Quando a Microsoft anunciou a compra da Activion Blizzard por módicos US$ 68,7 bilhões — em uma transação que é considerada hoje a maior até o momento para o setor de TI e games —, o mercado não apenas foi atingido em cheio pelo o que a negociação poderia significar em termos de concorrência, mas também foi uma surpresa para muitos visto que a desenvolvedora estava passando por um momento crítico.

Só para relembrar: a empresa chegou a ser processada pelo estado da Califórnia, nos Estados Unidos, após denúncias que acusavam o estúdio de promover esse ambiente tóxico e extremamente machista para mulheres — o que culminou também, por exemplo, no banimento da empresa para participar no Game Awards de 2021. Tudo isso é assunto conhecido da época antes da compra pela Microsoft.

O que pode ser uma surpresa é que a própria gigante de Redmond selou o acordo de compra apenas três dias após ser divulgado que o CEO da companhia, Bobby Kotick, sabia dos casos de assédio sexual e estupro que ocorreram na empresa, além de contribuir para omiti-los, segundo reportagem feita à época pelo Wall Street Journal.

Microsoft e Activision Blizzard, a negociação

Isso é o que mostra um recente relatório regulatório, que mostra a linha do tempo sobre como o acordo entre as empresas ocorreram.

No mesmo mês em que a reportagem do jornal estadunidense foi publicada, o chefe do Xbox, Phil Spencer, chegou a afirmar que a empresa estava reavaliando seu relacionamento com a Activision Blizzard e que os líderes da empresa estavam “perturbados e profundamente preocupados com os eventos e ações horríveis”.

E toda essa reavaliação aparentemente resultou na compra: segundo informações do arquivo da Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos EUA e identificado pela CNBC, foi apenas um dia depois da afirmação de Spencer que o executivo ligou para Kotick e iniciou todo o processo.

De acordo com o documento, a linha do tempo pode ser resumida no seguinte:

  • Em 16 de novembro: divulgada a matéria do WSJ sobre o caso de má conduta de Kotick;
  • Em 18 de novembro: Spencer declarou que a Microsoft estaria reavaliando o relacionamento com a Activision Blizzard em decorrência do divulgado;
  • Em 19 de novembro: Spencer entrou em contato com Kotick para discutirem a relação
  • Em 20 de novembro: Satya Nadella, CEO da Microsoft, entrou em contato com Kotick com a intenção de “explorar uma combinação estratégica com a Activision Blizzard”.

O momento, inclusive, foi bem oportuno. Por conta das acusações, as ações da desenvolvedora tinham entrado em declínio e chegou a atingir uma baixa de 11% pouco depois da reportagem do WSJ.

O documento também mostra que ao menos quatro outras empresas entraram em contato com a Activision Blizzard, com o mesmo interesse em adquirí-la, mas nenhuma delas foi nomeada no relatório do SEC.

Ainda dentro dos termos do acordo, a Microsoft também concordou em pagar à Activision Blizzard uma rescisão de até US$ 3 bilhões no caso de complicações regulatórias que possam resultar na não conclusão do acordo — algo que atualmente, com o ambiente regulatório bastante delicado na tecnologia, pode ser uma possibilidade real, como aconteceu recentemente com a Nvidia e a ARM.

Até o momento, o acordo ainda está em andamento e apuração. A expectativa é de que ele seja concluído no ano fiscal da Microsoft, encerrado em 30 de junho de 2023. A intenção com a compra é ampliar os esforços na área de games.

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