O interesse pela ferramenta de inteligência artificial ChatGPT está em uma crescente e seus atributos fizeram com que grandes empresas — como Google, Meta e Microsoft —, começassem uma corrida para investir na ampliação da tecnologia e, até mesmo, na criação de concorrentes. E esse investimento pesado têm levantado preocupações de muitos executivos atuantes da TI, entre eles: Vint Cerf.

Conhecido por ser criador do protocolo TCP/IP, que deu base à Internet que conhecemos hoje, Cert se manifestou publicamente, pedindo encarecidamente às companhias:

“Não apressem investimentos em IA, só porque o ChatGPT é ‘muito legal'”.

Ele, que também é vice-presidente e evangelista-chefe da Internet no Google desde 2005, expressou ressalvas durante uma conferência realizada em Mountain View nesta segunda-feira (13).

Para ele, o investimento na IA deve ir muito além da tradicional competição entre as gigantes da TI, para ver quem consegue lançar uma tecnologia nova antes de qualquer outra rival. “Há uma questão ética aqui que espero que alguns de vocês levem em consideração”, afirmou.

“Todo mundo está falando sobre o ChatGPT ou sobre a versão do Google [para a ferramenta], e sabemos que nem sempre funciona da maneira que gostaríamos”, disse, referindo-se à IA de conversação Bard, anunciada na semana passada e cuja apresentação ao mercado levantou polêmicas.

Polêmicas do ChatGPT e imprecisões da IA

Uma das maiores e recentes repercussões em torno da IA conversacional se deu justamente após o Google apresentar ao mercado o seu Bard. Na ocasião, ao fazer uma demonstração sobre como a ferramenta funcionava, ela acabou gerando um texto com uma fake news no meio, deixando claro que ainda há muito o que ser feito antes de IAs do serem disponibilizadas ao público geral.

Após o deslize, John Hennessy, presidente da Alphabet, teria explicado que a empresa ainda tinha receio em apresentar a sua versão do ChatGPT, visto que o sistema ainda possui imprecisões que precisam ser revistas.

“Acho que o Google hesitou em produzir isso [a IA conversacional], porque acreditava que ela ainda não estava realmente pronta para [ser] um produto. Mas, como um veículo de demonstração, é uma grande tecnologia”, disse o executivo, que atua como presidente do conselho da Alphabet desde 2018.

Para ele, continuou, a IA generativa ainda está a um ou dois anos de ser uma ferramenta verdadeiramente útil e que possa ser aplicada em produtos usados pelo público.

ChatGPT interna

Imagem: Ascannio/Shutterstock

Vint Cerf sobre a IA: vale o investimento, mas a que custo?

Ainda durante a apresentação na segunda, Cerf pediu aos empreendedores e empresas em geral para serem cautelosos. “Se você pensa ‘eu posso vender isso para investidores porque é um assunto quente e todo mundo vai jogar dinheiro’, simplesmente não faça isso”, disse.

Claro que, na esmagadora maioria das vezes (se não, em 100% delas), o problema não é a tecnologia em si. Ou como o próprio Cerf disse: “a maior parte do problema são as pessoas — é por isso que nós, pessoas, não mudamos nos últimos 400 anos, muito menos nos últimos 4 mil”.

“Eles procurarão fazer o que trará benefício próprio – e não seu”, continuou Cerf, parecendo se referir à ganância do ser humano em geral. “Portanto, temos de nos lembrar disso e sermos cuidadosos sobre como usamos essas tecnologias.”

Na foto, o presidente e chefe evangelista de Internet do Google, e um dos "pais" da Internet, Vint Cerf

Imagem: reprodução: liftconferencephotos/CC BY 2.0 via Wikimedia Commons

Para Cerf, outra grande questão negativa é a imensa diferença entre o que gostaríamos de ser feito e o que efetivamente acontece.

O executivo usou como exemplo um experimento próprio: ele teria solicitado a um chatbot que desenvolvesse uma biografia sobre ele. O bot apresentou uma resposta como se fosse um fato, embora tivesse imprecisões — quase da mesma forma que ocorreu na ocasião de demonstração do Bard.

“Do lado da engenharia, acredito que engenheiros como eu deveriam ser responsáveis ​​por encontrar uma maneira para domar algumas dessas tecnologias, para que se tornem menos propensas a causar danos”, disse. Afinal, como ele mesmo colocou: apresentar uma história de ficção não muito boa é uma coisa. “Dar uma recomendação a alguém… pode provocar consequências médicas. Descobrir como minimizar o potencial do pior caso é muito importante.”

Via: CNBC

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