Na indústria, a utilização do gêmeo digital – uma cópia virtual idêntica ao mundo real, já é bastante comum. Para simular processos e mais uma infinidade de análises, modelos digitais são usados para gerenciar cidades, portos, usinas, fábricas. A ideia agora é fazer o mesmo com nós, seres humanos: uma espécie de clone digital.

No recém-lançado livro “Virtual You” (Você Virtual, em tradição literal), dois renomados cientistas sugerem que o conceito de gêmeo digital de um humano está mais próximo do que se imagina.

Na obra, o professor de química e ciência da computação na University College Londonn, Peter Coveney, e o diretor de ciências do Museu de Ciências de Londres, Roger Highfield, mostram o estágio atual da busca por clones digitais de pessoas.

Gêmeo digital humano

Imagem: Shutterstock

Partes humanas digitais

Especialistas em gêmeos digitais do Barcelona Supercomputing Center (BSC) já criaram modelos virtuais de células vivas e até de órgãos inteiros. Certamente o exemplo mais notável é Alva Red, um gêmeo digital de um coração humano, composto por cerca de 100 milhões de células virtuais.

O coração virtual bate dentro de um dos supercomputadores mais poderosos da Europa, o MareNostrum. As simulações do Alya Red podem, por exemplo, ajudar a posicionar um marca-passo, ajustar seu estímulo elétrico e modelar seus efeitos.

Supercomputador Marenostrum, em Barcelona

O supercomputador MareNostrum, em Barcelona, Espanha – Imagem: BSC

Outro exemplo que chama atenção é o da coreana Yoon-sun, de 26 anos. Ela teve seu sistema circulatório inteiro mapeado, resultando em aproximadamente 95.000 km de extensão. Para isso, foram usados não um, mas vários supercomputadores. Hoje, o modelo virtual é usado para estudar a pressão sanguínea e o movimento de coágulos em todo o sistema vascular.

Apesar do avanço e de casos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos, esses modelos digitais só resultaram em testes também virtuais, nada no tecido humano ou animal.

Segundo François-Henri Boissel, CEO da plataforma francesa de simulação de ensaios clínicos Novadiscovery, esses ensaios permitem que as farmacêuticas testes seus medicamentos em “pacientes virtuais”, antes de testá-los em humanos. O que, além de trazer mais segurança, geraria uma grande economia em ensaios clínicos.

Gêmeo digital humano

Imagem: Shutterstock

Gêmeos digitais

Criar um gêmeo digital significa obter uma coleta e análise de dados pessoais suficientes para criar uma representação realista. E isso pode (e deve) ser feito de diversas maneiras, desde varreduras do corpo inteiro, a análises genômicas, bioquímicas e até o uso de dispositivos vestíveis.

O clone digital daria ao médico a possibilidade de executar diversos cenários e estudá-los, antes de tomar uma decisão sobre a indicação de um determinado medicamento ou tratamento de uma doença.

E tem muito mais: o gêmeo digital pode prever com precisão o risco de uma doença e recomendar mudanças em medicamentos, dieta e estilo de vida, potencialmente salvando e estendendo a vida do paciente. Mas também poderá dizer o dia da sua morte.

“A medicina moderna é como dirigir um carro olhando pelo espelho retrovisor – sempre olhando para trás para tentar descobrir o que está acontecendo agora”, disse Highfield. “A esperança é que os gêmeos digitais permitam que a assistência médica se torne voltada para o futuro, verdadeiramente personalizada e preditiva, removendo grande parte das suposições”.

Quando poderemos ter gêmeos digitais

A ideia é avançada e promissora, mas ainda há “enormes obstáculos técnicos” a serem superados para a criação de um gêmeo digital de um humano inteiro. Uma simulação com tamanha complexidade vai exigir acesso a inúmeros supercomputadores – que hoje, além de estarem fisicamente distantes entre si, consomem muita energia para funcionar.

Outro desafio brutal, explica o autor, é “costurar” todos os códigos de cada parte do corpo virtual. Isso sem contar as questões éticas – prever quase tudo sobre a saúde de alguém é algo bem perigoso nas mãos erradas.

Apesar da “distância”, uma tecnologia que roubou todos os holofotes recentemente pode ser um grande encurtador de caminho para que os gêmeos digitais necessitem de menos poder computacional e assim, se vença, uma das maiores barreiras.

“A inteligência artificial e o aprendizado de máquina podem replicar parte do código e permitir que todo o gêmeo digital carregue nas velocidades necessárias para uma tomada de decisão médica eficaz”, disse Highfield. A IA poderia permitir que humanos virtuais fossem executados em máquinas muito menores.

Mas, então, quanto? Conveney, um dos maiores especialistas no assunto, acredita que os pacientes virtuais podem estar disponíveis para usos médicos práticos em cerca de cinco anos.

Fonte: TNW

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