Para alguns, o Bitcoin é o futuro do dinheiro. Para outros, a mineração de criptomoedas é uma moda passageira. Independentemente disso, é inegável como a atividade tem impactado a nossa sociedade e, em alguns casos, até mesmo a geografia local.

Basta ver o que uma fazenda de mineradores virtuais está fazendo com um lago no interior do estado de Nova York, nos EUA. Por causa da operação, as águas que antes eram glaciais agora estão na mesma temperatura de uma banheira quente.

Bitcoin aquecido

O processo de cálculo de criptomoedas é altamente desgastante por utilizar um método de força bruta na hora de verificar e validar sequência de códigos distribuídos em rede. Primeiro, a atividade exige um hardware poderoso para funcionar.

É esse ponto que tem causado a escassez no mercado de placas de vídeo de alta performance, uma vez que os mineradores devoram toneladas de GPUs antes mesmo delas chegarem às mãos do público final – algo que vem sendo combatido com opções LHR, como as da Nvidia.

Banheira quente: Bitcoin muda temperatura de lago glacial nos EUA

Reprodução: Aleksi Räisä/Unsplash

Depois, há o problema do consumo de eletricidade constante para manter as máquinas funcionando 24 horas por dia, meses a fio. Hoje já se sabe, por exemplo, que, anualmente, os mineradores de cripto gastam mais energia que o Chile inteiro para obter o recurso digital.

Já se entendia o impacto que isso poderia causar no meio ambiente e na emissão de carbono de uma forma mais, digamos, global. Agora, no entanto, temos um exemplo claro de como a mineração de Bitcoin afeta regiões específicas e altera bruscamente seu ecossistema.

Negócio lucrativo

O caso do Lago Seneca é muito emblemático nesse sentido. Tido como um dos principais lagos glaciais da região e conhecido por suas águas geladas e pacíficas – ponto de encontro de moradores e turistas –, ele mudou para pior desde meados de 2019.

Banheira quente: Bitcoin muda temperatura de lago glacial nos EUA

Reprodução: Finger Lakes

Foi exatamente quando uma usina de eletricidade local foi vendida à subsidiária de uma firma de private equity. Para lucrar rápido com o negócio antes de passá-lo para a frente, a empresa resolveu que seria uma boa ideia usar o excedente de energia para minerar Bitcoins.

Foi montada, então, uma “fazenda” com ao menos 8 mil máquinas dedicadas completamente à atividade que já obteve 1.186 Bitcoins. Por ser uma usina de queima de carvão, o primeiro impacto evidente foi no aumento exponencial da emissão de carbono.

Em um ano sob a nova administração, a instalação chegou a emitir mais de 243 mil toneladas do gás poluente, um número quase 6,5 vezes maior do que o registrado no período anterior. O maior baque, no entanto, ainda estava por vir.

Banheira quente

Além do ar mais poluído, o próprio lago e seus peixes foram afetados pela mineração de Bitcoin da Atlas Holding. Isso porque a nova dona da usina de Greenhidge não só tem o direito de abusar do uso da energia local, mas também de utilizar a água do Lago Seneca.

Por contrato, ela pode retirar 526 milhões de litros de água e despejar de volta outros 511 milhões de litros todos os dias. O problema? O líquido expelido muitas vezes está em temperaturas muito mais altas do que o normal para o lago glacial.

Banheira quente: Bitcoin muda temperatura de lago glacial nos EUA

Reprodução: Nyssbc

No verão, a água devolvida chega a uma temperatura de 30ºC no inverno e até 42ºC no verão. Moradores afirmam que já sentem a água aquecida, como se fosse uma banheira quente. Isso mostra que a atividade pode estar mudando a temperatura do lago como um todo.

O receio de locais e especialistas é que esse aquecimento leve à morte de peixes e outros animais, proliferação de algas e uma alteração grave na fauna e flora da região.

Final em aberto

Ainda não se sabe se essa história terá um final feliz ou triste. De um lado, a Atlas e sua subsidiária já anunciaram que devem aumentar sua capacidade de mineração de Bitcoins nos próximos meses, podendo chegar a um uso de 500 megawatts de energia.

De outro, parte das licenças da empresa terão que ser renovadas junto ao governo em setembro, e toda comoção em torno do caso pode trazer um olhar mais crítico para a aprovação ou não desses documentos.

Seja como for, a história do Lago Seneca dá pistas do que podemos esperar da mineração de criptomoedas se ela continuar no mesmo ritmo desenfreado.

Fonte: NBC News

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