À Autoridade de Mercados e Concorrências (CMA) do Reino Unido, a Microsoft ofereceu por escrito uma série de garantias para que pudesse assegurar o avanço da sua proposta de aquisição da Activision Blizzard – a maior de que se tem notícia no mercado mundial de jogos, avaliada em quase US$ 70 bilhões (R$ 359,93 bilhões).

Pela documentação, a dona do Xbox se comprometeu a assegurar o caráter universal das franquias multiplataforma da Activision – especificamente, Call of Duty – assinando uma afirmação que já vem fazendo há meses: ainda que ela se torne a dona da marca, os jogos sob ela continuarão saindo nos consoles da marca PlayStation, da sua concorrente e líder de mercado Sony.

Microsoft pode enfrentar problemas na aquisição da Activision Blizzard

Imagem: Shutterstock/FellowNeko

“[A] Microsoft não tem qualquer intenção de forçar o fechamento da ou tornar a franquia Call of Duty (“CoD”) uma exclusividade das plataformas Xbox. Pelo contrário, desde o primeiro dia, a Microsoft tem se concentrado em usar essa aquisição para levar mais jogos a mais pessoas, em mais plataformas e dispositivos do que nunca, a fim de criar mais concorrência no mercado do que já se viu. Após a transação, CoD continuará disponível no PlayStation, a maior plataforma global de consoles, e também no PC.

Mais além, a Microsoft tem a intenção de levar CoD a novas plataformas e já assinou acordos de parceria legalmente reconhecidos com a NVIDIA e a Nintendo, para levar esta marca a outros 150 milhões de jogadores pelo mundo inteiro, caso a aquisição seja aprovada.”

Nós falamos sobre os acordos da Microsoft com a Nintendo e a NVIDIA aqui no site. Enquanto o primeiro prevê ports da franquia para o console híbrido Nintendo Switch (e talvez a próxima plataforma da “Big N”, segundo rumores), o contrato com a fabricante de placas de vídeo envolve a disponibilização de todo o catálogo da Microsoft – incluindo Activision – para a plataforma GeForce Now de cloud gaming.

Várias outras partes do documento de 33 páginas foram destinados à ideia de “desmontar” partes da Activision como uma saída para aliviar preocupações e aprovar a aquisição. A Microsoft rechaçou essa noção, afirmando que isso seria mais problemático ao mercado do que se imagina:

“Uma separação de qualquer parte da Activision ou de CoD extinguiria esses benefícios e seria totalmente ineficaz. Tal separação preservaria o status quo, onde jogadores da plataforma dominante – o PlayStation – continuariam a receber conteúdos exclusivos de CoD, que não estão disponíveis em outras plataformas, incluindo o Xbox e o PC.”

Mais além, a Microsoft argumentou que uma diversificação nas unidades de negócio da Activision Blizzard faria com que fosse perdido o acesso a outros títulos – especialmente no mercado mobile, Diablo Immortal, Hearthstone e Warcraft Arclight Rumble (este, em beta). Fora isso, Call of Duty também está nos smartphones, sendo um dos jogos mais populares do setor até hoje e, futuramente, ganhando companhia na visão de Warzone Mobile.

Vale lembrar que, no que tange a serviços em cloud, os jogos da Activision não estão presentes em nenhum lugar: além da Xbox Cloud e do GeForce Now, a empresa está fora de outras plataformas, como o PlayStation Now e o agora finado Stadia, do Google. A aquisição proposta pela Microsoft – junto do acordo com a NVIDIA – assegura que a compra vá mudar isso.

Finalmente, a Microsoft sugeriu que a CMA aponte um monitoramento independente e contínuo, a fim de garantir que ela própria não resolve mudar os termos depois caso a proposta vá para frente.

Sony não botou fé

As propostas de resolução oferecidas pela Microsoft foram postuladas em documento público, que têm valor legal junto às autoridades regulatórias do comércio europeu. Ainda assim, a Sony, em sua própria documentação, desacreditou da fabricante do Xbox.

Dentre as preocupações da gigante japonesa, existem suspeitas (dela) de que a Microsoft poderia tornar a franquia Call of Duty exclusiva para a plataforma de assinatura de jogos Game Pass, que a empresa norte-americana poderia intencionalmente degradar a qualidade de eventuais versões dos jogos da marca no PlayStation (por meio de atualizações de correção feitas apenas no Xbox) ou propositalmente aumentar o preço dos títulos para minar a competitividade dos consoles japoneses.

Segundo o exemplo citado pela própria Sony:

“[A] Microsoft pode lançar uma versão para PlayStation de Call of Duty onde bugs e erros apareçam apenas na última missão do jogo ou depois de atualizações posteriores. Ainda que tais degradações possam ser rapidamente detectadas, qualquer remédio certamente viria tarde demais, em momentos onde a comunidade gamer já tivesse perdido a confiança no PlayStation como a principal plataforma para se jogar Call of Duty.

De fato, como Modern Warfare II prova, [jogos da franquia] Call of Duty são majoritariamente adquiridos dentro das primeiras semanas de lançamento. Se tornasse conhecido o fato de que uma versão de PlayStation tivesse desempenho inferior à de Xbox, jogadores de Call of Duty poderiam decidir migrar para o Xbox, por medo de jogar seu título favorito em um ambiente menos competitivo ou de menor valor.”

A Sony justifica essa hipótese na eventualidade de que, se aprovada, a aquisição da Activision Blizzard por parte da Microsoft tornaria as duas empresas próximas e, consequentemente, a versão para Xbox teria a prioridade em práticas de otimização de desempenho de jogos.

Entretanto, a japonesa não se acanha de levantar acusações mais contundentes, como afirmar que a Microsoft poderia forçar a Activision a intencionalmente degradar Call of Duty em questões diferenciais, como um jogo da franquia respondendo – ou não – ao melhor retorno háptico do controle do PlayStation 5 em relação ao Xbox Series S/X. Ou ainda criando impeditivos que minassem a experiência multiplayer do jogo no PlayStation 5.

A Sony também afirma que a Microsoft preferiu tratar a negociação na mídia ao invés de tentar conversar com a japonesa, que acusou a americana de buscar uma “lavagem de roupa suja” ao arrastar discussões e só se manifestar publicamente quando as opiniões dos reguladores econômicos de vários países tinham tendência de ir contra ela.

Finalmente, a Sony reiterou as propostas feitas pela CMA – ressaltando a cisão de partes da Activision Blizzard – e disse que, independente de suas promessas, a Microsoft não tem intenção de cumpri-las caso o acordo vá para frente.

Vale citar que a proposta de aquisição foi feita e aceita em janeiro de 2022, mas desde então ela só avançou em deliberações legais junto a orgãos de regulamentação. No caso do Reino Unido, uma decisão final será tomada pela CMA em 25 de abril de 2023. Especialistas argumentam que ela deve passar, embora com ressalvas.

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