Unity vai forçar ‘taxa de instalação’ para gamedevs e causa revolta na rede
Profissionais e apoiadores afirmam que medida da Unity pode acabar com gratuidades, demos e forçar estúdios à falênciaBy - Rafael Arbulu, 13 setembro 2023 às 13:29
Uma nova política anunciada pela Unity causou revolta na comunidade de desenvolvedores de jogos: de acordo com anúncio da empresa, agora será cobrada dos chamados ‘gamedevs’ uma ‘taxa de instalação’ chamada ‘Unity Runtime Fee’, que segundo os queixosos, vai causar diversos problemas à comunidade jogadora.
De acordo com a Unity, a taxa em questão será cobrada a partir de qualquer instância baixada e implementada de um jogo que tenha sido desenvolvido pela ferramenta gráfica. A medida também vale para betas e demos, não apenas para jogos completos já lançados, e também contempla jogos que já estão há muito no mercado.
Pela explicação da empresa, a Unity se separa em duas ferramentas distintas, o Unity Editor e o Unity Runtime. Esta segunda faz com que os jogos feitos pelo motor gráfico rodem sem problemas nos dispositivos dos usuários. E a taxa é mais sobre ela: a fim de rodar código que seja contemplado “por bilhões de downloads mensais”, a Unity tem que despender uma estratégia de estrutura bastante robusta.
O problema: por “instâncias”, a Unity está essencialmente cobrando o desenvolvedor de jogos por toda e qualquer instalação ou reinstalação de jogo. Baixou um jogo e o instalou? Cobrança no gamedev. Deletou o arquivo e o baixou de novo meses depois? Nova cobrança. Colocou a demo de um jogo em Unity na sua plataforma? Tarifa. Baixou uma versão beta para testes? Cobrança.
Obviamente, os desenvolvedores de jogos não gostaram da notícia e, com o crescimento da discussão, rapidamente a notícia tomou as manchetes, contra a Unity: do PC Gamer, ao IGN, ao Eurogamer, até em canais brasileiros como o nosso, o Adrenaline, MeuPlayStation e Drops de Jogos – para citar alguns – a situação mostrou a insatisfação dos desenvolvedores, que agora estão urgindo, veja só, para que gamers não instalem seus jogos.
E engana-se quem pensar que isso é algo a afetar apenas os indies menos conhecidos. Grandes sucessos como Cult of the Lamb, da Supermassive; e The Fall, do Over The Moon Games, por exemplo, tiveram “uns pitacos” sobre a discussão:
Buy Cult of the Lamb now, cause we're deleting it on Jan 1st. ? https://t.co/nSWg9DP0sh
— Cult of the Lamb (@cultofthelamb) September 12, 2023
“Compre Cult of the Lamb agora, porque vamos deletá-lo em 1º de janeiro”
Hey @unity , our game "The Fall" was on the @EpicGames as a free game – I was quite happy to sell them the rights for peanuts and the game was installed like 7 million fucking times. How do you propose this will work? I'd owe you more money than I've made in my life.
— Over The Moon Games (@OverTheMoonGms) September 12, 2023
“Oi, Unity. O nosso jogo, The Fall, estava disponível na Epic Games [Store] de forma gratuita – eu fiquei bem feliz de vender a eles os direitos do jogo por um preço baixo e o jogo foi instalado umas 7 milhões de vezes. Como você propõe que isso vá funcionar? Eu ia ficar te devendo mais dinheiro do que ganhei na minha vida toda!”
Outros, como o consultor e palestrante do setor, Rami Ismail, preferiram ressaltar o impacto que isso trará ao consumidor, que, embora não vá pagar nada dentro das tarifas da empresa, sofrerá as consequências a serem determinadas pelos estúdios que pagarão:
Just as a note, gamers, the Unity changes mean the following for you:
– Demos are now risky to devs
– DRM-free games are now risky to devs
– Bundles are now risky to devs
– Giveaways are now risky to devs
– Updates are now risky to devs
– Multi-device users are now risky to devs— Rami Ismail / رامي (@tha_rami) September 12, 2023
“Só para deixar claro, gamers, as mudanças da Unity implicam no seguinte para vocês:
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Demos serão um risco para devs
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Jogos sem DRM serão um risco para os devs
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Pacotes especiais serão um risco para os devs
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Sorteios serão um risco para os devs
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Atualizações serão um risco para os devs
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Usuários multiplataforma serão um risco para os devs”
Unity (meio que) recuou da ideia, mas a taxa ainda existe
Pelo seu perfil no X (ex-Twitter), a Unity decidiu prestar esclarecimentos relacionados à nova taxa, afirmando que ela não se aplicará a todos os gamedevs e endereçando outros questionamentos. O posicionamento da empresa segue na íntegra logo abaixo:
Today we announced a change to our business model which includes new additions to our subscription plans, and the introduction of a Runtime fee. We wanted to provide clarifying answers to the top questions most of you are asking.
Yes, this is a price increase and it will only…
— Unity (@unity) September 12, 2023
“Hoje [ontem, 12], nós anunciamos uma mudança em nosso modelo de negócios, que agora inclui novas opções de planos de assinatura e a introdução de uma taxa de instalação. Nós gostaríamos de oferecer respostas mais claras para algumas das perguntas mais evidentes que vocês têm feito.
Sim, este é um aumento de preço que afetará apenas uma pequena parcela dos usuários atuais do Unity Editor.
Atualmente, uma grande maioria dos usuários do Unity Editor não estão pagando nenhuma tarifa e não serão afetados por esta mudança. A taxa de instalação do Unity Runtime não impactará a maior parte dos desenvolvedores.
Os desenvolvedores impactados serão, na maior parte, aqueles que já têm jogos bem-sucedidos publicados, que já estejam gerando receita muito além daquelas contempladas pelas limitações mencionadas em nosso blog. Isso significa que desenvolvedores que ainda estão construindo seus negócios e agregando público para seus jogos não pagarão nada. O programa foi desenhado especificamente para assegurar que desenvolvedores possam encontrar sucesso antes que a taxa de instalação seja efetivada.
Nós queremos ser muito claros quando afirmamos que a contagem para instalações da tarifa começará apenas em 1º de janeiro de 2024 – e que ela não será nem retroativa, nem perpétua. Nós a cobraremos apenas no caso de uma nova instalação, não é um royalty de licença, como se faz no compartilhamento de receita.
Nós procuramos por formas de reduzir o impacto aos desenvolvedores, e oferecer formas de levar a tarifa a, eventualmente, zero. Se você está usando qualquer um de nossos produtos de publicidade, Gaming Services ou serviços de nuvem, por favor entre em contato conosco para discutirmos descontos.”
Ao Eurogamer, a Unity ainda expandiu, afirmando que, no caso de jogos publicados em plataformas como a PlayStation Plus ou o Game Pass, a empresa cobrará as fabricantes das plataformas (Sony e Microsoft, respectivamente), não os gamedevs. No entanto, isso faz pouco para dissuadir, por exemplo, as duas companhias de repassarem estes custos ao usuário final (e a PlayStation Plus já teve, por conta própria, um aumento recente e bem abusivo confirmado).
A equipe do blog KaBuM! buscou a assessoria de imprensa da companhia para esclarecer outros pontos ainda nebulosos em toda a discussão. Nós também fomos atrás de alguns dos desenvolvedores que reclamaram da situação e publishers de jogos mundialmente conhecidos que tenham a Unity no seu rol de tecnologias de desenvolvimento. Quando tivermos qualquer resposta, vamos atualizar o leitor.
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