É difícil ignorar o tema sustentabilidade diante de um planeta cada vez mais devastado e de uma sociedade cada vez mais destruidora. E a partir de 2023, será difícil não citar Terra Nil quando a pauta for relacionada a games voltados para uma pegada mais ecológica.

Não que isso seja novidade. Até porque a descrição do próprio jogo desenvolvido pela Free Lives o caracteriza como um título “de estratégia ambiental extremamente bem formulado sobre a transformação de uma terra infértil em um ecossistema equilibrado e próspero”.

Acontece que, diferente de alguns jogos estratégicos também voltados para criação/reconstrução de biomas, Terra Nil é 100% focado na natureza. Tudo (recursos, construções e outros elementos) é focado na fauna e flora. E sequer há uma representação de um ser humano — essa parte limita-se ao player atrás da telinha.

E foi com este clima sustentável que o blog KaBuM! resolveu testar o game e conferir se o propósito imaginado pela Free Lives foi devidamente cumprido. E o parecer de tudo isso você confere abaixo.

Menos discurso e mais ação

Ao contrário de jogos de construção que apresentam um enredo — mesmo que superficial —, Terra Nil não apresenta uma história bem definida. Até porque não há personagens próprios ou uma linha cronológica de eventos interligados entre si ao longo da jornada.

A única coisa que se sabe é que o player vai começar a gameplay em um planeta devastado e inóspito. E a missão fica bem clara logo de início: vagar pelas quatro regiões inférteis do mapa e criar condições ecológicas para reestabelecer a fauna e flora local.

Mapas do Terra Nil

Imagem: Igor Shimabukuro/blog KaBuM!

Haveria espaço para algum tipo de história? Em termos, sim. Uma lore baseada no último sobrevivente da Terra — no caso o player — não cairia mal. Também seria possível apresentar um conto de que os seres humanos foram obrigados a migrar de planeta e um deles foi encarregado de retornar à Terra para torná-la novamente habitável.

Mas a ausência de um enredo não diminui nada a experiência. Até porque o objetivo do game fica claro desde o começo e a falta de uma história abre espaço para o player divagar e imaginar diversos tipos de contexto que culminam nesta determinada situação.

O importante é ter em mente que há uma missão: preparar o local, construir, reciclar, apreciar a criação e meter o pé.

Plante, recicle e restaure

Antes de partir para a gameplay, será preciso definir o nível de dificuldade do game. O objetivo continuará sendo o mesmo em cada um dos estágios, mas será possível escolher qual será a experiência desejada: uma “mera” criação para apreciação ou um desafio daqueles.

São três estágios ao todo:

  • Jardineiro: ideal para jogadores que procuram uma experiência relaxante, que buscam criar paisagens bonitas e vibrantes;
  • Ecologista: voltado para jogadores com experiência em jogos de estratégia e que querem restabelecer a biodiversidade e equilíbrio ambiental;
  • Engenheiro Ambiental: recomendado para jogadores experientes que desejam reconstruir o sistema com máquinas sofisticadas.
Estágios Terra Nil

Imagem: Igor Shimabukuro/blog KaBuM!

É verdade que o nível mais básico tem suas facilidades (mais recursos iniciais, menos gastos nas construções e mais dicas ao longo da jogatina). Mas no fim, eles podem não fazer tanta diferença.

Primeiro porque os estágios de dificuldade podem ser alterados a qualquer momento. Segundo porque os mapas são gerados aleatoriamente. O lado ruim: um jogo pode ser mais difícil que o outro já que os mapas podem apresentar fatores geográficos distintos. O lado bom: sempre será uma nova experiência, o que permite rejogar Terra Nil quantas vezes o player quiser.

Terra Nil

Imagem: divulgação/Free Lives

Falando da gameplay, o jogo apresentará um breve tutorial — exceto no modo Engenheiro Ambiental — para que o player se familiarize com as mecânicas. E é aí que vale uma atenção redobrada para que as criações não caminhem para um projeto fracassado.

Será possível entender, por exemplo, que há uma ordem cronológica: primeiro se cria fontes de energia (renováveis, é claro), depois é preciso restaurar o solo e, finalmente, é necessário plantar. E para isso, o player terá de pensar muito bem para colocar cada equipamento no pixel mais vantajoso do território.

Naturalmente, há recursos para cada construção. Mas esqueça o dinheiro físico, Pix ou moedas de ouro. Em Terra Nil, o “patrimônio” são representados por folhas de árvores. Em resumo, será preciso plantar para coletar recursos e comprar novos equipamentos para… plantar.

Recursos do Terra Nil

Imagem: Igor Shimabukuro/blog KaBuM!

Por mais fofa que pareça essa gestão de recursos, não se deve nunca esquecer dela. Isso porque o jogo possibilita apenas uma chance de desfazer a ação — uma espécie de “Ctrl + Z” — por jogada. E se as coisas caminharem mal, será preciso rejogar a fase novamente e do zero.

Game Over no Terra Nil

Imagem: Igor Shimabukuro/blog KaBuM!

Vale destacar que, assim como a restauração na vida real, o progresso de Terra Nil é feito por etapas. Concluir missões principais desbloqueia novos equipamentos que serão usados nos novos objetivos. Mas já fica a dica: sempre inicie o projeto com a mentalidade de que será preciso preparar o solo, plantar e depois reciclar tudo.

Falando das missões principais, a lógica segue o mesmo raciocínio durante toda a gameplay. Primeiro será preciso reparar o solo e restaurar a água do ambiente. Posteriormente, o player terá de adicionar diferentes tipos de vegetação (de bambus a florestas) para a região. Por fim, deve-se reciclar todas as construções não orgânicas que foram usadas durante o processo.

Construção em Terra Nil

Imagem: Igor Shimabukuro/blog KaBuM!

E a boa notícia é que também há missões secundárias para tornar a jogatina menos maçante. São obrigatórias? Não. Mas debloqueiam conquistas interessantes como novas vegetações e animais para quem deseja zerar Terra Nil por completo e em seus mínimos detalhes.

Descobertas de animais em Terra Nil

Imagem: Igor Shimabukuro/blog KaBuM!

Renovação a cada jogatina

Felizmente, Terra Nil não se baseia apenas em construir e reconstruir. Isso porque após ter reestabelecido uma terra infértil, é possível um tempo extra de relaxamento para apreciar como foi o resultado do projeto. Basicamente um momento para respirar e se encantar com a paisagem.

Apreciação Terra Nil

Imagem: Igor Shimabukuro/blog KaBuM!

A outra boa notícia é que o game não termina após os créditos. Depois de ter concluído todas as missões, são liberados novos modos para cada um dos quatro mapas para que novos desafios sejam finalizados. Uma chance extra para completar novamente uma região, com novos objetivos e de uma maneira diferente.

E novamente, esse é um dos pontos fortes do game: por mais que a campanha possa ser finalizada em cerca de cinco horas, os mapas aleatórios permitem que o player se sinta em um novo desafio a cada mapa. Em um paralelo cômico, é como se as gameplays também fossem recicladas a cada nova tentativa.

Mas afinal, Terra Nil vale ou não vale a pena?

Da forma mais simples e direta possível: vale muito! Além de ser um jogo simples e sem grandes requisitos de sistema, Terra Nil consegue tornar um jogo de estratégia uma experiência leve e encantadora — por mais que não seja um Triple A, o game é realmente belíssimo.

Mas o principal fator, sem dúvidas, é a conscientização sobre o tema sustentabilidade. Muito se fala em tecnologias e inovações que proporcionam avanços na indústria de videogames. Mas pouco são os jogos que, de fato, trazem uma crítica social forte para a comunidade.

Terra Nil faz isso, de uma forma explícita, porém cativante. Por mais que os jogadores foquem em concluir as missões para avançar na jornada, será natural finalizar alguma fase e pensar em pequenos hábitos para tornar o mundo mais sustentável. Isso sem contar nos aprendizados sobre fauna, flora e geografia.

Estes são os grandes pontos que tornam o game uma experiência fantástica para qualquer idade. E talvez sejam estes mesmos fatores que podem eleger Terra Nil como um dos games indicados para os jogos com maior impacto social na premiação The Game Awards desse ano.

*O game foi analisado por meio de uma cópia para PC (Steam) fornecida pela Devolver Digital.

Comentários

0

Please give us your valuable comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários