As emissões do Real Digital ficaram no quase. Mesmo que um integrante do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT) tivesse cravado o início da produção para a última quinta-feira (20), o movimento foi adiado e deve acontecer somente em 2023.

A informação foi confirmada por meio de uma nota da Federação Nacional de Associações de Servidores do Banco Central (Fenasbac) enviada à Exame. A organização é responsável pelo Lift Challenge, desafio que reúne empresas do setor financeiro para apresentar projetos de possíveis usos da moeda digital de banco central (CDBC) brasileira.

“A Fenasbac esclarece que não houve e que não está previsto a emissão do Real Digital dentro do escopo e da vigência do laboratório Lift Challenge: Real Digital”, informou a entidade.

Segundo o Banco Central (BC), a iniciativa do Real Digital se encontra em uma fase inicial de testes. No caso, integrantes do Lift Challenge apresentam seus projetos e emitem suas próprias versões fictícias da CDBC para testes e simulações de uso.

A autarquia até afirmou que emissões de moedas fictícias podem ter ocorrido, mas essas não se tratam do Real Digital ou de um protótipo, e nem ao menos possuem valor monetário atrelado ao real.

E como o Lift Challenge se estenderá até o início do ano que vem, as emissões — seja do Real Digital ou de seus protótipos — devem acontecer somente entre 2023 e 2024, período em que a fase de testes de projetos-piloto será executada.

Entenda o que é o Real Digital

Como o próprio nome sugere, o Real Digital será basicamente uma versão digital do real — com o mesmo valor do dinheiro tradicional. A moeda alternativa funcionará no formato de stablecoin, cuja modalidade possuirá paridade 1:1 com o real.

Real Digital

Imagem: Shutterstock

Mas não se deixe enganar: o Real Digital não se trata de uma criptomoeda. Diferentemente das criptomoedas que não possuem uma regulamentação ou um órgão de supervisão central, a moeda digital brasileira será regulada pelo BC, que também será responsável pela emissão. A distribuição se dará por meio de bancos, instituições financeiras e demais participantes dos atuais sistemas de pagamento.

A criação acompanha a tendência global de moedas digitais controladas pelo governo, como o yuan digital da China ou o CBDC da França. Outros países como Coreia do Sul, Japão e Canadá também estudam a formalização de versões digitais de suas respectivas moedas locais.

Neste sentido, uma das vantagens do ativo seria a capacidade de integração da CDBC brasileira com ferramentas e organizações características da rede blockchain, como contratos inteligentes, instrumentos de finanças descentralizadas (DeFi) e Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs).

Ilustração do real digital

Imagem: rafapress/Shutterstock

Isso também se relaciona a outra questão: segurança. Por conta dessa integração com o blockchain, o Banco Central acredita que o Real Digital poderá contribuir no combate a crimes financeiros e lavagem de dinheiro, muito em função do monitoramento dos fluxos — embora questões sobre privacidade ainda sejam debatidas.

Também há outras vantagens em jogo, como a “internacionalização” do real — compras internacionais poderão ser efetuadas sem a necessidade prévia de conversão para outras moedas — e a redução de emissão do papel-moeda, que, segundo o BC, responde por apenas 3% das operações no Brasil.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já revelou que a moeda digital brasileira deve ser viabilizada somente em 2024. Isso significa que ainda há muito caminho pela frente, e discussões e alterações certamente vão fazer parte desse lançamento.

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