Dois novos vídeos do jogo Black Myth Wukong foram divulgados com bastante tempo de gameplay, no intuito de ressaltar as suas capacidades de ray tracing, bem como o emprego da tecnologia DLSS das placas de vídeo da NVIDIA.

O jogo faz uso da Unreal Engine 5, a versão mais atualizada do motor gráfico desenvolvido e licenciado pela Epic Games. Nos vídeos, que você confere abaixo, é possível ver um realismo acima da média, mesmo considerando o ambiente fantasioso do jogo.

Ray tracing” é o nome dado à tecnologia visual capaz de reproduzir com alta fidelidade reflexos de luz e sombra, projeção de brilho e outros efeitos oculares relacionados à luminosidade ambiente. Gran Turismo 7, por exemplo, é um jogo com suporte à tecnologia no PlayStation 5, onde permite que efeitos do ambiente, como gotas da chuva, tragam reflexos fidedignos de luz para o espectador.

Este recurso existe há anos e era comumente usado em imagens estáticas, pois exige um processamento mais lento e cuidadoso. Entretanto, desde meados de 2018, recursos de aceleração de hardware permitiram que a tecnologia fosse aplicada em projetos gráficos de tempo real – efetivamente tornando-se essencial para o mercado dos videogames.

Já o DLSS é a sigla em inglês para “Super Amostragem de Aprendizado Aprofundado”, uma tecnologia exclusiva da NVIDIA para sua linha RTX de placas de vídeo. Em termos mais abrangentes, trata-se de um recurso que emprega a inteligência artificial (IA) no aprimoramento e escalada (upscaling) de imagens em tempo real, permitindo que o usuário siga a sua preferência de apresentação gráfica em favor de maior resolução ou maior taxa de reprodução de quadros, sem sacrificar o desempenho.

Tudo isso será aplicado em Black Myth Wukong, um jogo desenvolvido pela chinesa Game Science e que será baseado na obra Journey to the West, do século XVI e autoria atribuída ao poeta Wu Cheng’en. Nela é retratada a peregrinação do monge budista  Xuanzang, que viajou à Ásia Central e ao subcontinente indiano em busca dos sūtras – textos sagrados da fé budista. Tal tarefa lhe teria sido concedida pelo próprio Sidarta Gautama, o “Buda” original.

No livro, o monge é acompanhado de três protetores: um búfalo (Sha Wujing), um porco/javali (Zhu Bajie) e o mais conhecido, o “Rei Macaco” (Sun Wukong). No jogo, você progride pelo ponto de vista deste último, uma figura mitológica humanóide que é exímia praticante de artes marciais e dotada de imensos poderes, mas que rebelou-se contra o Samsara, o conjunto de sete “paraísos” do Budismo e, por isso, foi isolado por Buda, condenado a viver preso sob uma montanha.

O título da Game Science não deve seguir à extrema risca o relato do livro original, mas vai aproveitar alguns de seus elementos mais fantásticos – o “Macaco Rei” é descrito como dono de habilidades que vão desde a transformação em vários outros animais e a capacidade de criar cópias de si mesmo. Segundo as divulgações oficiais, o jogo segue o gênero soulslike, eternizado por Demon Souls, Dark Souls e outros jogos que prezam pela dificuldade amplificada.

O jogo está previsto para lançamento em 2023, para PlayStation 5, Xbox Series S/X e Windows (PC).

Black Myth Wukong quase sofreu boicote

Uma das razões pelas quais o jogo não tem uma janela de lançamento mais específica se dá pelo fato da desenvolvedora Game Science ter se envolvido em diversas polêmicas ao longo de 2020.

Segundo as informações divulgadas pela mídia chinesa e reproduzidas na imprensa ocidental, no centro da discussão estava Feng Jì, o CEO do estúdio, que fez diversos comentários hiper sexualizados por meio de sua conta no Weibo, a rede social de microblogs na China análoga ao Twitter.

Nas postagens, feitas um dia após a divulgação de um trailer de Black Myth Wukong, Ji afirmou que o jogo estava trazendo muitos currículos de pessoas interessadas em trabalhar na empresa, dizendo que ele próprio vinha “sendo lambido tanto que não conseguia mais ter uma ereção”. Embora Ji não tivesse expressamente mencionado o público feminino, muitos disseram que as suas palavras foram subjetivamente direcionadas a “candidatas”, não “candidatos”.

De qualquer forma, as publicações fizeram com que usuários de internet fossem atrás de mais informações sobre a empresa, e foi aí que o problema tomou proporções maiores: diversos anúncios de vagas de trabalho de 2015, que vinham acompanhados de imagens sexualizadas, como o desenho de um homem segurando uma lata de energético ou um mouse sobre sua genitália, entre outros materiais gráficos. Tais anúncios foram deletados, mas não falharam em denunciar uma cultura abusiva e sexualmente tóxica dentro da empresa.

Os anúncios de vagas de emprego da Game Science - produtora do jogo Black Myth Wukong - abusavam da sexualização e foram alvo de contestação pelo público (Imagem: Game Science/Reprodução)

Os anúncios de vagas de emprego da Game Science – produtora do jogo Black Myth Wukong – abusavam da sexualização e foram alvo de contestação pelo público (Imagem: Game Science/Reprodução)

Vale lembrar que, segundo um levantamento do Comitê de Grupo da China para a Indústria dos Videogames (CGIGC), 46% do público gamer no país são representados por mulheres – em números expressos, isso dá uma marca superior a 300 milhões de pessoas.

Feng Ji nunca se retratou oficialmente pelas suas publicações, mas tem mantido uma presença online bastante reduzida desde então. Na época dos relatos, Black Myth Wukong sofreu repetidas tentativas de boicote, mas o interesse no jogo nunca diminuiu.

Via WCCFTech | SupChina

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