A Apple pode estar perdendo um terreno de alto valor na China, com jovens cada vez menos interessados em comprar um iPhone – independente de “qual” iPhone estejamos falando. A premissa vem de um levantamento feito por especialistas da Escola de Gestão e Economia da Universidade de Nanchang.

A afirmação é interessante, considerando que o iPhone 13, iPhone 13 Pro e iPhone 13 Pro Max foram os três smartphones mais vendidos da China de acordo com este outro relatório, feito pela Counterpoint. O novo documento, no entanto, considera que, em termos absolutos, a “vitória” da Apple é uma que sinaliza queda.

Lente do iPhone

Imagem: Ben Harding/shutterstock.com

Explicando: pelos próprios relatórios fiscais da fabricante, o faturamento do ano fiscal de 2023 (que terminou em março deste ano) vindo apenas das vendas do iPhone foi de US$ 65,77 bilhões (R$ 325,05 bilhões). Embora maior que a concorrência, esse número representa uma queda de 8% ano a ano em relação ao mesmo período no ano fiscal anterior, que foi de US$ 71,63 bilhões (R$ 354,01 bilhões).

Mais além: o faturamento de vendas de outros produtos na maior parte do mercado chinês foi de US$ 23,90 bilhões (R$ 118,12 bilhões), versus US$ 25,79 bilhões (R$ 127,46 bilhões) no ano anterior – uma queda de 7%.

De acordo com o analista Lu Hao, isso se dá pelo fato de, ainda que um smartphone de alto padrão, o iPhone não está trazendo grandes inovações tecnológicas se comparado aos seus principais concorrentes – e essa percepção está começando a pesar na distinção de compra dos consumidores mais jovens.

Hao ainda argumenta que o público mais jovem – especialmente, aqueles nascidos no ano 2000 e além – têm um entendimento diferente de “avanço tecnológico” em relação a públicos mais velhos. 

“Eles [os mais jovens] são mais realistas, e nós também percebemos esses hábitos de consumo de quem veio depois dos anos 2000. Eles popularizaram várias marcas domésticas, em contraste com aqueles nascidos nas décadas de 1960 e 1970, que são majoritariamente clientes de empresas estrangeiras.” – Lu Hao, analista econômico da Universidade de Nanchang

De fato, o relatório da Counterpoint que citamos lá em cima mostra que, embora os três primeiros lugares do ranking de vendas de smartphones de 2022 sejam ocupados pela Apple, todas as outras posições vêm de empresas chinesas – Honor, OPPO e vivo, especificamente. Os números ainda mostram ampla disparidade, mas há que se notar que a o iPhone é o único estrangeiro no setor chinês a “vingar”.

Hao argumenta que o ponto atrativo dos smartphones atuais é a capacidade de memória e processamento, majoritariamente para uso de redes sociais, jogos e atividades triviais. Nesses pontos, existem várias opções que não se chamam “iPhone”. Antigamente, essa percepção era relegada a especialistas em tecnologia – hoje, o público mais jovem também notou esse fato.

Por isso, na hora de traçar comparativos, a geração mais recente de consumidores está considerando um ponto onde a Apple sempre levou desvantagem: o preço. Na maior parte dos países onde a Maçã atua, o iPhone é quase sempre o modelo mais caro do setor – mas suas capacidades técnicas por vezes ficam aquém disso.

A bateria do atual iPhone 14 Pro Max – o carro-chefe da Apple – é de 4.323 miliampére-hora (mAh). No Brasil, o modelo é oferecido a R$ 10.499, com 128 GB de armazenamento.

Com mil reais a menos, você pode comprar um Galaxy S23 Ultra, da sul-coreana Samsung, com 512 GB de espaço e bateria de 5.000 mAh. Um modelo comparativo na Apple, sai por mais de R$ 13 mil.

Considerando a disparidade de preço, o iPhone da Apple pode eventualmente se tornar uma “opção secundária” no mercado chinês – justamente o país onde o smartphone com iOS é fabricado.

Evidentemente, ainda vai levar um tempo até sabermos se isso é uma tendência ou um momento específico do ano passado. O ano fiscal de 2024 da Apple começou neste mês de abril, e só vai parar em março do ano que vem – somente com os números dele em mãos é que será possível determinar se há algum risco para a gigante de Cupertino.

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