“Localização, hábitos de visualização e preferências” de até 5 milhões de crianças foram coletados ilegalmente pela plataforma de transmissão de vídeo da empresa-mãe do Google na Grã-Bretanha, segundo a ação coletiva movida pelo pai de uma delas. Agora, o processo está sob análise do regulador de informação britânico, segundo um anúncio do órgão feito na quarta-feira (1º).

O ativista e pesquisador Duncan McCann, pai de três pequenos, denunciou a prática ilegal de coleta, apresentando a queixa oficialmente ao Escritório do Comissário de Informação (ICO).

Em defesa, o YouTube diz que investe na proteção das famílias e que serviço não é destinado a crianças menores de 13 anos. Para o público infantil, a plataforma afirma que há um aplicativo exclusivo chamado YouTube Kids, além de uma “experiência supervisionada” que requer o consentimento dos pais.

YouTube é acusado de coletar dados de milhões de crianças ilegalmente

Imagem: Myndalion/Shutterstock.com

McCann afirma que dados sobre o que assistem, onde assistem e qual dispositivo usam para isso é coletado pela plataforma. Ele observa que muitas crianças, ao assistirem ao conteúdo do YouTube em dispositivos compartilhados pela família, podem ter os dados coletados por padrão, já que não são registrados como conta de criança.

Em uma declaração, ele diz que o YouTube deveria mudar o design da plataforma e apagar os dados que vinha coletando. “É uma experiência social maciça, não licenciada, sobre nossas crianças com consequências incertas”, disse McCann.

“Minha reforma de preferência que o YouTube deve fazer, na prática, quando você entra no site, é não coletarem nenhuma informação desnecessária e não processarem nenhuma informação desnecessária”, disse o ativista do grupo 5Rights Foundation, que tem defendido o código infantil do ICO, introduzido em 2020. “A melhor maneira de garantir que eles estejam coletando apenas os dados dos adultos que estão consentindo corretamente seria ter um processo no qual os adultos possam entrar nos sistemas de rastreamento, recomendação, perfil, anúncios direcionados”. Embora acredite que “uma minoria” de usuários optariam por fazer isso.

Uma legislação de proteção às crianças a conteúdos nocivos, que atualmente tramita no parlamento britânico, tem recebido críticas por parte da comunidade defensora da privacidade e liberdade de expressão, visto que a proposta pretende usar backdoor de criptografia para monitorar conteúdos, identificar aqueles que seriam prejudiciais ao público infantil e excluí-los. Recentemente, o Signal se pronunciou sobre a decisão de deixar o país caso o projeto venha a ser aprovado.

Google

Imagem: Trac Vu/Unsplash

O código infantil do ICO foi introduzido em 2020, com prazo de um ano para as empresas de tecnologia se adaptarem. De acordo com os termos, os serviços devem fornecer alto nível de privacidade e não usar recursos de design que as incentivem a fornecer mais dados.

Na época, o YouTube disse que desativaria a reprodução automática dos vídeos por padrão e bloquearia a segmentação e personalização de anúncios para todas as crianças.

As companhias que violarem o código correm risco de enfrentar multas milionárias, semelhantes às penalidades por violação das leis de proteção de dados.

Nos Estados Unidos, o YouTube foi multado em US$ 170 milhões pela Comissão Federal do Comércio (FTC) por violar as leis de privacidade de crianças ao coletar seus dados pessoais de forma ilegal. Embora não tenha admitido responsabilidade, pagou a penalidade bem como aplicou algumas mudanças nas práticas comerciais. “A solução existe, eles só precisam retirá-la da caixa de ferramentas”, comentou Stephanie Hare, autora do livro ‘Technology is Not Neutral’.

 

Com informações BBC e Reuters

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