A Writers Guild of America (WGA), entidade que negocia os direitos trabalhistas de roteiristas de shows e séries nos Estados Unidos, declarou o início de uma greve geral dos seus profissionais após – como afirma a associação – “negociações frustradas” com a Aliança de Produtores de Televisão e Cinema (AMPTP), a sigla que representa os interesses das empresas.

A AMPTP tem em seu plantel companhias grandes, como Netflix, Amazon, Apple, Disney, Discovery-Warner, NBC Universal, Paramount e Sony. De acordo com o comunicado da WGA, as empresas “criaram uma ‘economia de bicos’ dentro de uma força de trabalho sindicalizada. Elas fecharam as portas para os trabalhadores e permitiram que a criação de roteiros virasse uma profissão inteiramente freelancer. Nenhum acordo poderia ser contemplado dentro deste formato.”

Imagem de 2007 mostra diversos roteiristas em greve na WGA

Imagem: rblfmr/Shutterstock

Com a greve confirmada, toda e qualquer produção relacionada a shows recorrentes (como programas diários e talk shows) ou ainda em desenvolvimento (como séries ainda em produção ou novas temporadas) ficam automaticamente paralisadas. Com isso, programas como The Late Show with Stephen Colbert, The Tonight Show Starring Jimmy Fallon e Jimmy Kimmel Live! passarão reprises, já que novos episódios não serão produzidos.

Os três apresentadores já afirmaram no passado o apoio à WGA. Seth Meyers, apresentador de um show noturno similar, não disse o que será feito de seu programa durante a greve, mas ele já declarou apoio aos grevistas, que aprovaram a paralisação em votação com 98% de opiniões a favor.

Já séries ainda em fase de produção terão suas atividades paralisadas, o que pode impactar o calendário de lançamentos – as produtoras de tais séries podem até procurar freelancers para contemplar a demanda, mas considerando que essa é uma das pautas em reclamação pela associação, não seria estranho se a prática fosse repensada por enquanto.

Há também impactos fora da grande indústria do entretenimento: sites estrangeiros bem famosos, como o Polygon, têm participação na WGA – o Polygon, especificamente é uma das propriedades da Vox Media, que é representada pela associação trabalhista. Eles não informaram se a greve vai impactá-los de alguma forma, mas considerando o volume de podcasts que o site produz, é provável que sim.

A WGA divulgou sua lista de exigências, afirmando que as produtoras se recusaram a negociar sobre elas. Tais pedidos incluem regulamentação de recursos de inteligência artificial (IA), aumento de remunerações e residuais, salas dedicadas para roteiristas que trabalham presencialmente, ampliação de atendimento de planos de saúde.

No Twitter, o comediante Adam Conover, apoiador da greve, afirmou que as empresas retornaram às ideias com contrapropostas “indiscutíveis”, como tolerância para trabalhos não remunerados, ou corte sem aviso prévio de salas dedicadas (o que implica em demissões ou precarização de condições de trabalho).

“Elas [as empresas] não quiseram nem sentar para discutir e ofereceram apenas ‘reuniões educacionais’”, disse.

A AMPTP lançou um comunicado próprio, afirmando uma “proposta compreensiva de pacote” que contempla itens como “aumentos generosos de remuneração para roteiristas, bem como melhorias de pagamento residual de streaming”.

Um ponto, no entanto, foi rechaçado: o uso de “mini salas de roteirização” que, segundo os roteiristas em greve, implicam em “dois ou três profissionais” fixos nos locais de produção, auxiliando diretores e showrunners a escreverem material por um pagamento reduzido, pouco antes de uma série receber o sinal verde.

Dentre as reivindicações propostas pelos grevistas estão uma sala completa, com pelo menos seis roteiristas; e compensações fixas e que sigam ao piso mínimo estabelecido pela indústria.

Essa não é a primeira greve de roteiristas…

Uma situação similar e amplamente conhecida pela indústria ocorreu há 15 anos: ao final de 2007 e início de 2008, a mesma WGA fez exigências muito parecidas às empresas do setor. Na ocasião, também houve aprovação virtualmente unânime pela paralisação – pouco mais de 92%. Naquela época, a greve durou cerca de 15 semanas e custou à indústria algo perto de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,56 bilhões).

Nesta greve dos anos 2000 (a segunda da história da WGA, sendo a primeira em 1988), a resolução veio quando as empresas do setor acataram a maior parte das reivindicações da associação. Considerada uma grande vitória para os grevistas, a greve de 2007-08 levou a novas regulamentação de mídia hoje consideradas importantes – sobretudo às “novas mídias” da época, como as empresas de streaming e vídeo sob demanda (VOD).

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