A Comissão De Justiça e Comércio (JFTC) do Japão aprovou a proposta da Microsoft de adquirir a Activision Blizzard por quase US$ 70 bilhões (R$ 361,76 bilhões), dando à fabricante do Xbox um terreno bastante valioso no terreno de sua principal concorrente, a Sony.

De acordo com um comunicado postado no blog oficial do órgão, ele avaliou a proposta de aquisição – a mais cara da história do mercado dos videogames – e concluiu que ela “tem pouca probabilidade de resultar na restrição substancial da [capacidade de] concorrência em qualquer campo específico de comércio”.

Imagem mostra um smartphone com o logotipo da Microsoft na Tela, com o logotipo da Activision Blizzard ao fundo

Imagem: sdx15/Shutterstock.com

Ainda segundo o post, a aquisição está dentro do que rege o Ato Antimonopólio do Japão, a legislação vigente no país asiático para combater a formação de cartéis e monopólios que possam impedir o prosseguimento de uma competição segura nas indústrias que lá operam.

Em outras palavras: a Microsoft seguir com a aquisição não vai impedir a Sony de continuar atuante no mercado mundial de jogos, segundo o entendimento da JFTC.

A notícia foi recebida com louvores e sorrisos pela Microsoft, que atualmente vem tentando emplacar justamente esse argumento em outras nações – atualmente, as mais notáveis “brigonas” são a Comissão Federal de Comércio (FTC) dos EUA e a Autoridade de Competições e Mercados (CMA) do Reino Unido.

Do lado norte-americano, a FTC recentemente adotou uma postura combativa para ambas as empresas: de um lado, ela vê a proposta da Microsoft com ressalvas, mas por outro, não se acanhou de virar seus dentes à Sony, exigindo diversas documentações sobre os negócios da japonesa.

Já na Grã-Bretanha, a CMA inicialmente tinha uma posição parecida com a da FTC, mas recentemente vem amenizando seu discurso, cortesia das garantias oferecidas pela Microsoft – sobretudo no que tange à franquia de jogos de tiro em primeira pessoa Call of Duty: de longe a maior marca da Activision e uma das mais rentáveis com seus lançamentos anuais, a franquia “CoD” vinha sendo o ponto contencioso para a Sony.

A japonesa, essencialmente, argumentava que Call of Duty é uma marca sem concorrência igual, essencialmente presente em todas as plataformas do mercado e, com a aquisição, há o temor de que a Microsoft a torne uma exclusividade dos consoles Xbox. A empresa americana, no entanto, já prometeu repetidas vezes que não fará isso.

A CMA, no entanto, ainda tem ressalvas sobre como a aquisição da Activision vai beneficiar os negócios da Microsoft no ambiente do cloud gaming (onde a Microsoft também vem firmando parcerias), e prometeu uma decisão final até o fim de abril.

Vitória da Microsoft no Japão não veio sem luta

A informação a seguir não conta com nenhum comentário oficial, então vale a cautela na leitura, mas segundo fontes ouvidas pelo Axios, 11 membros do Congresso dos Estados Unidos – tanto Democratas como Republicanos – pediram à administração do presidente Joe Biden pela tomada de alguma ação contra a Sony, a qual os congressistas afirmam estar “intencionalmente ferindo a concorrência com o Xbox no Japão”.

O site afirma que duas cartas já foram enviadas às devidas comissões sancionatórias dos EUA, com uma delas afirmando: “nós trazemos à sua atenção o desequilibrado mercado japonês de jogos, sobre o qual nós estamos preocupados que possa estar em práticas resultantemente discriminatórias que possam violar o espírito do acordo internacional de comércio entre EUA e Japão”.

As cartas foram, supostamente, enviadas para a representante internacional dos EUA da Câmara do Comércio, Katherine Tai, bem como a Secretária de Comércio, Gina Raimondo.

As cartas ainda afirmam que a Sony tem o controle de “98% do mercado de consoles de alto desempenho” no Japão e que a dona do PlayStation trabalha para manter “jogos populares japoneses fora do Xbox”.

“A política de não acusação do governo japonês em relação à Sony aparenta ser uma barreira séria às exportações estadunidenses, com impactos reais à Microsoft e inúmeras outras desenvolvedores de jogos e publishers do nosso país, que vendem [seus produtos] globalmente mas vêem seus ganhos no Japão depreciados por essas práticas.” – Congresso dos EUA, em carta, via Axios

É importante ressaltar que, por um lado, pode parecer natural que a Sony tenha a preferência de público no Japão – a empresa é de lá e tem um amplo histórico em vários campos da tecnologia, não só videogames. Fora isso, a empresa é conhecida por assegurar diversos contratos de exclusividade para o PlayStation – vide o caso temporário de Final Fantasy XVI – então isso obviamente engrandece a capacidade da marca por lá.

Por outro, a presença da Microsoft no Japão é tão, mas tão pequena, que fica difícil afirmar qualquer coisa pelo lado dela já que, por várias interpretações, os dados financeiros da empresa no país são ignoráveis no melhor dos casos: segundo o Statista, o Switch (Nintendo), o PlayStation 4 e o PlayStation 5 encabeçaram o volume de vendas no Japão até fevereiro deste ano (19,16 milhões de unidades; 7,85 milhões e 2,34 milhões, respectivamente).

Os dois últimos do ranking são, justamente, o Xbox Series S e Series X, feito em duas versões, cada qual com o seu volume independente de vendas: 240 mil e 170 mil unidades. O console da geração anterior – Xbox One – sequer aparece no gráfico.

Obviamente, nem Microsoft, nem Sony, nem as autoridades japonesas comentaram o caso – daí a necessidade de tratarmos isso como um rumor (ainda que bem fundamentado).

Vale também citar que a vitória da Microsoft na proposta de aquisição da Activision Blizzard não é uma aceitação imediata do avanço da negociação – para todos os efeitos, se outros reguladores se mostrarem contrários e o negócio acabar sendo desfeito de maneira forçada, então o Japão, mesmo que favorável, será forçado a obedecer ao regimento global, mantendo as duas empresas separadas.

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