Desde 1993, a Electronic Arts (EA) e a FIFA mantinham uma parceria comercial que rendeu uma das mais bem sucedidas franquias dos videogames: o clássico “Fifinha” virou sinônimo de atividade entre amigos gamers a o mesmo nível em que “vamos tomar umas” seduz qualquer fã de uma cervejinha gelada.

E pela primeira vez, em 30 anos, teremos um jogo da EA que não terá “FIFA” no nome. Previsto para algum momento no segundo semestre de 2023, a publisher norte-americana lançará “EA Sports FC”, o primeiro jogo que, apesar de vir na sequência de sucessos da marca antiga, será o primeiro a não contar com o título oficial da maior organização do futebol internacional.

Logo EA Sports FC 2

Imagem: divulgação/EA Sports

Não que isso incomode a empresa. Falando ao jornal britânico Mirror, o vice-presidente de Branding e Marcas da EA, David Jackson, disse que as expectativas são altas, mas também o é a confiança no novo jogo. Para ele, a decisão de se separar de vez da FIFA permitirá que a EA explore novas vias de inovação criativa – algo que lhe era impossível antes.

“Existe uma enorme quantidade de energia em todos os nossos estúdios, por todo o mundo, para buscarmos a ambição que estabelecemos para nós mesmos com essa nova marca. [O] EA Sports FC é a nossa visão de futuro. Eu acho que estamos fazendo um ótimo trabalho e mesmo com uma ótima relação com a FIFA, agora é a hora certa de traçarmos um novo caminho, podendo ir ao encontro das expectativas dos jogadores onde elas estiverem, e nós sentimos que podemos fazer isso de uma forma melhor dentro da percepção da nossa própria plataforma.” – David Jackson, VP de Branding da EA

Jackson (ou a EA) não falou isso expressamente, mas é seguro especular que acordos entre grandes marcas envolvem não apenas muito dinheiro, mas muitas concessões: a FIFA, sendo um corpo que governa um esporte inteiro, certamente tem exigências bem grandes para o empréstimo de seu nome a mídias que não venham diretamente dela.

O melhor exemplo disso é o que faz o Comitê Olímpico Internacional (COI): segundo a carta de regras da organização, “Olimpíadas” e “Jogos Olímpicos” não são a mesma coisa, sendo o primeiro o período de espera entre as competições (os 4 anos entre um evento e outro) – estas, referidas pelo segundo. Hoje, isso já não ocorre mais, mas existiram casos no passado onde acionamentos jurídicos aconteceram porque alguém usou “olimpíadas” onde não cabia o termo.

Um paradigma similar pode servir para explicar a relação da EA com a FIFA: a organização futebolística chega a proibir o uso das palavras “Copa”, “Mundial” e a expressão “Copa do Mundo” em redações que não servem especificamente para divulgar datas e horas de confrontos dentro da competição referida.

Não que isso funcione 100% do tempo (aqui mesmo no blog KaBuM!, nós temos a tag “Copa do Mundo”) mas, por essa razão, empresas de tecnologia que queiram, por exemplo, vender televisores novos usando o evento como ferramenta de comércio, não podem usar a terminologia exata e, normalmente, apelam para sinônimos, como “o torneio de futebol” e afins. Ou isso, ou aguente o famoso “processinho”.

Foi isso que aconteceu com a EA? Nunca saberemos com muita certeza – as empresas eram parceiras, afinal. Mas não é difícil imaginar que essas limitações fossem consideradas pela publisher americana ano após ano, a cada lançamento de um “fifinha” novo. Nisso entra a parte da “inovação” mencionada por Jackson: como dona da própria marca, a EA pode perseguir direções criativas que antes lhe eram impedidas. O próprio CEO da publisher fez alusão a isso ao Videogames Chronicle, em novembro de 2022.

“É uma mudança de mentalidade para nós. Agora, pensamos de forma expansiva sobre oportunidades. E também nas áreas onde gostaríamos de criar experiências para os fãs no futuro. Temos uma ampla quantia de confiança do que vamos entregar ao mercado neste ano.”

Jackson ainda ressaltou alguns números que podem deixar o fã mais inveterado da franquia com certo grau de ansiedade: apesar de não ter mais o nome “FIFA”, a EA conseguiu garantir diversas “oficializações” – 19 mil jogadores, 700 times e mais de 30 ligas e torneios oficiais estarão presentes em EA Sports FC. E isso, segundo Jackson, é o que ele têm agora – normalmente, jogos da franquia saem entre agosto e outubro, e mais adições podem vir até lá.

Agora resta só uma dúvida: se “fifinha” não vale mais, como você vai chamar os parceiros para o “quebra-canelas virtual” sem perder a amizade?

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