[Entrevista] ‘O metaverso será uma construção coletiva’, destaca executiva da Meta
Em entrevista exclusiva ao blog KaBuM!, Caroline Dalmolin conta sobre progresso, previsões e desafios do famigerado metaversoBy - Igor Shimabukuro, 30 setembro 2022 às 18:10
Quem esteve atenado às tendências tecnológicas nos últimos anos certamente ouviu falar sobre um tal de metaverso. Afinal, a possibilidade de interação que combina o real com o virtual chamou a atenção global e dominou as pautas — de portais noticiosos a mesas de bar.
Acontece que, por tratar-se de uma inovação ainda em desenvolvimento inicial, as principais discussões focaram em conceitos e potenciais que estão relativamente distantes do atual estágio do metaverso.
Sabe-se, por exemplo, que a tecnologia tem a premissa de ser um espaço virtual coletivo oriundo da convergência de realidades física digital e virtual aumentada. E que esse ambiente proporcionará experiências imersivas e contínuas, com foco em relacionamento social, negócios e entretenimento.
- Entenda de uma vez por todas o que é o metaverso e tudo que a tecnologia promete
- Quais as diferenças entre o metaverso e a realidade virtual?
Mas embora o conceito pareça estar minimamente claro, diversos questionamentos rondam as mentes dos entusiastas. Metaverso é hype ou é algo sério? Quem vai estar por trás disso? Qual será o foco da tecnologia? Quando ele realmente estará pronto?
Felizmente, todas essas perguntas fizeram parte do bate-papo exclusivo entre blog KaBuM! e Caroline Dalmolin, líder de Parcerias de Reality Labs na Meta para América Latina. E os principais pontos dessa entrevista podem ser conferidos abaixo — sem a necessidade de um óculos VR/AR.
Período embrionário
Assim como tokens não fungíveis (vulgo NFTs) e criptomoedas, o metaverso é julgado sob óticas receosas por parte da indústria. Isso pode ser atribuído a dois fatores — que estão diretamente ligados: desconhecimento e falta de exemplos práticos mais concretos.
Por mais que o conceito do metaverso esteja em evidência há algum tempo, muitos ainda não sabem o que é a tecnologia. Segundo uma pesquisa da NordVPN divulgada no começo deste ano, 55% dos norte-americanos não fazem ideia do que se trata a inovação.
Justiça seja feita, isso não é um impasse exclusivo dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, um estudo da startup OnTheGo investigou o grau de conhecimento dos brasileiros sobre o metaverso. O resultado? Apenas 56% estão familiarizados com a tecnologia e somente 60% conseguem descrevê-la como “um mundo virtual gerado por computador onde as pessoas podem socializar, trabalhar e jogar”.
Até mesmo entre o meio gamer — lembrando que o setor é tido como um dos principais impulsionadores da tecnologia — não há uma unanimidade: 36,2% nunca ouviram falar do metaverso, enquanto 80,4% nunca participaram de alguma experiência do tipo, segundo dados da Pesquisa Game Brasil 2022.
“Mas se o metaverso tem rondado as pautas dos mais diversos ambientes, por que ainda existe uma enxurrada de dúvidas?”, podem estar se perguntando alguns. Bem, a resposta dessa pergunta nos leva direto ao segundo ponto: dúvidas e receios por conta de algo que ainda não chegou (efetivamente).
É preciso ter em mente que as atuais discussões são muito mais abstratas que concretas. Isso porque o metaverso ainda está em um estágio embrionário em sua linha do tempo e todo o potencial apresentado será visto somente em um futuro de médio/longo prazo.
Como resultado, há quem encontre-se perdido sobre como tudo funcionará e outros que ainda ficam receosos se esse ambiente virtual realmente vingará.
“O metaverso é o próximo capítulo da internet e se pudéssemos comparar, nós ainda estaríamos vivendo o estágio de ‘conexão discada’ de seu desenvolvimento. O fato de ainda termos muito para construir e desenvolver pode gerar ceticismos nas pessoas de que é algo que não se concretizará. Mas vale ressaltar que algumas dessas tecnologias essenciais para o metaverso já estão disponíveis, entre elas a realidade virtual (VR) e a realidade aumentada (AR)”, destacou Caroline Dalmolin.
Ou seja, por mais que a construção desse ambiente já esteja a todo vapor, será preciso um pouco de paciência até que tudo esteja dentro dos conformes. E para isso, há um longo caminho pela frente.
Desafios e mais desafios
E nesta longa jornada de progresso, o principal desafio será a concepção do ambiente. É certo que as empresas envolvidas terão seus próprios mundos, espaços e experiências. Mas todos eles estarão presentes no mesmo metaverso, que basicamente será a junção de diversas tecnologias, plataformas e produtos em um único sistema interconectado.
Logo, construir algo único exigirá um trabalho coletivo de diferentes setores: de big techs a usuários comuns.
“O metaverso será uma construção coletiva, ou seja, estamos falando de um processo parecido com a construção da internet, no qual não pertencerá a uma única empresa. E isso só será possível se houver cooperação entre legisladores, acadêmicos,
desenvolvedores, especialistas em diversos setores, empresas e, o mais importante, as pessoas — que irão utilizar essas tecnologias para definir, juntos, as regras desse ambiente digital” explicou a executiva da Meta.
No âmbito de segurança, por exemplo, será preciso estipular como serão as regras aplicadas neste ecossistema — afinal, se a ideia é uma continuidade da vida real no mundo virtual, será preciso definir leis, condutas ou mesmo algum sistema de vigilância para punir infrações dentro do metaverso.
Falando sobre as empresas, a discussão também deve levar em conta a relação entre marcas e usuários, bem como os sistemas de monetização. Sabe-se que as criptomoedas serão um dos pilares fundamentais neste universo, mas urge a necessidade de estudar bem os meios de pagamento, de analisar questões sobre valor agregado e de planejar todo o potencial das experiências que serão criadas.
O escalonamento tecnológico também será um grande desafio. Segundo Raja Koduri, vice-presidente sênior e diretor-geral do Accelerated Computing Systems and Graphics Group da Intel, a estimativa é de que o metaverso exigirá mil vezes mais poder computacional do que temos hoje.
Como o ecossistema projeta um ambiente virtual contínuo, com experiências imersivas, gráficos 3D realistas e inúmeras possibilidades de interação, será preciso otimizar as infraestruturas de computação, armazenamento e rede para que o metaverso possa comportar tudo isso.
E claro: estruturas tecnológicas mais robustas também vão necessitar de hardwares de ponta. A boa notícia é que as empresas estão se movimentando para isso. A Meta deve lançar um novo dispositivo de realidade virtual no dia 11 de outubro, com promessas de aprimoramento de “presença social”. A Apple, por sua vez, pode lançar seu óculos de realidade mista (VR/AR) já no ano que vem. Enquanto isso, outras grandes marcas seguem em busca de desenvolver dispositivos voltados para o metaverso.
Outro ponto é que o desenvolvimento de óculos de realidade virtual e realidade aumentada gerará outro desafio: a democratização de acesso. Como é de se imaginar, esses dispositivos não terão preços acessíveis por qualquer usuário.
E aliar inovação de ponta com acessibilidade será uma questão necessária para todos os players do setor.
“Quando o acesso a qualquer coisa depende de um hardware, esse acesso virá com um custo, e, claro, sabemos que qualquer coisa que venha com um custo tornará mais difícil – ou até impeditivo – para que algumas pessoas possam adquirir. Por isso, já estamos colaborando com parceiros em diferentes programas que vão ajudar a democratizar o acesso e também estamos desenvolvendo essas tecnologias de uma forma que haverá muitos pontos de entrada para o metaverso — inclusive através de telefones celulares e dos aplicativos que as pessoas usam hoje em dia”, pontuou Dalmolin.
Mas afinal, quando o metaverso será concretizado?
Parece claro que o metaverso ainda está em estágios iniciais. E que a conclusão desse ecossistema será visto apenas com a construção e organização coletiva dos players deste meio. Mas em tempos de modernidade líquida, a grande questão é se há algum prazo para tudo isso sair do papel e ser incluído, de fato, no cotidiano das pessoas.
Antes da resposta de milhões, vale destacar que já existem experiências no metaverso. Com lançamento mais amplo em dezembro do ano passado, o Horizon Worlds da Meta já permite que minijogos, criações e passeios online sejam experimentados por seus usuários. Enquanto isso, a plataforma Decentraland movimenta milhões de dólares com o comércio de terrenos virtuais. E o AlspaceVR, da Microsoft, já tem sido usado para eventos e até reuniões com advogados.
Mas para os mais ansiosos, a realidade é que o metaverso deve durar “de cinco a dez anos“, segundo Dalmolin. “Ainda há muito o que se avançar no desenvolvimento do metaverso, existem muitas ferramentas e tecnologias que precisarão ser criadas para que seja possível construir essa visão de metaverso”, projetou.
O prazo se alinha às previsões de Ruth Bram, produtora executiva da Meta, e de Richard Kerris, executivo da Nvidia. Ambos parecem reforçar que há um grande caminho pela frente, mas concordam que muitos usuários estarão lá daqui a uma ou meia década.
Fato é que ninguém sabe se este prazo será cumprido à risca — novamente, há muito a ser organizado, desenvolvido e planejado. Mas isso talvez explique o motivo da demora do metaverso “de verdade”, o que, consequentemente, também aumenta as expectativas de uma experiência totalmente imersiva, que navega pelo real e virtual, incorporada no cotidiano dos usuários — conectados.
Comentários