Aquisição da Activision pela Microsoft tem percalços na Europa
No Reino Unido, órgão regulatório diz que negociação pode fazer mal a jogadores, e Comissão Europeia emitiu alerta antitruste contra a MicrosoftBy - Rafael Arbulu, 8 fevereiro 2023 às 12:37
As coisas não vão bem para a Microsoft na Europa: a proposta da empresa de adquirir a Activision Blizzard – uma negociata de quase US$ 70 bilhões (R$ 363,53 bilhões), a maior da história da indústria de jogos – encontrou obstáculos tanto no Reino Unido quando na Comissão Europeia, com órgãos regulatórios afirmando contrariedades à ideia.
De um lado, a Autoridade de Concorrências e Mercado (CMA) britânica disse que a negociação, se avançar integralmente, pode “fazer mal a jogadores” em relatório preliminar, ao passo em que a Comissão Europeia decidiu ser mais incisiva e emitiu um “alerta de antitruste” contra a dona do Xbox.
A Microsoft fez a proposta de aquisição da Activision Blizzard em janeiro do ano passado, ela sendo acatada por todas as partes envolvidas poucas semanas depois. No entanto, uma negociação desse tamanho requer aprovação de órgãos reguladores econômicos de vários países – e para o azar das empresas, isso é feito caso por caso.
No Brasil, por exemplo, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) pediu por documentos mais detalhados e maiores esclarecimentos, mas acabou aceitando a ideia. Nos EUA, a Comissão Federal de Comércio levantou processo judicial contra a Microsoft – uma situação ainda pendente, aliás.
Na Europa, os problemas parecem se repetir: o Reino Unido já vinha sinalizando contrariedade à aquisição, e agora a CMA publicou seu relatório preliminar (valeu, Videogames Chronicle!) indicando que o avanço das negociações não faria bem ao mercado mundial de jogos. Segundo o órgão, a aquisição poderia “reduzir o potencial de concorrência, aumentar preços, reduzir possibilidade de escolhas do consumidor e resultar em menos inovação para os jogadores”.
Já a Comissão Europeia, que regulamenta propostas do tipo para toda a União Europeia (o Reino Unido deixou a UE em janeiro de 2020, com o Brexit), decidiu “bater a mão na mesa”, para manter o nível da expressão popular, e emitiu um aviso de prática antitruste à Microsoft. Na prática, tais avisos não constituem necessariamente um processo, e estão mais para o “estamos vendo, não estamos gostando e achamos que vai dar problema então considere-se notificado”.
Os detalhes não foram divulgados pelas fontes do Politico, que divulgou a informação em primeira mão, então é possível que novos “episódios” dessa novela apareçam nos próximos dias.
Uma solução para a Microsoft
Com EUA, Reino Unido e Europa – três dos principais (se não “os” principais) mercados de jogos do mundo – se opondo à aquisição da Activision Blizzard, a Microsoft está vendo seu ambicioso projeto de expansão bastante ameaçado. Depois da comunicação esquisita da líder global de comunicação da Activision, ainda, a situação parece ter ficado ainda mais dificultosa – e a companhia de Redmond se vê às pressas de buscar uma solução.
Uma sugestão foi feita pela própria CMA britânica. O relatório preliminar, embora contrário à aquisição integral, parece favorecer outro tipo de negociação: para o órgão, uma boa ideia pode ser a Activision vender partes de seus negócios a outras empresas, e o que sobrar dela, a Microsoft leva.
Além disso, a CMA também sugere desvincular a franquia Call of Duty da negociação: possivelmente a marca mais popular dos jogos de tiro em primeira pessoa do planeta, ela é uma propriedade intelectual da empresa a ser adquirida – e um ponto extremamente contencioso para a concorrente Sony e outras companhias.
Mais além, a CMA disse que poderia reconsiderar sua opinião caso houvesse um compromisso permanente de que a franquia Call of Duty permanecesse em seu caráter multiplataforma – ou seja, mesmo a Microsoft sendo dona da marca, ela não ficaria exclusiva à marca Xbox. Vale citar: a própria Microsoft já levantou essa possibilidade quase 10 vezes.
Entretanto, o órgão ressaltou que essa seria a solução menos viável, e que a preferência ainda é a de que a proposta siga a direção da reestruturação corporativa.
Embora a Comissão Europeia não tenha sinalizado nada do tipo, a CMA em si parece estar mais aberta à conversa, e pediu que Microsoft e Activision oferecessem respostas preliminares até o dia 22 deste mês, com propostas reconsideradas até o início de março. Em comunicado, a Microsoft afirmou seu compromisso em “adereçar a todas as preocupações da CMA”.
É, esse assunto ainda vai longe…
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