Twitter adia verificação por assinatura (de novo)
Novo formato do Twitter chegou na última semana, mas aparição de vários “fakes verificados” evidenciaram um problema que muitos já esperavamBy - Rafael Arbulu, 16 novembro 2022 às 14:01
O óbvio aconteceu e, por isso, o Twitter decidiu adiar a sua função “pague para ser verificado”, levada ao ar pela rede social na última semana. Assim como muita gente antecipou, a chegada da novidade apenas serviu para que vários usuários pagantes ganhassem o selo para montar contas falsas – “fakes verificados” se você preferir.
Por causa do problema (e de muita briga de Elon Musk com muita gente), o Twitter decidiu adiar – mais uma vez – a funcionalidade, e agora mesmo aqueles que já pagaram só terão acesso a ela a partir de 29 de novembro.
Punting relaunch of Blue Verified to November 29th to make sure that it is rock solid
— Elon Musk (@elonmusk) November 15, 2022
Apenas para recapitular: rumores davam conta da chegada do serviço, Musk confirmou a mudança, Musk adiou a mudança, Musk lançou a mudança e, agora, Musk adiou a mudança uma segunda vez, dizendo que a data escolhida é para “garantir que ele esteja firme”.
Em um tuite subsequente, Musk respondeu ao questionamento de um usuário, relacionado aos usuários que já são verificados desde antes da implementação do programa. Chamando o sistema antigo de “legado”, o bilionário confirmou que todos os verificados não pagantes vão perder o selo “nos próximos meses”.
All unpaid legacy Blue checkmarks will be removed in a few months
— Elon Musk (@elonmusk) November 16, 2022
O último final de semana da nova gestão do Twitter, para Elon Musk, não foi muito diferente dos dias anteriores: uma plena dor de cabeça. Na última sexta-feira (11), o senador norte-americano Ed Markey relatou, pelo seu perfil na rede social, que o jornal Washington Post conseguiu usar o novo formato do serviço por assinatura para criar uma conta verificada falsa com o seu nome. Na postagem, o político questionou o CEO:
A @washingtonpost reporter was able to create a verified account impersonating me—I’m asking for answers from @elonmusk who is putting profits over people and his debt over stopping disinformation. Twitter must explain how this happened and how to prevent it from happening again. pic.twitter.com/R4r7p6mduP
— Ed Markey (@SenMarkey) November 11, 2022
“Estou esperando por respostas de Elon Musk, que está colocando lucros à frente das pessoas e suas próprias dívidas à frente do combate à desinformação. O Twitter deve explicar como isso pode acontecer e como prevenir isso de acontecer de novo.”
Musk, em um momento impensado, respondeu com deboche, chamando a conta do senador de paródia, seguido de outro tirando sarro do fato da foto do perfil do senador mostrá-lo usando uma máscara de proteção contra a COVID-19. Isso…não acabou bem: Markey não é apenas senador pelo estado de Massachusetts, como também preside o Comitê de Comércio, Ciência e Transporte (e todos os seus vários subcomitês).
O órgão em questão é justamente a área do Senado estadunidense que investiga diversas empresas de vários setores – incluindo algumas sob controle de Musk, como a Tesla e a SpaceX. O senador, aliás, fez questão de lembrar que as agruras judiciais vividas por algumas dessas companhias estão, veja só, sob análise pendente do órgão:
One of your companies is under an FTC consent decree. Auto safety watchdog NHTSA is investigating another for killing people. And you’re spending your time picking fights online. Fix your companies. Or Congress will. https://t.co/lE178gPRoM
— Ed Markey (@SenMarkey) November 13, 2022
“Uma de suas empresas está sob decreto permissivo emitido pela FTC. O órgão de supervisão de segurança automotiva NHTSA está investigando a outra por ela matar pessoas. E você está gastando seu tempo arrumando brigas online. Conserte suas empresas. Ou o Congresso fará isso por você.”
“FTC” é a sigla em inglês para “Comissão Federal de Comércio”. Musk não respondeu ao último tuíte do senador.
Markey é do Partido Democrata e Musk, embora se declare um “libertário independente politicamente moderado”, vem se alinhando mais e mais com o Partido Republicano nos últimos anos – ele, inclusive, fez parte de um comitê tecnológico inicial elaborado pelo ex-presidente Donald Trump, embora ele tenha ficado na posição menos de um mês.
Vale lembrar que as eleições de meio termo – justamente aquela que decide as cadeiras do Senado e da Câmara dos Representantes (os dois braços que formam o Congresso dos EUA) – estão sob controle majoritário dos democratas.
Além dos “fakes verificados”, Musk luta para justificar demissões no Twitter
Segundo Elon Musk, o novo sistema de verificação ajudará a coibir a desinformação, embora ele não tenha explicado, ainda, como isso deve ocorrer e, até agora, todas as situações apontam justamente o contrário. Entretanto, outro fato colocou o discurso de liberdade de expressão do CEO em xeque.
Em um tuíte, Musk havia “pedido desculpas” pela lentidão do Twitter em alguns países, justificando isso como um excesso de funcionalidades subutilizadas na versão do app da rede para Android, atacando também o time responsável por elas antes de sua gestão.
O engenheiro de software Eric Frohnhoefer, parte do time questionado, respondeu publicamente sobre como ele trabalhou na empresa por seis anos e afirmou categoricamente que Musk estava errado. Quando o CEO pediu explicações sobre as lentidões, Frohmhoefer publicou um longo fio detalhando toda a parte técnica, além de relatar sugestões de melhoria.
Após um usuário favorável a Musk afirmar que funcionários não deveriam questionar seus chefes publicamente, o próprio CEO o respondeu afirmando que havia sido despedido. Ele também afirmou que implementaria várias mudanças sugeridas pelo recém-demitido. Vale lembrar que diversos especialistas do setor afirmaram que o que Musk disse sobre as lentidões estava factualmente errado.
O Twitter não confirmou a demissão, mas o perfil do desenvolvedor agora conta com “ex-Twitter” em sua biografia. E ele próprio deu uma entrevista ao Platformer sobre o caso:
“Eu não achei que me excedi. Eu acho que meus tuítes explicando os problemas foram bastante profissionais. Infelizmente, o Sr. Musk estava mais interessado nas minhas respostas debochadas aos seus seguidores.”
Frohnhoefer refere-se a alguns seguidores de Musk que o abordaram dizendo que isso deveria ser discutido de forma privada, ao que ele respondeu que concordava, ressaltando que o próprio Musk poderia ter tocado no assunto via Slack ou e-mail e tratado tudo internamente ao invés de “jogar meu time debaixo de um ônibus”.
A situação toda adiciona mais “lenha à fogueira” em relação às demissões promovidas por Musk: nas últimas três semanas, o bilionário demitiu milhares de funcionários do Twitter, no intuito de cortar custos. A ação lhe rendeu o primeiro processo trabalhista e, teoricamente mal calculada, fez com que a empresa chamasse parte deles de volta devido a dificuldades de operação de rotina.
Mais além, Musk também ordenou a demissão de diversos funcionários terceirizados, efetivamente cancelando benefícios como planos de saúde sem aviso prévio. O problema: alguns destes terceirizados incluem mulheres em vários estágios de gravidez, que agora se encontram “na correria” por um plano de saúde que possa recebê-las enquanto o Twitter não envia todas as informações necessárias para processar suas saídas da companhia.
via WCCFTech | Variety | Daily Mail | Platformer
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