Conhecer os meandros do mundo blockchain ainda está longe da maioria dos internautas. A tecnologia, conforme descreve a gigante IBM, é um “livro-razão compartilhado e imutável usado para registrar transações, rastrear ativos e aumentar a confiança”. No fim do dia, a grande vantagem é a redução dos riscos nas transações, com o monitoramento de cada registro.

Apostar em blockchain pode trazer bons resultados; não somente para as criptomoedas, mas para uma série de iniciativas. O blog KaBuM! selecionou algumas que podem ser apelidadas de “blockchain para o bem”, pois, além do investimento, têm impacto real em comunidades e negócios.

1) Hathor e a blockchain “verde”

Blockchain “verde” é a aposta da Hathor. A empresa de origem brasileira oferece uma remuneração extra a mineradores que utilizam energias renováveis.

A Hathor “utiliza dois processos principais para reduzir o impacto ambiental: quem minera bitcoins, minera HTR adicional (Hathor, o token da empresa), e a Hathor.Green, uma bonificação para mineradores que usam energias limpas“, explica o CEO Yan Martins.

A Hathor associou-se ao Crypto Climate Accord, um acordo global para diminuir o impacto ambiental das criptomoedas. “De muitas maneiras, a comunidade de criptomoedas está envolvida com impacto social, basta ver o esforço conjunto realizado para apoio ao Julian Assange“, conta Martins.

2) Culte Coin: blockchain para agricultura familiar

A Culte Coin apostou na agricultura familiar e a CFO, Bianca Ticiano, conta que a tecnologia blockchain foi escolhida por “permitir a realização de transferências de ativos por meio de transações totalmente seguras e transparentes”. A tecnologia é utilizada para facilitar a comercialização de produtos agrícolas com planejamento. A Culte tem um mercado descentralizado, que conecta produtores a clientes.

A ideia é permitir a compra antecipada da produção de pequenos agricultores, contribuindo para o crescimento da agricultura familiar. O mercado conecta o produtor a empresas (agroindústrias, cooperativas, hospitais, hotéis, restaurantes e outros) para a realização de compras maiores. Por outro lado, os agricultores também podem realizar compras em conjunto, conseguindo melhores condições junto aos fornecedores.

“Temos ainda um outro projeto voltado para a criação de NFTs para o Agronegócio, com objetivo de apoiar o pequeno agricultor a ter acesso a crédito”, conta a executiva.

Entre as iniciativas inspiradora de atuações como a da Culte, Bianca aponta o projeto da Binance e Tree Millions, que ajudará a plantar árvores com menor impacto de energia. A iniciativa é semelhante ao projeto da Samsung para plantar árvores em Madagascar utilizando a tecnologia blockchain.

3) Moeda Seeds: blockchain para quem não tem banco

Moeda Seeds é o nome de uma iniciativa brasileira que vai no centro de algo essencial para decide apostar em blockchain: o sistema bancário. Mesmo quem tem baixa renda e vive em locais sem bancos consegue fazer transações financeiras e ter uma identidade digital com blockchain. A CEO, Taynaah Reis, conta que “a Moeda é um ecossistema de serviços financeiros e tecnologia” e mais ainda, tem “foco na população desbancarizada”.

A empresa utiliza a tecnologia blockchain com foco em pessoas que precisam de soluções de pagamento com serviços, segurança e a custos acessíveis para o dia a dia. O objetivo é “a promoção do desenvolvimento social, econômico e sustentável de produtores e organizações localizadas em comunidades rurais, urbanas, quilombolas e indígenas, com prioridade para mulheres”, afirmou ainda a CEO.

A plataforma da Moeda está pronta para crescer globalmente, “nossa missão é servir como ponte das ineficiências tradicionais para serviços financeiros sustentáveis construídos em blockchain”.

Um projeto da Moeda Seeds que atingiu destaque na mídia nacional foi o AllBeTunedNFTs, com músicas de artistas brasileiros disponíveis no metaverso. Artistas do Prêmio Multishow tiveram NFTs distribuídos gratuitamente pela plataforma. Os NFTs da CEO, Taynaah Reis, que também é cantora, também estão disponíveis por lá.

4) Instituto Alinha: blockchain no combate ao trabalho escravo

Para a CEO do Instituto Alinha, Dari Santos, o blockchain é uma “ferramenta para gerar impacto”. Focado na melhora de vida para oficinas de costura, o Instituto faz um trabalho de consultoria que começa na formalização de pequenos negócios, com padrões de segurança do trabalho, até o alinhamento com marcas e estilistas. O uso de blockchain garante o rastreamento da produção e atesta a origem das peças desde as oficinas de costura.

O Instituto Alinha combate o trabalho escravo na cadeia da moda. Com uma etiqueta rastreável por blockchain nas peças, o consumidor pode saber exatamente onde a roupa foi produzida e por quais oficinas passou.

O Alinha não surgiu utilizando tecnologia blockchain, tendo nascido em 2014. A escolha ocorreu em 2018 quando o Instituto participou de uma maratona da SAP para ferramentas que criam impacto social. “Por ser um smart contract, o blockchain nos permite certificar o produto”, explica a CEO.

“A cadeia da moda é pulverizada, se passa em várias oficinas, pode ter até 12 pessoas fazendo uma mesma peça, cada oficina confirma as informações”, detalha. Com a confirmação de cada bloco da cadeia, há mais transparência e são geradas relações mais justas de trabalho. “Tínhamos oficinas que cobravam R$ 10 para costurar um vestido, por exemplo, após o alinhamento seu preço teoricamente poderia ir até a R$ 100, sendo que R$ 50 pode ir para geração de renda e outros valores para custos de tecido, logística, marketing etc.”. O Instituto Alinha promete não parar por aí. “Queremos colocar informações de impacto ambiental nas roupas, há ainda muitas possibilidades”, revela Santos.

5) Bomvalor: leilões em blockchain com sustentabilidade

A Bomvalor é uma empresa de leilões online que utiliza blockchain. Em um mercado onde a comprovação de origem e destino de transações financeiras é chave, a startup apostou na tecnologia com parceiros como IBM e treinamento dos leiloeiros.

No modelo de blockchain adotado pela Bomvalor, em parceria com a InterlockLedger, as transações acontecem em ambientes privados, em um sistema de assinaturas digitais e de consentimento no qual apenas as partes diretamente envolvidas na operação irão trocar dados e registros. No caso dos leilões online realizados pela Bomvalor, as informações das transações são compartilhadas apenas entre as plataformas da rede, o vendedor, o leiloeiro e o comprador.

“Assim, não há a necessidade de um consenso global distribuído, que envolve um número enorme de servidores, requer operações algorítmicas complexas e um volume gigantesco de processamento de dados, consumindo quantidades enormes de energia desnecessariamente”, explica Ronaldo Sodré Santoro, fundador e Head de Produtos Digitais e Tecnologia da rede Bomvalor.

Para Santoro, blockchain é “uma revolução cultural que estamos presenciando, com a chegada da web3, da descentralização”. A tecnologia traz o benefício adicional do probatório jurídico, necessário no mercado de leilões. “É muito importante a idoneidade no mercado, para que usuários não caiam em sites falsos com leilões sem procedência”, conta Santoro. Com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), os leilões com procedência assegurada tornam-se ainda mais importantes, com o uso de chaves criptografadas para as transações.

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