“A melhor coisa que podemos fazer hoje ao JavaScript é aposentá-lo”, diz criador do JSON
Douglas Crockford, conhecido também como o autor de 'How JavaScript Works', argumenta que há mais interesse em inchar a linguagem que torná-la melhorBy - Liliane Nakagawa, 14 agosto 2022 às 15:03
“O JavaScript, como as outras linguagens de dinossauros, tornou-se uma barreira para o progresso. Devemos nos concentrar na próxima linguagem, que deve se parecer mais com o E do que com o JavaScript”, disse Douglas Crockford, criador da especificação JSON (JavaScript Object Notation), em entrevista ao site Evrone no mês passado.
O pai da extensão do JavaScript ainda defendeu a aposentadoria de uma das linguagens de programação mais populares do mundo, de acordo com vários questionários da Stack Overflow. “A melhor coisa que podemos fazer hoje ao JavaScript é aposentá-lo”, adicionou.
Embora proponha uma nova sintaxe, Crockford conta que foi um dos poucos defensores da linguagem de programação criada por Brendan Eich há quase três décadas. Não à toa, o norte-americano também é conhecido pela obra “How JavaScript Works” (“Como JavaScript funciona”, em tradução livre). “Sua junção de funções aninhadas e objetos dinâmicos era brilhante. Eu passei uma década tentando corrigir suas falhas. Tive um pequeno sucesso com o ES5. Mas desde então, tem havido um forte interesse em inchar mais a linguagem em vez de torná-la melhor”, conta o programador.
Hoje, 27 anos depois da invenção para o Netscape, o JavaScript, concebido aparentemente em 10 dias por Brendan Eich, é a linguagem de programação ainda mais usada pelos desenvolvedores – mais de 65% afirmaram serem usuários na pesquisa da Stack Overflow do início do ano. Com exceção das linguagens sem propósito geral, como HTML/CSS e SQL, Python ocupou o segundo lugar no ranking, com 48%.
A que se deve o sucesso do JavaScript?
Há várias razões. A facilidade de aprendizagem e a tolerância ao código, que seriam considerados erros em muitas linguagens, como comparação de strings com números e obter um resultado de senso comum é um deles – embora o próprio criador do “trabalho apressado”, como ele mesmo chamou, tenha feito disso “um grande arrependimento, porque isso quebra uma propriedade matemática importante”.
Outro grande fator que colabora com o sucesso veio com uma determinação do Google em 2008, ao tornar os aplicativos baseados em navegador competitivos com o desktop, criando o V8, o motor JavaScript gratuito e de código aberto desenvolvido pelo Projeto Chromium para os navegadores web Google Chrome e Chromium. Com o SpiderMonkey da Mozilla e o JavaScript Core da Apple deram à linguagem um desempenho ímpar compilado pelo Just-In-Time (JIT).
Problema
De acordo com Crackford, parte dele se deve à aquisição de complexidade devido ao aumento da capacidade do JavaScript. Além disso, uma aplicação típica atual inclui um processo de construção com WebPack, Rollup ou algum outro bundler, algo muito distante do conceito original concebido por Eich.
Outro ponto é que muitos desenvolvedores web não escrevem em JS, eles escrevem em TypeScript, que se compila em JavaScript. A linguagem inventada por Anders Hejlsberg na Microsoft foi a lógica encontrada para a maleabilidade do JavaScript e a consequente falta de segurança que tornavam a criação de Eich inadequada para grandes aplicações.
Embora não seja tão amado quanto o JavaScript, o TypeScript já é uma das três linguagens de programação mais populares do mundo, segundo a pesquisa acima. O WebAssembly, um formato binário que pode ser direcionado por linguagens como C, C++, C# e Rust, é outra inovação que pode acabar minando o domínio do JS.
“O JavaScript explodiu em popularidade em poucos anos e sim, o ecossistema é horrivelmente complexo. É uma mordaça que corre, mesmo entre os que trabalham em tempo integral, o JS devora a loucura. Nenhum de nós consegue acompanhar”, confessou um desenvolvedor em uma recente discussão no Hacker News.
Futuro
Apesar dos problemas apontados por Crockford, algumas falhas que não podem ser corrigidas e o já mencionado inchaço nas funcionalidades, o JavaScript está em constante evolução, o progresso e as novas funcionalidades podem ser acompanhados pelo perfil do ecma262, no GitHub.
Entretanto, Crockford já tem uma resposta para substituir o JS. Ele se chama E, uma criação conjunta entre Mark Miller, Crockford e outros. A nova linguagem é orientada a objetos e projetada para computação segura, “eliminando muitas das partes ruins do Java”, segundo o próprio Crockford.
O criador do JSON observa que o JavaScript é difícil de mudar, visto que, em particular, é a linguagem suportada por todo navegador para manipulação de DOM (Document Object Model).
“Há duas dificuldades. Primeiro, ainda não temos a próxima linguagem. Ela precisa ser uma linguagem de ator baseada em capacidades mínimas que seja projetada especificamente para uma programação distribuída segura. Nada menos que isso deve ser considerado. “Em segundo lugar, precisamos que todos os fabricantes de navegadores o adotem e simultaneamente substituam o DOM por uma interface bem projetada. Boa sorte com isso”.
Com informações de Dev Class e Evrone
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