É muito comum que jogadores experientes comparem games entre si. Seja em conversas casuais, recomendações ou explicações, o comparativo com franquias conhecidas é um artifício bastante utilizado — e inevitável, em especial, quando surge uma nova propriedade intelectual (IP) na indústria. Entretanto, pouco é dito quando nasce uma exceção a esta regra, como é o caso de Wild Hearts.

A primeira impressão deixada pelo novo título do estúdio Omega Force (divisão da Koei Tecmo) remete a Monster Hunter. Seria mentira dizer que não existe inspiração, e é possível fazer correlações observando os detalhes — alguns serão mencionados mais à frente, neste texto. Mas mesmo pautado por semelhanças (positivas, claro), Wild Hearts é bastante diferente da franquia de sucesso produzida pela Capcom.

Karakuri — o coração de Wild Hearts

A principal diferença entre Wild Hearts e Monster Hunter reside nos karakuri. Basicamente, trata-se de uma tecnologia ancestral que permite utilizar a energia da natureza para fabricar ferramentas e armas, as quais vão ajudar o jogador na exploração, coleta de recursos, gerenciamento, locomoção, treinamento e, claro, no combate contra os kemono (nome dos monstros que devem ser caçados).

Na história do jogo, este conhecimento esteve perdido por muitos anos, mas o personagem principal (o boneco que você cria e personaliza no início da aventura) consegue despertá-lo para fins de sobrevivência. Devido a este detalhe da narrativa, as habilidades do karakuri são descobertas aos poucos.

Alguns karakuri podem ser aprimorados para durar mais ou conseguir um alcance maior, mas o importante a se saber é que Wild Hearts se destaca quando o assunto é essa mecânica. Isso porque a tecnologia da natureza pode, muitas vezes, alterar completamente o resultado de um combate contra os kemono.

Seja fundindo trampolins para que eles se transformem em um esmagador (algo que tira bastante dano), ou fabricando tirolesas que podem prender os monstros gigantes durante a caçada, os karakuri podem ser utilizados de diversas formas, e a criatividade para bolar estratégias depende unicamente do jogador. 

[Review] Wild Hearts é engenhoso e burocrático, mas belíssimo e divertido
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Muitas vezes, claro, as táticas podem ser aprendidas com outros jogadores. Você pode tanto pedir ajuda em caçadas específicas ou montar um grupo de caçadores para jogar juntos. E claro, quanto mais pessoas, mais divertido Wild Hearts fica.

Apesar de o multiplayer ser 100% opcional (já que é possível jogar o game sozinho, se preferir), vale apontar que Wild Hearts é cross-platform, o que significa que você pode jogar com diferentes pessoas em qualquer uma das plataformas nas quais o game está disponível.

Burocrático, mas divertido

Ainda na carona do assunto diversão, Wild Hearts possui sim algumas burocracias que podem torná-lo um pouco maçante — e aqui, é possível perceber algumas semelhanças com Monster Hunter. 

Um bom exemplo são os fossos do dragão, que são basicamente poças de energia obstruída. Ao desbloquear (e fortalecer) estes pontos no mapa, você pode fabricar karakuri do tipo dragão. Como alguns são essenciais para sobreviver, é recomendado que você desbloqueie todos os fossos que encontrar pelo caminho.

Também é possível se alimentar antes das caçadas, e dependendo do que seu personagem consumir, alguns benefícios são concedidos. Também é necessário minerar recursos para fabricar karakuri, e encontrar os tsukumo.

Essas criaturinhas são ajudantes de caça, e além de fornecerem materiais para fabricação de karakuri, ainda conseguem distrair os monstros ou curar seu personagem quando estiver a beira da morte. Quanto mais tsukumo você resgatar (existem 50 deles em cada região), melhores e mais fortes eles ficam.

[Review] Wild Hearts é engenhoso e burocrático, mas belíssimo e divertido
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São tantos detalhes que a quantidade de informações e mecânicas pode sobrecarregar o jogador. Ainda assim, quanto mais tempo você passar jogando Wild Hearts, mais domínio terá sobre o gameplay e suas nuances. Afinal, o tempo é aliado da prática, então quanto mais tempo se dedicar, mais chances terá de tirar de letra essa aventura.

Além disso, diferente da franquia de caçada da Capcom, Wild Hearts felizmente oferece interfaces mais práticas e menus super limpos, o que ameniza a sensação de estar sendo engolido por tantas informações na tela.

Desempenho ameaçador

Para esta análise, Wild Hearts foi jogado no PC, via EA Play, aplicativo oficial da EA. Durante os primeiros dias após o lançamento do jogo, infelizmente o game apresentou um desempenho preocupante, com quedas constantes na taxa de quadros por segundo (FPS). Isso acontecia especialmente durante as batalhas contra kemonos gigantes.

Dias depois, felizmente, atualizações com correções no desempenho foram lançadas, mas o mesmo problema ocorreu, com quedas (agora menos bruscas) de quadros por segundo em algumas batalhas contra kemonos gigantes. Outros problemas enfrentados incluem travamentos em momentos em que existem muitos elementos em tela ao mesmo tempo, e até mesmo o encerramento súbito do jogo.

Também houve um problema com arquivos de save, onde foram perdidos cerca de nove horas de progresso devido a um pico de energia que desligou o PC por um momento. Isso fez com que os arquivos de save fossem corrompidos — o que não deveria acontecer, justamente porque o backup para os arquivos locais é justamente o save na nuvem, mas mesmo assim, todos se perderam.

Minha recomendação é que, caso você esteja jogando no PC, procure fazer backups regulares da pasta de arquivos de save, para não passar pelo mesmo estresse.

Refletindo as belezas da natureza

[Review] Wild Hearts é engenhoso e burocrático, mas belíssimo e divertido
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Mesmo com os problemas de desempenho no PC, Wild Hearts apresenta uma beleza inconfundível. As paisagens são belíssimas, as criaturas são diversificadas e possuem designs criativos, existe um ótimo número de kemonos (considerando que esta é uma IP completamente nova), e durante a exploração os karakuri muitas vezes permitem que você contemple a natureza e tudo o que ela pode oferecer.

A trilha sonora, por sua vez, é espetacular e tão bonita quanto os cenários do jogo. O trabalho é assinado por Daisuke Shinoda, Junya Ishiguro, Ippo Igarashi, Modanqing Zhu e Masashi Hamauzu — com destaque para este último, que trabalhou na franquia Final Fantasy e diversos outros JRPG de sucesso.

Todos os temas dos kemono, sem exceção, são marcantes que vão te manter imerso nas caçadas. E ao passo que a luta avança, a dinâmica das faixas se altera para refletir as diversas emoções da batalha.

Outro detalhe que chama a atenção na parte gráfica é o estilo visual de Wild Hearts. Por ser ambientado em uma versão fantasiosa do Japão feudal, o jogo usufrui do belíssimo sumi-e, a arte da pintura a tinta bastante popular na região leste da Ásia.

A história de Wild Hearts

Seu personagem, um andarilho, começa a aventura ao conhecer Mujina, uma figura misteriosa e mascarada que o aborda repentinamente. Pouco tempo depois, você salva a vida da artesã Natsume, uma mulher que está desacordada e tem sua vida colocada em risco quando um kemono aparece.

Após derrotar a criatura, você é apresentado a outros personagens, como o ex-soldado Ujishige e a cientista Suzuran, e conhece o vilarejo de Minato, uma das últimas resistências da região aos kemono.

[Review] Wild Hearts é engenhoso e burocrático, mas belíssimo e divertido
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Na cidade (que funciona como um hub), você pode interagir com outros moradores, forjar equipamentos, armas, acessórios e, claro, aceitar missões secundárias que oferecem boas recompensas em sua grande maioria.

Progredindo, você logo se vê apegado ao carismático elenco de apoio de Wild Hearts, e disposto a proteger o vilarejo de Minato da ameaça dos kemono. Afinal, estas feras transformadas pela natureza vagam pelo mundo de Azuma e destroem tudo que está ao alcance.

Para impedir que Minato e seu povo desapareçam da história de Azuma, você deve enfrentar os kemonos e, a partir das caçadas, coletar os itens deixados pelas ferozes criaturas para forjar armas e equipamentos cada vez mais fortes e resistentes.

Felizmente, a narrativa de Wild Hearts não se desenvolve de maneira simples, e reserva muitas surpresas. Eu não sei se isso também vai se aplicar a vocês, mas eu sempre me sentia muito mal em caçar e abater os kemonos. Afinal, se a natureza está reagindo, é porque alguma coisa grave aconteceu.

O game até brinca com isso, plantando a semente da dúvida na cabeça do jogador, seja com as falas dúbias de Mujina ou com suas próprias escolhas de resposta para perguntas capciosas. Ao final da jornada, infelizmente, as decisões tomadas não trazem grandes consequências, pois a narrativa é bastante linear nesse sentido. Ainda assim, o que conta é como você lida com suas atitudes em relação à natureza, deixando uma lição valiosa para o jogador.

Vale à pena?

Muito! Wild Hearts é amigável com novos jogadores, dinâmico, divertido e especialmente engenhoso, além de belíssimo. O jogo leva pelo menos 40 horas para ser finalizado, e deixa a desejar um pouco no replay, pois após o término, você pode caçar formas alternativas dos kemono, conseguir equipamentos e armas ainda mais poderosas, e finalizar os colecionáveis e missões secundárias — se quiser, claro.

[Review] Wild Hearts é engenhoso e burocrático, mas belíssimo e divertido
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Ainda assim, toda a experiência compensa bastante, e a localização e adaptação dos nomes dos monstros também merece destaque. Roeflor, Plumardente e Asapérola são apenas alguns dos meus favoritos em termos de adaptação. Além disso, o design dos kemono, de forma geral, é incrível!

O jogo está localizado com legendas em português (embora existam expressões japonesas que não foram adaptadas, o que pode causar confusão em alguns jogadores), e dublagem apenas em inglês ou japonês.

Wild Hearts está disponível para PC (via EA Play, Steam e Epic Games Store), Xbox Series X|S e PlayStation 5. O jogo foi analisado por meio de uma cópia antecipada fornecida pela publisher Electronic Arts.

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