Jogar A Plague Tale: Requiem, sequência direta de A Plague Tale: Innocence, foi certamente um desafio, considerando que eu tive muita dificuldade em avançar no primeiro jogo. Ainda assim, nos cinco minutos iniciais do segundo título, percebi que estava diante de um produto que eleva o significado da palavra continuação de muitas maneiras.

Se para mim, Innocence pecou um pouco por não conseguir me fisgar imediatamente, seja por conta dos problemas técnicos, de ritmo narrativo ou pelo estresse com o pequeno Hugo; eis que Requiem vem para consertar essas e outras falhas. O game já se inicia com o garoto e sua irmã Amicia mostrando uma conexão forte — inclusive, isso é algo que pode causar estranhamento em desavisados de plantão.

Isso porque Amicia e Hugo tardam a se conectarem verdadeiramente em Innocence, enquanto que em Requiem, os dois estão dispostos a praticamente tudo pelo bem estar um do outro, do início ao fim — e, mesmo trazendo uma ambientação e adaptações interessantes da História, é no aspecto do relacionamento entre os irmãos que A Plague Tale verdadeiramente brilha.

Além disso, enquanto a narrativa conduz o jogador a enxergar os tons de cinza em Amicia, para Hugo, o que sobra é emocionar e encantar, uma vez que ele amadureceu e está mais consciente dos perigos que ameaçam a ele e sua família — a misteriosa doença conhecida como Macula, a praga dos ratos que o persegue, e o que é a Inquisição.

Depois de seis meses do final de Innocence, Amicia e Hugo estão com a mãe e alquimista Beatrice, e o aprendiz Lucas, em Provença, no sul da França. Eles tentam viver tranquilamente, sem resquícios de guerra ou de doenças, e buscam um alquimista integrante da Ordem que poderá ajudá-los com uma cura para o garoto.

[Review] A Plague Tale: Requiem vem para emocionar e deixar sua marca como um dos melhores jogos do ano
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Entretanto, como bem diriam Os Racionais: “Pra quem vive na guerra, a paz nunca existiu”, e mercenários, soldados da Inquisição e claro, os ratos (e por tabela a praga), logo reaparecem na em suas vidas.

Com isso, a Macula torna a despertar em Hugo e cabe a Amicia levá-lo até uma ilha idílica localizada no Mar Mediterrâneo. Seguindo as pistas deixadas pelos contínuos sonhos do garoto, a água do misterioso lugar possui propriedades de cura e, portanto, se torna a luz no fim do túnel para os dois.

Gameplay está muito melhor, mas ainda tem problemas

Se em Innocence a jogabilidade era travada — o que impede um avanço mais orgânico da jornada —, em A Plague Tale: Requiem esse aspecto técnico está muito melhor. Apesar de Amicia e Hugo ainda correrem de forma esquisita quando não estão de mãos dadas, as animações de forma geral estão mais bonitas, rápidas e fluídas.

Existem mais momentos de combate em Requiem e, nessas ocasiões, o game tende a conduzir o jogador a ser mais furtivo quando encontra inimigos humanos. Claro que Amicia pode atacar e/ou ser oportuna quando o momento condiz, atordoando seus oponentes com a atiradeira ou até mesmo perfurando-os com lâminas ou flechas, mas ela ainda não consegue desviar de lanças e flechas, por exemplo.

Faz sentido e condiz com o fato de que Amicia não é uma ninja ou coisa do gênero. Mesmo assim, algumas frustrações poderiam ser evitadas, ainda mais considerando que, com no máximo dois golpes, ela é morta pelos inimigos humanos e a única maneira de saber se sua saúde está boa ou ruim, é pelos efeitos e cores estampadas na tela.

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Vale mencionar ainda que a protagonista evolui habilidades passivas, conforme suas escolhas em campo: prudência, agressividade e oportunismo. Tudo isso vai melhorando de acordo com a forma que você decide enfrentar as situações.

Com os ratos, porém, essas situações são mais intensas e complexas — no bom sentido. Isso porque nesses momentos, o jogo induz você a ser mais criativo e dinâmico contra a ameaça dos ratos, combinando/construindo itens inflamáveis para abrir caminho, criar distrações ou para afugentá-los. 

Felizmente, como Requiem entrega um ritmo muito mais equilibrado entre gameplay, combate, progressão narrativa, exploração e resolução de enigmas, as partes em que é preciso lidar com a praga dos ratos realmente te deixam com os ombros travados de tanta tensão, além de curioso para saber o que vem a seguir.

Por falar em enigmas…

Quando você não estiver fugindo furtivamente de soldados da Inquisição ou afugentando os ratos em ambientes escuros, provavelmente estará explorando os belíssimos cenários abertos ou desvendando os corredores claustrofóbicos de torres, ruas, becos e construções diversas, ou melhor ainda, resolvendo enigmas.

Os quebra-cabeças de A Plague Tale: Requiem não são desafios de outro mundo, e em sua grande maioria, apresentam soluções simples, mas nem por isso são menos engenhosos ou desinteressantes. Na realidade, eles conversam muito bem com os cenários e servem para apresentar novas mecânicas e alquimias para o jogador.

Imagem de A Plague Tale: Requiem

Focus Entertainment/Divulgação

Além disso, a jornada de Amicia e Hugo cruza o caminho de muitos novos personagens ao longo de Requiem e, mesmo minimamente, todos eles contribuem de forma importante para a narrativa evoluir, além de oferecerem mecânicas complementares que são únicas para os momentos focados em quebra-cabeças ou em combates. 

Como alguém que aprecia muito a resolução de enigmas em franquias como Resident Evil, me senti verdadeiramente em casa jogando A Plague Tale: Requiem, mesmo que o novo game não seja exatamente do gênero de terror de sobrevivência. Além disso, se você também está vivendo a frustração coletiva causada pelo recente Scorn, talvez os quebra-cabeças mais simples, mas igualmente inteligentes da jornada de Amicia e Hugo lhe sirvam bem.

Música para os ouvidos e colírio para os olhos

Como já mencionado, as animações estão muito melhores, de maneira geral. O salto visual de Innocence para Requiem é bastante visível e representa o esforço do Asobo Studio em expandir a sequência de várias formas. As expressões faciais e corporais, em especial, estão mais realistas e os olhos dos personagens dizem muito mesmo quando eles estão em silêncio durante as cinemáticas. Os efeitos de água e de fogo, então, estão incríveis!

A parte sonora, por sua vez, é literalmente música para os ouvidos, mesmo quando os violinos e violoncelos pareçam reproduzir apenas cacofonias. Isso porque as distorções e agudos constantes dos instrumentos se sobrepõem muitas vezes aos momentos, sejam eles dramáticos, épicos ou combativos.

Vale apontar que essa sinergia de sons, mesmo quando são desconfortáveis, não são reproduzidos sem uma razão: eles representam as emoções vingativas de Amicia, o desespero e a desesperança de Hugo, a expansão da Macula, a aproximação dos ratos, a tragédia da guerra, e muitos outros sentimentos que emocionam e marcam a memória — e os ouvidos.

Imagem de A Plague Tale: Requiem

Focus Entertainment/Divulgação

O trabalho de imersão aqui, me lembra vagamente o que foi feito em Hellblade: Senua’s Sacrifice, mas claro, sem a parte psicótica da protagonista. Por isso, minha recomendação é que você jogue A Plague Tale: Requiem com fones de ouvido, se possível. O game oferece legendas, claro, mas o acessório vai facilitar entender um pouco mais os diálogos entre Amicia e Hugo quando os dois estão praticamente sussurrando um com o outro, ou quando estão falando consigo mesmos.

A Plague Tale: Requiem vale a pena?

Bastante. Os baixos são extremamente pontuais, enquanto os altos de A Plague Tale: Requiem são constantes, entregando uma sequência maior (cerca de 20 horas de duração, o de A Plague Tale: Innocence), mais expansiva e muito melhor em diversos aspectos.

 A narrativa é muito bem construída e amarrada; os personagens são cativantes; a jogabilidade, gráficos e áudio oferecem um excelente conjunto da obra; a exploração, os combates e a resolução de enigmas são equilibrados, e tudo isso atesta a entrega de um belíssimo conjunto da obra.

A experiência como um todo é emocionante, e o desfecho consegue finalizar o que propõe, mas ainda deixa brechas que podem ser exploradas no futuro — algo que eu, pessoalmente, gostaria que acontecesse, dado o quanto A Plague Tale: Requiem me deixou investida na jornada de Amicia e Hugo.

O único problema que enfrentei constantemente foram alguns travamentos de cerca de meio segundo, quando Amicia e Hugo chegavam a novas localidades, provavelmente ocasionado pelo carregamento do cenário — isso porque eu joguei em um PC com Intel Core i7, memória de 32GB DDR3, armazenamento SSD, e placa Nvidia GeForce RTX 2070 Super.

[Review] A Plague Tale: Requiem vem para emocionar e deixar sua marca como um dos melhores jogos do ano
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A Plague Tale: Requiem é uma das melhores experiências de games de 2022 e chega em 18 de outubro para PC (via Epic Games Store e Steam), Nintendo SwitchXbox Series X/S e PlayStation 5. O game também será lançado no Xbox Game Pass no Dia 1.

O game foi analisado por meio de uma cópia antecipada para Steam fornecida pela Focus Entertainment.

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