‘Absolutamente’ insustentável, diz denunciante sobre modelo de negócios da Uber
Ex-funcionário por trás do caso Uber Files ainda lembrou que o atual CEO e sua equipe "têm feito muitas coisas boas, mas eles ainda têm muito a fazer"By - Liliane Nakagawa, 3 novembro 2022 às 22:34
Durante a conferência de tecnologia Web Summit, que termina nesta sexta-feira (4) em Lisboa (Portugal), o denunciante responsável pelo Uber Files voltou a criticar o modelo de negócios da empresa de transporte. De acordo com Mark MacGann, ele ainda era “absolutamente” insustentável, embora a Uber parecesse estar tomando medidas para melhorar a cultura de trabalho.
Enquanto funcionário da companhia, MacGann liderou esforços de lobby para conquistar governos, em julho identificou-se como responsável pelo vazamento dos mais de 124 mil arquivos da Uber.
A decisão de abrir as informações, segundo ele, foi porque acreditava que a companhia desrespeitava conscientemente as leis e iludia as pessoas sobre os benefícios para motoristas no modelo de gig economy [baseado em trabalhos flexíveis, temporários ou freelance, muitas vezes envolvendo relacionamento com clientes por meio de uma plataforma online] da empresa.
“Minha mensagem para a Uber é: ‘vocês fizeram bem, (mas) vocês podem fazer muito melhor (porque) o modelo atual não é absolutamente sustentável'”, disse MacGann em uma conferência de imprensa realizada durante o Web Summit, que acontece de 30 de outubro a 4 de novembro, em Portugal.
MacGann adicionou que o atual CEO de Uber, Dara Khosrowshahi, e sua equipe executiva “têm feito muitas coisas boas, mas eles ainda têm muito a fazer”.
O caso Uber Files produziu manchetes em jornais como The Guardian e Le Monde, os quais relataram que a empresa havia desrespeitado leis e pressionado secretamente políticos como parte de um agressivo esforço para expandir negócios para novos mercados entre os anos 2013 e 2017. Após as informações se tornarem públicas, Emmanuel Macron, atual presidente da França, sofreu pressão da oposição por ter sido ligado à Uber quando ocupava o cargo de ministro da economia.
À época, a Uber respondeu às reportagens dos jornais afirmando que não tinha e não daria “desculpas para comportamentos passados” que claramente não estavam de acordo “com nossos valores atuais”.
MacGann: Uber fala em flexibilidade e processos de motoristas sem ‘mínimo básico de proteção social’
Na quarta-feira (2), um porta-voz da Uber respondeu à solicitação de um comentário da Reuters com um artigo do New York Times de 2020, no qual Khosrowshahi disse que “nosso atual sistema de emprego está desatualizado e injusto”.
O atual CEO da companhia havia dito que ao empregarem os trabalhadores, eles perderiam a flexibilidade que têm hoje, além de encarecer as corridas. Segundo Khosrowshahi, os trabalhadores da gigante querem tanto flexibilidade quanto benefícios, acrescentando que novas leis são necessárias para ajudá-los.
“Estou propondo que empresas da gig economy sejam obrigadas a estabelecer fundos que revertam dinheiro aos trabalhadores, para que eles possam usá-lo para benefícios que eles querem, como seguro saúde ou tempo livre pago”, escreveu Khosrowshahi no artigo.
Recentemente, de acordo com MacGann, a Uber reiterou que “o núcleo de seu modelo de negócios são os contratados independentes, já que todos querem ser autônomos e querem flexibilidade”. Entretanto, ele observou que os fatos contradizem esta visão, já que há motoristas da companhia processando-a em vários países para “ter um mínimo básico de proteção social, como o subsídio de doença”.
“A Uber está bombeando dezenas de milhões de dólares na Europa, Estados Unidos, e outras partes do mundo lutando contra a legislação”, finalizou MacGann.
Via Reuters
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