Metaverso: trend passageira ou algo que veio pra ficar?
Ainda que pesquisas apontem para um aumento genuíno de interesse das pessoas em relação ao metaverso, o fato é que são poucas aquelas que, de fato, conseguem explicar e/ou atuam em projetos já existentes nesse ambienteBy - Alessandra Montini, 26 dezembro 2022 às 18:21
Foi em outubro de 2021 que Mark Zuckerberg, o homem por trás do conglomerado do Facebook, surpreendeu o mundo ao anunciar uma súbita mudança de marca. A partir daquele momento, a empresa em si seria conhecida por Meta, uma redução para metaverso. De lá para cá, o tema ganhou espaço e destaque na cobertura midiática e, rapidamente, diversos projetos surgiram para consolidar a proposta no mercado nacional. Contudo, ainda há players importantes que continuam céticos em relação ao assunto.
Não são poucas as organizações reticentes quanto à ideia e à atuação do metaverso – seja por receio jurídico ou simplesmente por um posicionamento comercial. Não bastasse isso, a falta de apoio não vem de startups em evolução, mas de duas das seis Big Techs, responsáveis por controlar grande parte de nossa interação digital. Apple e Microsoft se mantêm distantes de qualquer projeto do tipo. Essa última, aliás, chegou a dizer que se tratava de um “jogo eletrônico malfeito”.
O temor se justifica. Apple e Microsoft são corporações com vivência suficiente no setor para não abraçarem logo de cara qualquer ideia que surja como inovadora. Quantas tendências “revolucionárias” ficaram pelo caminho nas últimas duas décadas porque faltavam justamente um amadurecimento delas enquanto negócio? Nesse sentido, a demissão de 11 mil colaboradores no Grupo Meta em novembro de 2022 se transforma em mais um argumento para quem resolve aguardar os próximos passos.
Ainda que diversas pesquisas apontem para um aumento genuíno de interesse das pessoas em relação ao metaverso, o fato é que são poucas aquelas que, de fato, conseguem explicar e/ou atuam em projetos já existentes. A base de dados YouGov, multinacional de pesquisa, indica que apenas 14% dos norte-americanos e 7% dos britânicos são confiantes em suas explicações sobre o tema. Já outro levantamento da McKinsey conseguiu mostrar o que muitos já imaginavam: quanto mais jovem o usuário, maior a aceitação da tecnologia.
Resumindo: enquanto companhias da internet e plataformas de Web3 buscam manter o buzz em torno do metaverso, para a sociedade civil e parte relevante das organizações responsáveis pela transformação digital trata-se de uma teoria que ainda está longe de ser colocada em prática. Mas será isso mesmo?
Toda mudança começa com ruptura
É natural imaginar que grandes corporações como Microsoft e Apple tenham maior preocupação com novidades tecnológicas do que aquelas que estão começando. Para essas gigantes, qualquer passo em falso pode comprometer toda a operação, inviabilizando diversas soluções e áreas em todo o mundo. Já para startups que ainda procuram seu espaço, o metaverso representa a grande oportunidade de mudança.
Mas não deixa de ser curioso que é a própria trajetória das Big Techs que mostra o porquê desse assunto não ser uma simples modinha digital. Apple e Microsoft eram as startups de ontem que inovaram e quebraram paradigmas no setor tecnológico. Transformar um celular em um potente computador de bolso com acesso à internet era algo impossível de se imaginar nos anos 90, por exemplo – da mesma forma que muitos têm dificuldade de visualizar o que seria o metaverso. Não há como deter o avanço digital. Projetos sairão do papel e serão testados, com ou sem apoio desses conglomerados.
Além disso, outros dois fatores explicam por que a ideia de ambientes virtuais imersivos já estar consolidada em todo o mundo. O primeiro deles, evidentemente, é a aceitação maciça dos mais jovens a estes projetos. Diversas plataformas já realizam seus experimentos e, graças ao universo dos videogames, consegue arregimentar público disposto a testar todas as possibilidades. É o velho ciclo geracional, com adolescentes e jovens adultos liderando a revolução tecnológica.
O segundo tópico, por sua vez, está relacionado ao próprio avanço das ferramentas digitais. A aceleração do setor nos últimos anos, impulsionada por dois anos de pandemia, levou a uma maior interação virtual entre pessoas, empresas e poder público. Não é mais segredo para ninguém que a digitalização é um caminho sem volta. Assim, é natural que haja profissionais e startups dispostas a desenvolver novos espaços e limites para este relacionamento, culminando na criação de espaços imersivos graças à consolidação dos criptoativos.
Aceitação do metaverso vai levar tempo
É claro, porém, que essa transformação não vai ocorrer em poucos dias ou semanas. A proposta do metaverso exige maturidade tecnológica e também política para que saia do papel sem qualquer experiência negativa a seus participantes. Serão anos de desenvolvimento de projetos, de estudos e planejamento até chegar a um ambiente que seja, de fato, imersivo e leve para o mundo virtual aquilo que já presenciamos na vida real.
Os debates ainda estão apenas no início e muita coisa ainda vai acontecer dentro dessa área. Os reticentes de hoje podem se tornar nos adeptos do amanhã, e vice-versa. O mais importante é reconhecer que o metaverso já está presente na opinião pública, pautando interações e estratégias de empresas de diferentes setores e tamanhos. Em suma: é um assunto que veio para ficar e ainda vai dominar o cenário pelos próximos meses e anos – seja você um cético ou um admirador da tecnologia.
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Alessandra Montini é diretora do LabData da FIA – Laboratório de Análise de Dados. Formada pela Universidade de São Paulo (USP), Doutora em Administração pela FEA (2003), Mestra (2000) e Bacharel (1995) em Estatística pelo Instituto de Matemática e Estatística IME-USP. A executiva é Consultora em Projetos de Big Data e Inteligência Artificial, Professora de Big Data; Inteligência Artificial e Analytics, Professora da Área de Métodos Quantitativos e Informática da Faculdade de Economia; Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA, Coordenadora do Grupo de Pesquisa do CNPQ: Núcleo de Estudo de Modelos Econométricos e Núcleo de Estudo de Big Data e ainda parecerista do CNPQ e DA Fapesp. Ao longo desses 20 anos de carreira Alessandra já recebeu 40 vezes o prêmio de “Desempenho Didático do Departamento de Administração da FEA”, foi 4 vezes premiada como “Melhor Docente do Departamento de Administração” e recebeu mais de 20 vezes o prêmio de “Professora de melhor avaliação dos cursos de graduação e pós-graduação na FEA”.
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