Crítica | 3º episódio de The Last of Us machuca, mas é um dos mais poéticos até então
Esse é o primeiro episódio de The Last of Us a mostrar a fundo a história de personagens que tiveram pequenas participações no jogoBy - Luiz Nogueira, 30 janeiro 2023 às 0:11
Na noite deste domingo (29), a HBO exibiu o aguardado terceiro episódio da primeira temporada de The Last of Us. Como era de se esperar, temos um capítulo mais lento que os anteriores – lento na questão de cenas de ação -, mas que entrega uma das melhores histórias.
Isso porque ele serviu como forma de expandir a narrativa envolvendo Bill e seu parceiro Frank. O episódio mostrou como se conheceram e como sua história se encerrou. No jogo, Bill aparece por um breve momento e ajuda Joel, mas não temos muitas pistas sobre sua história.
Felizmente, com Neil Druckmann por trás da produção da série, esses segmentos de expansão são possíveis, são coerentes e nos rendem muitos momentos de emoção.
O luto de Joel
O episódio começa pouco depois do fim do anterior, após um salto temporal – e alguns quilômetros longe de Boston -, Joel pode ser visto tentando lidar com a morte de Tess, sua companheira de contrabando – e interesse amoroso também, segundo a série.
É nesse momento que vemos um Joel mais humano, demonstrando o que está sentindo e visivelmente de luto pela morte de uma das pessoas que mais confiava nesse mundo – mesmo que tudo isso seja feito de maneira solitária, sem compartilhar nada com Ellie.
Aqui, quero destacar a atuação de Pedro Pascal. Ele sabe como transmitir as emoções do personagem sem dizer uma palavra. Sua atuação tem sido impecável, mas, neste episódio – neste segmento em específico -, ela se supera.
Outro destaque desta cena é a fotografia. Tudo na composição faz sentido e é muito bonito. Ajudando na atmosfera de perda e luto do personagem. Tudo é meio escuro, frio e triste.
Além de tudo isso, ainda tivemos um dos primeiros momentos em que, após uma discussão sobre culpa, Ellie e Joel baixam a guarda e conversam sem se atacar e nem estar na defensiva. É um momento simples, mas que mostra como a relação deles será pautada daqui para a frente.
Origem do fungo
Apesar de não contar com uma cena de flashback para explicar mais do fungo no passado, tivemos alguns detalhes sobre a origem do problema que dizimou a população em The Last of Us.
Após ver um avião caído, Ellie questiona se Joel já andou em um desses. Em seguida, ela então se mostra interessada em como era a vida antes de 2003, ano em que a infecção começou.
Joel explica que o Cordyceps passou por uma mutação e começou a contaminar suprimentos comuns, como farinha e açúcar, e afetar humanos. A partir disso, os alimentos vendidos no país, produzidos a partir desses elementos contaminados, fizeram com que as pessoas fossem infectadas.
Ele então diz que foi tudo muito rápido, que, numa sexta à noite, as coisas começaram a piorar e, numa segundo de manhã, não existia mais nada. Esse é um segmento bastante significativo, que mostra como a série possui sua identidade própria ao explicar alguns pontos que não foram citados no jogo.
Portanto, por mais que a série seja uma adaptação, é uma maneira de expandir ainda mais o universo criado por Druckmann nos videogames – o que é muito bom não só para os fãs, mas para a narrativa em si.
O casal do apocalipse
No entanto, apesar de termos nossos dois protagonistas, o terceiro episódio de The Last of Us tem como foco outros personagens da história.
Quem já jogou e está familiarizado com o game, sabe que Bill e Frank são um casal – embora isso não fique necessariamente explícito no jogo. Como forma de mudar esse cenário, aqui, eles ganham um capítulo totalmente dedicado à sua história.
A partir de um cemitério de ossos, um flashback se inicia e mostra pessoas comuns sendo evacuadas de uma cidade. Bill, que é um dos moradores, está escondido e se recusa a ser levado dali – o que vemos que é uma decisão acertada.
Ao se ver sozinho, ele começa a preparar a cidade para viver de maneira solitária. Portanto, há um pedaço voltado para a forma com que Bill preparou armadilhas, fortificou os lugares, coletou suprimentos e se isolou dos perigos encontrados no mundo.
Ele vivia uma vida pacata até que, quatro anos depois do início da infecção, em 2007, um estranho homem cai em uma de suas armadilhas. Frank se apresenta e diz que está indo para Boston, mas que, antes de prosseguir viagem, precisa comer alguma coisa, já que está sem comer há algum tempo.
Fragilizado, Bill oferece comida e um banho para Frank. No entanto, depois de se alimentar e dizer que iria embora, ele se vê seduzido por um piano na sala de Bill. Ele então tenta tocá-lo e é ali que algo acontece e ambos começam a desenvolver sua relação.
Em uma cena linda, após Bill tocar Long Long Time, de Linda Ronstadt, eles se beijam e é ali que uma história de amor e sobrevivência em meio às adversidades do mundo começa.
A construção da cena é muito interessante aqui, já que há uma tensão muito perceptível em ambos enquanto conversavam antes do beijo. É tudo muito sutil – embora fique explícito nos olhares e nas palavras deles.
O que foi feito aqui é bastante admirável, já que expandiu a história vivenciada pelos jogadores superficialmente no game de uma maneira coesa e com muitos momentos marcantes.
A introdução de Joel na história
Alguns anos de convivência depois, tudo entre ambos parecia bem. Eles viviam calmamente como um casal, cada um cuidando dos afazeres que lhes convém, até que Frank afirma que estava conversando com uma moça legal pelo rádio e que queria convidá-la para almoçar e, por isso, eles deveriam arrumar o jardim.
Em um corte rápido de cena, quatro pessoas comem ao ar livre. É aí que vemos que a moça a que Frank se referia era Tess e, a seu lado, Joel. Esse é um dos raros momentos em que vemos todos muito relaxados e conversando despretensiosamente.
Mesmo assim, Joel ainda está desconfiado, embora se mostre um pouco receptivo com quem os convidou – e isso fica claro quando Tess e Frank deixam a mesa e fica apenas Joel e Bill.
É a partir daí que Joel propõe que eles se ajudem, pois Bill tem um suprimento grande de coisas importantes; e é neste segmento também que temos mais informações sobre o código de músicas tocadas no rádio – que eu citei em meu review do primeiro episódio de The Last of Us.
Aqui vemos que a ideia foi de Tess desde o começo. O que é algo interessante, já que Joel adotou o mecanismo e ficava ansioso para ouvir as músicas transmitidas.
Neste caso, novamente destaco a atuação dos atores. A história seguiu de maneira diferente do que foi visto no jogo e, mesmo assim, não descaracterizou em nenhum momento os personagens, mantendo algo que imaginaríamos que fizessem em situações semelhantes.
Bill ferido
Alguns anos depois, a vida de Bill e Frank parece estar indo bem, até que um grupo de ladrões tenta invadir o local e acaba baleando Bill, que estava tentando proteger sua casa. Ele, achando que ia morrer, pede ao companheiro que chame Joel para protegê-lo se algo acontecesse.
Aqui, vemos um lado de Bill não explorado nos games: o de uma pessoa sensível e que se importa com quem ama. Isso porque, no jogo, antes de conhecê-lo, é normal achar que ele está sendo duro demais com Joel e que não passa de uma pessoal rabugenta ao não confiar no amigo. Mas, ao que parece, nem sempre foi assim.
Tempos atuais
Em mais um salto temporal, voltamos para 2023, ano em que a série se passa. Frank já está bastante debilitado, não consegue andar e depende de Bill para diversas tarefas – desde tomar um remédio até deitar na cama.
Mesmo assim, a série mostra que Bill faz tudo pelo companheiro, que foi quem o ajudou em diversos momentos difíceis durante os anos em que ele achou que ficaria sozinho pela eternidade.
No entanto, ao ver que a situação está piorando, Frank decide que não quer mais viver – por conta de ver o amado se sacrificando tanto e porque não vê mais perspectiva de vida. Em um dos momentos mais emocionantes do episódio, ele faz planos de como passar seu último dia ao lado de Bill.
Ele comenta que houve dias ruins ao lado de seu amado, mas que também tiveram muitos dias bons, e ele queria que esse último fosse incrível. Como meta, eles iriam comer coisas boas, casar oficialmente e depois Bill faria um jantar delicioso.
Frank então tomaria sua última taça de vinho, mas, desta vez, batizada com vários remédios para poder morrer dormindo ao lado de Bill. Confesso que essa cena me destruiu. Me apeguei aos dois, senti a dor deles e entendi o motivo pelo qual Frank decidiu fazer aquilo.
A carga emocional desses momentos é gritante. É tudo muito fofo, mas fica com um gosto amargo quando se lembra do que está por vir.
Mesmo assim, considero esse um dos episódios mais fortes e impactantes até agora, já que, além de mostrar o destino de dois personagens com pouco tempo de tela no jogo, mostra que eles conseguiram se amar e ser o propósito um do outro mesmo em meio a tantas adversidades.
Joel e Ellie
Após uma das cenas mais tristes vistas até então na série, temos como foco Joel e Ellie novamente, indo até a casa de Bill e encontrando uma carta de despedida, acompanhada de uma chave de carro, justamente o que nossa dupla precisava para seguir viagem.
Mesmo assim, a sensação que fica após tantas cenas emocionantes é um vazio por conta do apego que tivemos aos personagens e tristeza ligada ao fato de entendermos que amar também é fazer escolhas difíceis – e foi justamente uma decisão desse tipo que Bill tomou junto com seu amado.
Depois desse episódio, concordo que Bill e Frank mereciam muito mais nos jogos. Mais tempo para desenvolver sua história e mostrar que, mesmo em tempos difíceis, o amor pode existir.
Fique ligado aqui no blog KaBuM! para conferir o review dos próximos episódios de The Last of Us.
Para realização desta crítica, a HBO forneceu ao blog KaBuM! acesso antecipado aos episódios restantes de The Last of Us.
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