“Sindicatos não prestam”: documento revela mais sobre estratégia anti-união do Google
Projeto Vivian foi criado pela empresa para dissuadir os funcionários de se sindicalizarem após onda de ativismo dos trabalhadores em 2018By - Liliane Nakagawa, 11 janeiro 2022 às 21:03
Um documento interno sobre os esforços do Google em eliminar o ativismo, em particular sindicatos formados pelos funcionários da empresa, foi divulgado recentemente. Na sexta (7), uma ordem apresentada por um juiz de direito administrativo do Conselho Nacional de Relações Trabalhistas pede ao Google que entregue ao advogado representante de funcionários atuais e antigos os documentos relacionados ao Projeto Vivian e à contratação de uma consultoria para aconselhar empregadores a lutarem contra os esforços de sindicalização.
O Projeto Vivian foi criado pelo Google com o propósito de dissuadir os funcionários de se unirem a sindicatos após a onda de ativismo dos trabalhadores no fim de 2018. De acordo com trechos do documento, a missão do Projeto Vivian é “envolver mais positivamente os empregados e convencê-los de que os sindicatos não prestam”. O contexto da descrição feita pelo diretor de leis trabalhistas do Google, Michael Pfyl, não está clara na ordem apresentada, que também faz referência ao esforço de usar a mídia para divulgar discretamente o ponto de vista da gigante das buscas sobre os locais de trabalho técnicos sindicalizados.
Amazing turnout at NYC #GoogleWalkout pic.twitter.com/yujcUzoRcO
— Diana Scholl (@dianascholl) November 1, 2018
A ordem do juiz Paul Bogas ao Google inclui o cumprimento de partes de uma intimação de documentos do Projeto e contratação da empresa antissindical IRI Consultants. Uma ordem semelhante em relação a outros documentos do mesmo projeto e ao contrato com a IRI foram emitidos por Bogas em novembro passado; ao todo, mais de 1.500 documentos constam na intimação.
A ação judicial data de dezembro de 2019, e é parte do caso da NLRB trazido por sete funcionários e ex-empregados do Google. Após a onda de ativismo dos trabalhadores, cinco deles foram demitidos e dois encaminhados para serem disciplinados após se envolverem com questões sindicais, que incluíam melhorar as condições de trabalho dos empreiteiros da empresa em forma de petição ao Google pedindo o término de contrato com agências governamentais estadunidense envolvidas em separação familiar e deportação de imigrantes. Um dos funcionários demitidos que apresentou a acusação, Paul Duke, diz que a organização foi parte de um esforço para lançar bases de um sindicato.
Em resposta às alegações de demissões em retaliação à organização do local de trabalho, um porta-voz do Google escreveu que “o caso subjacente aqui não tem nada a ver com sindicalização. Trata-se de funcionários que violam protocolos claros de segurança para acessar informações confidenciais e sistemas de forma inadequada” — referindo-se a documentos internos acessados por funcionários.
Entretanto, de acordo com Duke, os documentos citados pelo porta-voz do Google eram acessíveis a todos os engenheiros e que posteriormente foram classificados como de “conhecimento necessário” pela empresa.
Em objeção às intimações, a companhia alegou privilégio advogado-cliente e “privilégio do produto do trabalho”, o qual protege o material preparado em antecipação ao litígio. Muitas destas reivindicações foram rejeitadas pelo juiz do caso, frisando os esforços do Google em caracterizar uma possível eleição sindical como litígio, e portanto, privilegiada. “O respondente não pode transformar o mero fato de um esforço de organização nascente entre os funcionários em ‘litígio’ – como palha girada em ouro – que lhe dá o direito de camuflar em privilégio todos os aspectos de sua campanha antissindical”, escreveu o magistrado.
Em contexto, Bogas se refere ao esforço dos executivos do Google, incluindo a conselheira corporativa Christina Latta, para “encontrar uma ‘voz respeitada para publicar um editorial delineando como seria um local de trabalho tecnológico sindicalizado”, além de exortar funcionários de outras gigantes da tecnologia como Facebook, Microsoft, Amazon e Google a não se sindicalizarem. Ainda segundo a ordem, em uma mensagem interna, Kara Silverstein, diretora de RH do Google, afirmou a Latta que aprovava a ideia, “mas que ela deveria ser feita para que ‘não houvesse impressões digitais e não específicas do Google'”. Mais tarde, a consultoria IRI forneceu uma rascunho de proposta do editorial à conselheira corporativa; não se sabe se o texto foi publicado alguma vez.
Em resposta à conclusão do juiz, um porta-voz do Google disse que a empresa não concordava de que os documentos não são privilegiados. “Como já declaramos, nossas equipes se envolvem com dezenas de consultores externos e escritórios de advocacia para nos fornecer conselhos sobre uma ampla gama de tópicos, incluindo as obrigações do empregador e o envolvimento dos funcionários. Isto incluiu os Consultores do IRI por um curto período. Entretanto, tomamos a decisão em 2019 de não utilizar os materiais ou ideias exploradas durante esse engajamento, e ainda sentimos que essa foi a decisão correta”.
Via Wired
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