Mais de 20 anos na área de tecnologia e muitas histórias para contar. Essa é a vida de Paulo Rogério Nunes, co-fundador da Vale do Dendê, uma incubadora de startups na Bahia.

Nunes começou em tecnologia quando adolescente. Interessou-se por um curso técnico em processamento de dados. “Na época, ainda mexíamos em mainframes, aqueles computadores gigantes, e trabalhei em um dos primeiros provedores de Internet da Bahia”, conta o empreendedor, em entrevista ao blog KaBuM!. Ainda quando estudante, passou a assistir como ouvinte cursos da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e aprofundou seus estudos na área.

Para Nunes, a tecnologia tem um poder estratégico. “Como uma pessoa de origem periférica, reconheço que pude mudar a minha vida”, conta. De fato: ele mudaria para os EUA, para estudar na University of Maryland, fazer estágio no MIT Media Lab, em Massachusetts, e segue ainda hoje com suas pesquisas acadêmicas. “Percebi que as cidades precisavam se reinventar, principalmente as periféricas”, explica.

Vale do Dendê já apoiou mais 1 mil empresas na Bahia

Essa busca pela reinvenção de espaços e pela criação de possibilidades por meio da tecnologia fez com que ele criasse a Vale do Dendê, em 2016. “Já apoiamos cerca de 1 mil empresas e 200 foram aceleradas”, conta. Além do apoio direto com investimentos e outras oportunidades, a incubadora apoia indiretamente o crescimento de negócios com a realização de eventos, cursos e outras formas de aprimoramento para os empreendedores.

“A Vale do Dendê parte da premissa que os centros tradicionais de empresas de tecnologia não dão conta de responder às demandas reais da sociedade”, explica Nunes. E essa realidade não é exclusiva do Brasil. “Mesmo o Vale do Silício tem um limite. É um ecossistema centralizador, com um perfil muito específico e, especialmente o que o Sul Global precisa, ele não atende”, completa.

É nesse cenário de demandas que há oportunidades para o Brasil — e para a Bahia, principalmente. “Essas são as Oportunidades Invisíveis, que viraram título de livro meu, um processo que o Brasil deveria estar liderando”, afirma.

Em fintechs e agrotechs, Nunes considera que já há um protagonismo brasileiro e agora é a hora da economia criativa. “Salvador pode ser uma base para a economia criativa com tecnologia. A música aqui já é referência e foi nesse sentido que a Vale do Dendê ganhou financiamento do Spotify para fomentar a indústria de áudio”, comemora.

Além do Spotify, o Google também investiu na Vale do Dendê através do fundo para empreendedores negros. Entre as empresas em destaque atualmente, as quais foram aceleradas pela iniciativa, estão a InFleet, uma plataforma para gestão de frotas que atraiu grande quantidade de investimentos; e a TrazFavela, que também trabalha com entregas em menor escala e apoia o comércio em bairros periféricos.

Além disso, ainda entre os destaques entre as aceleradas, há a AfroSaúde: uma health tech que conecta a população a profissionais de saúde negros, em apoio à diversidade. O rol inclui ainda a MinhaCesta, empreendimento social que leva uma cestas básicas a comunidades desfavorecidas; e a Afro.tv, outro empreendimento que tem como apoiador o próprio Nunes e trará conteúdo com protagonismo da população negra.

Startups de games fazem parte do cenário baiano

Entre os destaques da Vale do Dendê estão, ainda, as empresas de games. A Aoca Game Lab é uma startup responsável por um game na Steam, o Árida — um ‘Zelda no sertão de Canudos’ que já ganhou edição comemorativa de dois anos. A AimoTech incentiva a cultura maker, une grafite e jogos, e estuda trazer NFTs para suas produções. “Os games trazem as histórias brasileiras em vez de jogarmos os que contam lendas escandinavas ou americanas”, comenta Nunes.

Como são selecionadas as empresas

As startups participantes da Vale do Dendê podem ser selecionadas por meio de chamadas públicas. Passam por uma pré-aceleração que dura cerca de 3 semanas e entram no processo de aceleração por cerca de 4 meses. A Vale acompanha as startups com mentorias, workshops e outros benefícios.

O presente da Vale já é grande, como afirma Nunes: “Seremos, em breve, o primeiro centro único Norte e Nordeste parceiro do Google para startups”. E o futuro parece ainda mais promissor. Com parceiras como a empresa de tecnologia Qintess, a Vale pretende abrir uma nova sede nos próximos meses.

Além disso, 2022 ainda reserva uma nova edição do festival AfroFuturismo, realizado pela Vale para celebrar a cultura negra e os empreendedores das diversas startups do ecossistema. “Teremos hackathons, cosplay e muito mais para destacar o potencial criativo”, encerra.

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