Worldcoin: reguladores questionam legalidade de armazenamento de dados biométricos de projeto do criador do ChatGPT
Projeto de criptomoeda biométrica da íris foi lançada na segunda-feira (24) passada pelo CEO da OpenAI, criadora das variantes GPTBy - Liliane Nakagawa, 31 julho 2023 às 16:11
O novo projeto de moeda digital do CEO da OpenAI, a Worldcoin, lançada na semana passada, já enfrenta investigações em diversas partes do mundo, incluindo Reino Unido, França e Alemanha. De acordo com os reguladores locais, a coleta de dados biométricos em troca de uma identidade digital levanta preocupações com relação à privacidade dos usuários.
Na segunda-feira (24), Sam Altman lançou a Worldcoin, projeto de moeda digital que exige o escaneamento da íris dos usuários. Ao ceder o dado sensível, os usuários obtêm uma identificação digital — capaz de permitir, entre outras coisas, desses se provarem humanos online — ou, em alguns países, alguns tokens da criptomoeda. De acordo com a empresa, o objetivo é parte de um plano para criar uma nova “rede financeira e de identidade” e já conta com 2,1 milhões de pessoas cadastradas, a maioria em um teste nos últimos dois anos.
A prática da Worldcoin, no entanto, atraiu a atenção dos reguladores na Europa logo após o lançamento do projeto.
França questiona legalidade da coleta e armazenamento de dados biométricos
À Reuters, o órgão fiscalizador de privacidade francês CNIL expressou preocupação para com o projeto. “A legalidade dessa coleta parece questionável, assim como as condições de armazenamento de dados biométricos”, respondeu ao questionamento da agência na sexta-feira (28).
De acordo com o regulador, as investigações que já estavam em curso revelaram que o estado alemão da Baviera tinha jurisdição. Desde então, a autoridade bávara está conduzindo a tarefa com apoio da CNIL, acrescentou o órgão de fiscalização.
Na mesma semana, o regulador britânico disse que vai questionar a empresa de Sam Altman após o lançamento.
Segundo a Worldcoin Foundation, o projeto é supervisionado na União Europeia pelo Escritório Estadual da Baviera para Supervisão de Proteção de Dados. A entidade é descrita como “administrador do protocolo Worldcoin” e baseada nas Ilhas Caimã.
Alemanha investiga companhia responsável por Worldcoin
As investigações do Bavarian State Office para Supervisão de Proteção de Dados, na Alemanha, começaram em novembro do ano passado devido a preocupações em relação ao intuito do projeto que busca processar “dados confidenciais em uma escala muito grande” usando novas tecnologias, disse Michael Will, presidente do órgão regulador estadual, à Reuters por e-mail na sexta-feira.
O estado é o principal autoridade nas investigações sob as regras de proteção de dados da União Europeia pelo local estabelecer a subsidiária alemã da empresa por trás da Worldcoin, a Tools For Humanity.
“Essas tecnologias, à primeira vista, não estão estabelecidas nem são bem analisadas para o objetivo central específico do processamento no campo da transferência de informações financeiras”, disse Will.
Ele acrescenta que isso leva a vários riscos, inclusive se os usuários deram consentimento explícito para que seus dados biométricos altamente confidenciais sejam processados com base em informações “suficientes e claras”.
Dinheiro ‘de graça’?
Desde que o projeto foi lançado, mais de dois milhões de pessoas em 120 países tiveram as faces escaneadas pela esfera brilhante por sites de inscrição em todo o mundo.
Para muitos usuários, a promessa de ganhos financeiros com as moedas criptográficas foi suficiente para fazê-los entregar seus dados pessoais, embora defensores da privacidade já alertem há muito tempo sobre preocupações geradas por coleta e armazenamento em larga escada de dados biométricos, o que poderia aumentar a vigilância e visar determinados grupos demográficos.
À Reuters, alguns usuários disseram que ponderaram tais preocupações com a coleta de dados em relação à curiosidade para com o projeto. “Há um risco de ter os dados de seus próprios olhos coletados por uma empresa, mas eu gosto de acompanhar os projetos de criptografia mais atualizados”, disse Saeki Sasaki, 33. “Eu estava um pouco assustado, mas agora já fiz isso e não posso voltar atrás.”
Outro usuário, um estudante de engenharia química, 22, que investiu parte do empréstimo estudantil em criptomoedas, disse que calculou que os 25 tokens gratuitos poderiam ser vendidos por US$ 70 a US$ 80 nos preços atuais. “Falei com meu irmão sobre isso hoje de manhã. Eu disse a ele ‘é dinheiro grátis, você quer vir comigo para pegar?”, comentou.
A organização com foco na proteção de liberdade civil Electronic Privacy Information Center chamou a coleta de dados da Worldcoin de um “potencial pesadelo de privacidade”.
Já o Big Brother Watch, grupo de campanha de privacidade do Reino Unido, disse que havia o risco de os dados biométricos serem acessados indevidamente e explorados.
Dois dos usuários entrevistados pela agência disseram não ter lido a política de privacidade do serviço, a qual informa que os dados podem ser repassados para subcontratados e podem ser acessados por governos e autoridades. A Worldcoin afirma também que toma medidas para mitigar os riscos e usa criptografia para impedir o acesso não autorizado.
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