[Review] Gotham Knights é ótimo para desligar o cérebro, apesar da falta de polimento nos gráficos
Gotham Knights oferece um ótimo enredo, personagens bem caracterizados e jogabilidade co-op, mas deixa a desejar nos gráficos e no desenvolvimento de Gotham como uma “personagem”By - Jessica Pinheiro, 29 novembro 2022 às 15:11
Depois de concluir Batman: Arkham Origins, lançado em 2013, o estúdio Warner Bros. Games Montreal começou a trabalhar no desenvolvimento do recém-lançado Gotham Knights, por quase uma década. A quantidade de tempo investido no projeto rapidamente se reflete no produto final, com um game que tenta entregar muitos elementos ao mesmo tempo, mas falha na execução de praticamente metade deles.
Isso porque Gotham Knights possui, sim, suas qualidades e as exalta em muitos momentos. Mas ainda assim, deixa a desejar em muitos outros aspectos, sendo o principal deles a falta de polimento nos gráficos. A princípio, esse elemento causou bastante incômodo, mesmo jogando em um PC bem equipado — Intel Core i7, Nvidia GeForce RTX 2070 Super, 32GB de memória RAM e SSD de 240GB.
Essa questão técnica, porém, é evidenciada apenas quando se está patrulhando a cidade de Gotham, encarando missões e resolvendo crimes. Em ambientes internos, e em especial durante o progresso da história principal, o nível de detalhamento é de impressionar. Felizmente, com pouco tempo de gameplay, a barreira gráfica das áreas abertas foi superada, o que tornou possível apreciar as verdadeiras qualidades do jogo.
Os quatro cavaleiros
Em meio a esse turbilhão, algo que torna Gotham Knights verdadeiramente único é a possibilidade de controlar quatro personagens inéditos e muito bem caracterizados: Asa Noturna (Dick Grayson), Capuz Vermelho (Jason Todd), Batgirl (Barbara Gordon) e Robin (Tim Drake). Eles se reúnem logo após a morte de Batman (Bruce Wayne).
Sua morte acontece em um confronto decisivo contra Ra’s Al Ghul e, mesmo chegando tarde demais para auxiliar Batman, o quarteto decide honrar o legado do Cavaleiro das Trevas, protegendo a cidade de Gotham em sua ausência.
Na outra ponta está um ótimo elenco de vilões: o Senhor Frio, Harley Quinn, Cara-de-Barro, e Oswald Cobblepot — mais conhecido como Pinguim —, além da Liga das Sombras, que passa a ser liderada por Talia Al Ghul após a morte de seu pai. Apesar deles, a história principal se desenrola em torno da misteriosa Corte das Corujas, uma sociedade secreta que deseja dominar Gotham por meio de seus assassinos.
A presença da Corte das Corujas, inclusive, é um dos principais motivos de o enredo se desenrolar de maneira constante e de forma instigante, tornando a narrativa de Gotham Knights em uma de suas maiores qualidades. Isso porque os arcos e as missões secundárias envolvendo os demais vilões relembram, até demais, os tempos áureos da franquia Batman: Arkham do Rocksteady Studios, enquanto a misteriosa sociedade traz uma nova perspectiva antagônica.
De toda forma, as missões secundárias e arcos dos vilões recorrentes do game adicionam doses de mitologia ao jogo, que acabam agregando à experiência de forma geral. E além disso, quanto mais você jogar, mais chances tem de presenciar as excelentes interações entre o quarteto de mocinhos — repletas de diálogos, brincadeiras, provocações, reminiscências e referências dignas de suas histórias em quadrinhos.
Por sinal, a atuação, e em especial a dublagem estão bem satisfatórias em português brasileiro, apesar do pouco acervo de animações de boca e da visível dessincronização labial.
Vigiar a cidade é uma tarefa árdua, mas…
Enquanto você explora a cidade de Gotham e realiza as patrulhas noturnas, precisa dar prosseguimento aos dossiês, que são basicamente as investigações referentes à história principal; mas também pode se aventurar nos intermináveis desafios, que consistem em missões e crimes que você pode, opcionalmente, resolver (seja por meio de interrogação, hacking, resolução de quebra-cabeças ou a simples e pura porradaria).
Os desafios são diversos e podem ser uma boa pedida para conseguir experiência e pontos de habilidade, os quais são usados para abrir novas técnicas. Além de evoluir os personagens, é possível ainda conseguir materiais para confeccionar novos equipamentos e vestimentas.
Enquanto a personalização dos cavaleiros oferece uma vastidão de possibilidades bastante atrativas — visualmente falando —, por outro lado, não há muito propósito na confecção de novas armas, com exceção de torná-las mais fortes. A curto prazo, isso basta, claro. Mas visando a longevidade ou o aspecto colecionável, a experiência de customização como um todo acaba se tornando vazia.
Por falar em combate, se você jogou a saga Batman: Arkham e acredita que vai encontrar uma jogabilidade semelhante, sinto lhe informar que este não é o caso. Honestamente, isso é ótimo, pois enquanto os jogos anteriores protagonizados pelo Cavaleiro das Trevas era pautado em contra-ataques, Gotham Knights é conduzido pela destreza.
Desviar dos ataques inimigos é o que vai expandir seus horizontes em Gotham Knights, acredite. Além disso, cada um dos cavaleiros é focado em um tipo de atributo diferente. O acrobático Asa Noturna, por exemplo, tem um agarrão mais forte capaz de derrubar inimigos, enquanto o grandalhão e resistente Capuz Vermelho utiliza armas de fogo para atingir inimigos a uma distância maior. Já a Batgirl é mestra no combate corpo a corpo e possui habilidades dedicadas ao hacking, e o Robin é mais veloz e pode se especializar em furtividade.
O combate é extremamente simples de dominar, mas se sustenta nas diferenças de arquétipo do elenco. Além disso, é recomendado que você se especialize na esquiva, se quiser sobreviver por mais tempo em sua jornada.
A cidade como personagem — só que não
A cidade de Gotham é realmente comprida, o que significa que existem muitos distritos e localizações para vigiar. Em outras palavras, Gotham Knights oferece um mundo expandido repleto de crimes para resolver, com bairros realmente distantes uns dos outros — ainda mais do que na saga Batman: Arkham.
Cada um dos cavaleiros possui métodos próprios de se locomover pela cidade, inclusive, assegurando maneiras únicas de exploração também — muito embora a moto da Batgirl tenha uma física estranha.
Ainda assim, a cidade não conversa com ela própria em termos de acontecimentos, despertando uma sensação de descontinuidade que tira completamente a imersão da experiência. Para exemplificar, mas sem entregar muitos detalhes, há uma certa missão secundária envolvendo um dos vilões que deixa Gotham em um estado de calamidade.
Após resolver esse caso, porém, os cidadãos de Gotham pouco falam sobre o ocorrido — e olha que as ruas, mesmo durante a noite, são movimentadas. Isso faz da cidade uma não personagem, o que é um pouco decepcionante — ainda mais se você tiver experimentado interações mais orgânicas em mundos abertos de outros games.
Gotham Knights vale a pena?
Depois de pouco mais de um mês jogando Gotham Knights — o que demorou mais do que o esperado por conta de imprevistos, e não porque o jogo em si é grande (tem cerca de trinta horas de duração) —, a conclusão é que existem muitos aspectos interessantes, que tornam a experiência como um todo em algo agradável, mas longe de ser marcante.
É um ótimo jogo para desligar o cérebro e jogar depois de um dia estressante, com uma experiência que funciona bem, de maneira geral, tanto em single player quanto em co-op. Caso você vença a barreira da falta de polimento nos gráficos, acredite, vai no mínimo se divertir resolvendo os crimes na cidade de Gotham, enquanto estiver em patrulha.
Em contrapartida, a história principal realmente vale a pena. Ainda assim, existem um ou dois problemas para cada qualidade do jogo, conforme citado anteriormente no texto. Dito isto, a recomendação é adquirir uma cópia de Gotham Knights em promoção, quando possível.
Gotham Knights está disponível para PC (via Steam e Epic Games Store), Xbox Series X e PlayStation 5. O jogo foi analisado por meio de uma cópia antecipada de Steam, fornecida pela Warner Bros. Games.
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