A pandemia trouxe diversos desdobramentos para a saúde, mas em especial também modificou profundamente as prioridades que as pessoas colocam em relação ao trabalho. Nesse sentido, hoje, 71% dos profissionais brasileiros estão optando por trabalhos e lugares que permitam a eles colocar em primeiro lugar a saúde e o bem-estar, segundo dados do Índice de Tendências do Trabalho, divulgado anualmente pela Microsoft. Para este último estudo, o índice analisou as nuances relativas ao trabalho híbrido.

Quando analisado apenas a América Latina, o percentual apontado pelo levantamento é similar: 70% dos funcionários estão optando por priorizar a saúde e o bem-estar, contra 53% dos trabalhadores em geral, olhando do ponto de vista global.

Imagem foca em uma mão segurando um smartphone, ao lado aparecem algumas pessoas borradas

Imagem: ROBIN WORRALL/Unsplash

Além disso, o estudo aponta outro fato curioso: 44% da Geração Z e dos Millennials no Brasil estão propensos a considerar mudar de emprego ainda neste ano, em busca de uma posição que os permita dar prioridade à qualidade de vida.

Na comparação com o restante do mundo, o percentual brasileiro é relativamente menor: 52% na média global e 47% da média na América Latina — essa última região, aliás, registrou um aumento de 3% em relação ao ano anterior.

Os dados acima são referentes a cinco tendências traçadas pela Microsoft sobre como os trabalhadores hoje encaram a equação do que “vale a pena” considerar quando o assunto é trabalho versus qualidade de vida.

“Não há como apagar a experiência vivida e o impacto duradouro dos últimos dois anos, pois a flexibilidade e o bem-estar se tornaram inegociáveis para os funcionários. Ao abraçar e se adaptar a essas novas expectativas, as organizações podem direcionar suas equipe e negócios para o sucesso no longo prazo”, acredita Jared Spataro, vice-presidente corporativo de Trabalho Moderno da Microsoft.

As outras quatro tendências incluem:

Gestores se sentem presos entre liderar atender às expectativas de funcionários

Em geral, 50% dos líderes globais dizem que sua empresa está planejando um retorno ao trabalho presencial em tempo integral durante os próximos 12 meses – no Brasil, a porcentagem cai para 47%.

No entanto, 52% dos funcionários globais provavelmente irão considerar a transição para um modelo híbrido ou remoto em sua função atual nesse mesmo período. Por aqui, o número é ainda maior: 58% dos brasileiros estão considerando essa transição.

No Brasil, 34% dos gestores dizem que a liderança em sua empresa está desalinhada com as expectativas dos funcionários, e 73% declaram que não têm influência ou recursos para promover mudanças em suas equipes. Na América Latina, as porcentagens aumentam para 43% e 75%, respectivamente.

Por outro lado, 85% dos funcionários brasileiros afirmam que sua produtividade permaneceu a mesma ou melhorou em relação ao ano passado – o número é o mesmo para a América Latina, e 81% foi o registrado para a média global.

Mas, do ponto de vista da liderança, 27% dos líderes brasileiros sentem que a produtividade sofreu impacto negativo desde que o trabalho se tornou remoto/híbrido (versus 39% na América Latina e 54% na média global).

Líderes precisam fazer o deslocamento até o escritório valer a pena

Ao todo, 54% dos líderes globais estão atualmente focados — ou estarão dentro do próximo ano — na reformulação das salas de reunião para serem mais amigáveis ao trabalho híbrido, adicionando tecnologias e mudando o layout/mobiliário para atender a essa demanda.

Afinal, um dos principais desafios (apontado por 38% dos funcionários híbridos) é justamente saber quando e por que ir até o escritório. Na América Latina, esse percentual corresponde a 39%.

Apenas 28% dos líderes criaram acordos com a equipe para definir essas novas normas do ponto de vista global, contra 26% do ponto de vista regional. No Brasil, essa porcentagem aumenta para 31%.

Videoconferência

Reprodução: Chris Montgomery/Unsplash.com

O trabalho flexível não precisa significar estar sempre conectado

Há uma certa confusão quando se fala de trabalhar de forma remota. Especialmente no Brasil, em que há uma crença cultural de que o trabalho longe dos “olhos vigilantes da chefia” irá resultar em piora no desempenho — o que não é uma verdade, salvo exceções.

Mas essa falta de cultura em torno do trabalho híbrido ou remoto e também das entregas assíncronas resulta na necessidade de “estar sempre conectado”, o que causa conflitos que, em última instância, acarretam em baixo desempenho.

Por exemplo: o estudo da Microsoft aponta que o tempo semanal de reuniões para o trabalhador médio do Teams aumentou 252% —, mesmo depois de dois anos de pandemia e de estruturação do trabalho remoto. Além disso, chats enviados a cada semana aumentaram 32% — número este que ainda está crescendo, segundo o levantamento.

Mais tempo em reuniões e conversas de alinhamento não necessariamente resulta em trabalhos executados com maior qualidade. Os números apontam apenas que interrupções feitas por demandas do próprio trabalho estão mais recorrentes e isso pode trazer consequências nas entregas.

Dados que corroboram com essa premissa: o período considerado para um dia de trabalho aumentou globalmente em 46 minutos. Além disso, o trabalho pós-expediente e as demandas executadas aos finais de semana aumentaram 28% e 14%, respectivamente.

Reconstruir o capital social parece diferente em um mundo híbrido

Com 51% do total de trabalhadores híbridos pesquisados considerando uma mudança para o modelo totalmente remoto no próximo ano (sendo 58% na América Latina e o mesmo número no Brasil), as empresas não podem depender apenas do escritório físico para recuperar o capital social perdido nos últimos dois anos.

O criar uma cultura forte e sustentável, que esteja alinhada entre todos os funcionários mesmo que eles não estejam fisicamente no mesmo lugar, de fato, é um dos entraves percebidos nessa nova realidade.

Tanto que 42% dos líderes da América Latina e 34% dos líderes do Brasil dizem que a construção de relacionamentos é o maior desafio de ter funcionários trabalhando de forma híbrida ou remota.
Desses, 53% na América Latina e 39% no Brasil demonstram preocupações com relação aos novos funcionários.

A impressão dos respondentes é que, estando todos trabalhando de forma remota/híbrida, os novatos podem não estar recebendo conexão e suporte necessários para serem bem-sucedidos em suas tarefas.

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