para designar um mundo digital virtual, ficcional, em que os seres humanos interagem então uns com os outros por meio de avatar num espaço 3D. “Assim esse conceito, bem como as plataformas, existem há mais de três décadas”, enfatiza Eliane. “Lá no final da década de 90 a gente já tinha plataformas, essa tecnologia só voltou a ter destaque pelo anúncio bilionário da Meta, seguida por outras empresas”.
O criador do metaverso, Stephenson, comentou a volta do termo e a mudança do Facebook para Meta. Para o autor, a maneira como a empresa de Zuckerberg vai monetizar a tecnologia fará toda a diferença.
Para Stephenson é “lisonjeiro quando empresas investem tempo e dinheiro para colocar ideias em prática”. Apesar de não ter tido qualquer conversa com Zuckerberg ou funcionários do Facebook sobre o conceito de metaverso, Stephenson vê na movimentação da empresa alguns conceitos que foram antecipados em seu livro.
“Desde o começo da ficção científica, escritores têm tido crédito por inspirar invenções reais, então isto não é único e singular”, afirma Stephenson. “Eu sabia que poderia acontecer, mas não esperava que acontecesse”, completa.
Perguntado se mudaria algo no conceito de metaverso, Stephenson mandou um aviso para o Facebook. “O que está sendo construído [pela Meta] é diferente do livro, especialmente na arrecadação financeira”, aponta o autor. “O modo como o sistema fará dinheiro é muito importante, mais do que tudo, pois as funcionalidades técnicas dependem disso”, alerta.
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