Conheça o Castle Craig, a primeira clínica voltada para viciados em criptomoedas
Construída para reabilitar dependentes químicos e de jogos de azar, instituição passou a atender viciados em criptomoedasBy - Igor Shimabukuro, 4 outubro 2021 às 17:24
As pessoas já estão saturadas de propagandas e relatos de pessoas que tentam mostrar como o universo das criptomoedas pode ser algo lucrativo. No entanto, pouco se fala sobre o vício nestes ativos, que parece ter se intensificado com a popularização destes investimentos e com a quarentena oriunda da pandemia de coronavírus.
Não é preciso ir muito longe para estabelecer um paralelo com outros casos de dependência. A ambição por retornos maiores e a adrenalina que ronda uma negociação de criptomoedas podem ser comparadas aos sentimentos proporcionados pelos jogos de azar.
E assim como existem clínicas de reabilitação voltadas para viciados em jogos ou drogas, existem instituições específicas para cuidar dos usuários dependentes de criptoativos. E a organização que tem se destacado no setor é a Castle Craig, localizada na Escócia.
Castle Craig: a 1ª clínica voltada para viciados em criptomoedas
Instalada em um castelo chamativo do século XVIII, a clínica Castle Craig fica localizada a cerca de 40 quilômetros de Edimburgo, a capital da Escócia. Sua localização não foi escolhida ao acaso, já que o país tem muito mais mortes por drogas per capita do que qualquer outro na Europa.
O Caste Craig foi fundado em 1988, com foco para reabilitar dependentes químicos e viciados em jogos de azar. No entanto, a clínica afirma ser a primeira voltada para dependentes de criptomoedas e o único estabelecimento entre 2017 e 2019 para este vício específico.
Neste local, dependentes químicos, viciados em criptomoedas e em jogos de azar dividem a rotina no mesmo espaço. Apenas nicotina e cafeína são permitidas aos residentes e o uso do telefone celular é restrito a duas horas por semana, já que muitos ficam vidrados aos preços dos ativos subindo ou descendo.
O estabelecimento não só recebe diversos pacientes da Escócia e do Reino Unido, como pessoas de lugares mais distantes como Estados Unidos, Dubai, Malta, Irlanda e Holanda, por exemplo. Os valores para o tratamento não são nada baratos, mas alguns países chegam a arcar com os gastos de seus conterrâneos.
Aumento de casos preocupa
É interessante ver como uma instituição enxergou uma necessidade contemporânea e ofereceu suporte aos dependentes de ativos digitais. O grande problema é que o Castle Craig observou um aumento de pacientes viciados em criptomoedas do ano passado para cá.
Segundo Tony Marini, um dos terapeutas da clínica, as admissões em seu programa de reabilitação de criptomoedas aumentaram por um fator de 10 desde o ano passado. Atualmente, cerca de oito ou nove dos 50 pacientes da clínica são internados com este tipo de dependência.
Ainda de acordo com Marini, as principais características destes pacientes são pessoas entre 20 e 45 anos e que possuem “um pouco de dinheiro sobrando”. Aliás, ele afirma que um dos principais fatores que podem estimular esse vício está ligado à deep web.
“Normalmente, as pessoas começam porque querem comprar coisas da dark web. E a única maneira de fazer isso é com criptomoedas”, revelou.
Relações entre os vícios
Há quem diga que as dependências atendidas no Castle Craig podem estar ligadas de alguma forma. Segundo Steven Elphinstone, que chegou ao estabelecimento após ter comprado (e perdido) centenas de bitcoin, o vício em jogos de azar pode alimentar as transações de criptomoedas e as drogas mantém os investidores “ligados” por mais tempo.
Em casos de sucesso, as consequências negativas podem não ser tão aparentes assim. Mas os prejuízos podem levar o indivíduo a consumir grandes quantidades de substâncias ilícitas, casos de depressão profunda e a novas tentativas de negociação para recuperar o montante perdido.
Como resultado, o vício em criptomoedas pode desencadear em novas dependências, seja de medicamentos ou mesmo de drogas. Em alguns casos, essa dependência pelos ativos digitais pode levar os indivíduos a tentativas de roubos de criptoativos ou desvios de dinheiro para suas carteiras digitais.
Mas para o terapeuta de vícios Dylan Kerr, a dependência em criptomoedas é ainda mais grave. Isso porque, diferentemente de jogos de azar ou negociações de ações, o comércio de cripto tem disponibilidade de 24 horas por dia e sete dias por semana.
Para piorar, a alta disseminação desse mercado nas redes sociais e em propagandas pode intensificar os ânimos de quem já não tem mais controle sobre estas operações.
Temor para o futuro
Ainda segundo Kerr, uma das preocupações é que os atuais terapeutas de fanáticos por criptomoedas não conhecem tanto o mercado e, por isso, os tratamentos podem não ser tão eficazes assim.
Logo, com o crescimento do universo de criptoativos no mundo todo, os países terão que ficar de olho neste mercado e encontrar formas para mitigar o aumento de casos de dependência neste segmento. Caso contrário, as clínicas de reabilitação poderão observar cada vez mais pacientes viciados neste segmento.
Fonte: Decrypt
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