Os Jetsons, de Hanna-Barbera, já previam: o futuro seria feito de carros voadores — ou quase isso. Claro que o desenho animado, assim como outras tantas produções sci-fi, adoram explorar o que estar por vir e criar os mais inusitados resultados, porém carros voadores definitivamente ainda estão longe de se tornarem o que é imaginado.

Em vez disso, quem ganha cada vez mais os holofotes futurísticos (de um futuro que já está acontecendo, diga-se de passagem) são os carros elétricos. De acordo com a International Energy Agency (IEA), a venda dos EVs no mundo dobrou de 2021 para 2022, contabilizando um recorde de 6,6 milhões de unidades entregues.

A crise dos semicondutores, que desacelerou a produção global de muitos dispositivos eletrônicos e derivados, não foi párea para impactar a indústria dos carros elétricos. A título de comparação: o primeiro semestre de 2022 registrou o total de 2 milhões de veículos do tipo vendidos globalmente, o que representou um crescimento de 75% na comparação com o mesmo período em 2021.

Até o final do ano passado, o número de veículos rodando nas estradas no mundo era de cerca de 16,5 milhões, o triplo do valor registrado em 2018, ainda de acordo com o levantamento da IEA.

Não é exagero dizer, portanto, que a hegemonia dos carros movidos a combustível está perdendo força. A questão ambiental, do ponto de vista de alternativa ao combustível fóssil, é apenas um dos motivos que os carros elétricos têm ganhado espaço.

Veja abaixo as cinco consequências não intencionais — positivas, ou nem tanto assim — que a chegada dos carros elétricos causou no mercado.

Tesla Model S Long Range na cor branca estacionado

Imagem: Charlie Deets/Unsplash

Menos poluição sonora

O zumbido do motor é algo bastante característico dos carros comuns. EVs, no entanto, têm menos partes móveis e, portanto, são mais silenciosos — mesmo ao rodar nas cidades, que é onde os carros tradicionais se mostram mais barulhentos. Como resultado, a tendência é termos menor poluição sonora, o que pode trazer como consequência um aumento na qualidade do sono, sem mencionar ganhos para a saúde e qualidade de vida das pessoas — especialmente nas metrópoles.

A parte negativa (ou nem tanto) é que talvez seja necessário criar mecanismos para indicar a proximidade de carros para evitar acidentes, visto que o barulho dos carros em si é, para grande parte das pessoas, um dos principais indicativos da aproximação de um veículo em uma estrada ou rua (ou só prestar mais atenção aos sons de buzinas também pode ser uma boa).

Pesos pesados

Apesar de impulsionar a diminuição quanto à quantidade de barulho, carros elétricos são bem pesados se comparados aos seus equivalentes tradicionais — e isso não deve mudar tão cedo nos próximos anos. As baterias são o principal motivo para deixar carros elétricos na categoria dos pesos pesados, o que pode trazer um ponto negativo no uso desses veículos: os quilos extras podem criar situações perigosas para pedestres e passageiros de veículos terceiros em caso de acidentes.

Mais peso também impacta em maior necessidade de reparos em ruas e estradas, o que consequentemente onera as finanças das cidades e os bolsos de cidadãos. A solução pode estar em discussão, mas não deve ser algo definido nos próximos anos.

Aquecendo os motores as baterias

Assim como baterias de celulares, as reações químicas que alimentam as baterias de íon-lítio de carros elétricos diminuem consideravelmente em temperaturas adversas — tanto em climas muito frios quanto nos muito quentes —, o que traz consequências para a automação do veículo.

Além disso, em locais comumente atingidos por fenômenos climáticos, como furacões, as baterias poderiam acabar submersas na água de oceanos que, por ser salgada, também é altamente condutora de eletricidade. Ou seja, o risco de incêndios e outros acidentes em decorrência de fenômenos naturais é maior. Mas, ainda assim, incêndios em veículos elétricos — embora preocupantes —, são menos comuns do que incêndios em veículos a combustão.

Velocidade máxima

Os EVs estão mudando a forma como se dirige um carro. Enquanto veículos tradicionais precisam que a energia passe pelo trem de força antes de atingir as rodas, os motores de veículos elétricos enviam a energia diretamente para as rodas. Na prática, isso significa que um veículo elétrico pode atingir quase 100 quilômetros por hora em menos de 2 segundos — um Tesla Model S, por exemplo, faz isso.

Essa condução com uma velocidade extremamente rápida em poucos segundos é algo que ainda não aprendemos a lidar e que pode representar um aumento em acidentes graves. Imagine, por exemplo, que um pedestre ou ciclista faz um cálculo mental baseado na velocidade padrão de automóveis para poder atravessar uma rua, ou fazer uma curva, sem ser atingido em cheio. Concorda que esse cálculo muda consideravelmente quando feito com um carro elétrico? Mas se a pessoa em questão não está acostumada a lidar com EVs no dia a dia, a chance do cálculo dar errado é grande.

Manutenção e reparos

Em geral, veículos elétricos requerem menor manutenção e reparos. Parte dessa (falta de) necessidade se deve à alta tecnologia que é comumente atrelada a esses veículos. Ou seja, para fazer um upgrade ou corrigir uma possível falha, basta fazer uma atualização no sistema. Apesar das facilidades, novos tipos de processos e sistemas também podem significar problemas de reparo de automóveis diferentes.

Afinal, depender de software para um perfeito funcionamento pode trazer um aumento nas atualizações over-the-air, o que como consequência pode também significar novos bugs. Por exemplo: em novembro passado, a Tesla foi obrigada a fazer um recall de 40 mil carros porque uma atualização no firmware causou problemas na direção hidráulica dos veículos.

Moral da história?

Veículos elétricos podem, sim causar uma revolução e eliminar grandes problemas causados hoje por carros a combustão. Mas isso não significa que eles serão a salvação para todos os problemas, mas sim que novos desafios precisarão ser igualmente corrigidos.

Via Vox e International Energy Agency

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