O fundador do Twitter deixou a empresa que criou para trabalhar com criptomoedas. Como Jack Dorsey, muitos profissionais estão abandonando empregos de longa data e até carreiras inteiras para se dedicarem ao mercado de blockchain e similares. A pergunta que fica é: será que vale a pena?

Jack fez a coisa certa, para especialista em criptomoedas

Jack Dorsey passou a trabalhar com criptomoedas

Jack Dorsey – Imagem: TED Conference

Dorsey tinha 16 anos de Twitter e sua partida, ainda que tenha chocado muitos, foi antecipada por especialistas. O cofundador e ex-CEO do Twitter participava de eventos onde falava da importância do Bitcoin. Mais do que isso, Dorsey havia fundado a Square (atual Block), uma fintech (empresa de tecnologia financeira) que já tem suas conquistas no mercado.

“Jack fez a coisa certa por dois motivos: foi trabalhar dentro do seu propósito e está em um ponto privilegiado da carreira em que pôde escolher”, afirma o especialista Maurício Magaldi, do podcast BlockDrops.

Além da fase de sucesso da Block, o Twitter enfrenta problemas com pedidos de moderação mais rigorosa e outras cobranças que a empresa tem dificuldade em atender.

“É muito difícil encontrar satisfação profissional com algo em que você não acredita”, alerta Magaldi. Dorsey “é um maximalista do Bitcoin. Então, trabalhar com isso é a ponte mais direta para essa satisfação. Com o patrimônio que ele tem hoje ele poderia simplesmente parar, mas escolheu confortavelmente o que fazer, e arriscou numa indústria ainda nascente”.

Conciliar interesses profissionais

Dogecoin - Criptomoedas

Reprodução: Deal Drop Images/Wikimedia Commons

Elen Nas, assim como Jack Dorsey, começou a criar seus projetos envolvendo criptomoedas recentemente. A pesquisadora de arte e bioética do ArtSciLab e da Marques  , acredita que é possível conciliar interesses profissionais.

“Tenho uma carreira em arte e pesquisa e vejo que muitos artistas começaram a partir disso para conhecer criptomoedas, blockchain e NFTs, até por necessidade”, diz ela.

Os NFTs, itens únicos digitais autenticados em plataformas que dão suporte a criptomoedas, como a blockchain, atualmente revolucionam o mercado da arte. Colegas do mundo da arte de Elen passaram a vender suas obras em NFTs com o crescimento das negociações online.

“Na pandemia, foi acelerada a dissolução de modelos de trabalho antigos, quando todos tinham um papel bem definido”, explica. “Na fase 4.0 da revolução industrial, muita coisa vai ser automatizada e muitos trabalhos perdem sentido. Sempre estive muito alinhada com o futuro e sou multidisciplinar, assim sair de uma estrutura formal para outra em processo de transformação foi natural”, conta.

Elen, na verdade, não saiu de sua profissão, mas adicionou novas atividades à carreira. A pesquisadora acredita que é possível conciliar profissões com projetos envolvendo blockchain.

“Acredito que a maioria começa investindo e estudando criptomoedas e não é preciso deixar o trabalho, a não ser talvez em um contexto que se trabalhe em uma estatal ou empresa com leis específicas sobre isso”, aponta a pesquisadora. “Recomendo, sim, procurar saber sobre criptomoedas e blockchain pois essa é uma tendência que chegou e não vai sumir”.

“Quanto a Jack Dorsey, não foi uma mudança muito radical de carreira pois ele já tinha projetos em criptomoedas. Mais radical foi o que fez Frances Haugen, por exemplo, ao delatar os problemas com o Facebook”, afirma Elen. Frances Haugen foi a denunciante no centro de uma investigação recente no congresso dos EUA sobre o Facebook, manipulação política e discurso de ódio.

Criptomoedas no futuro, sem olhar para trás

Criptomoedas

Foto: WorldSpectrum/Pixabay

Já Letícia Eubank deixou para trás uma carreira para mergulhar totalmente no mundo de criptomoedas. “Gerenciava a comunicação de uma loja, um projeto pequeno, e a administração mudou”, conta a atual gamer profissional de jogos play-to-earn (jogar para ganhar dinheiro). “Começaram a atrasar meu salário, eu pedi para sair e investi em criptomoedas”, conta.

“Eu jogo o Axie Infinity e comecei a ganhar dinheiro, reinvesti em outros jogos e não me arrependo”, conta Letícia. “Estava muito frustrada antes e agora não estou mais. Não pretendo voltar atrás, acho que 2022 vai ser o ano das criptomoedas. O ápice do mercado ainda está por vir, o dia em que poderemos falar de cripto com qualquer pessoa”, afirma confiante.

Recomendar seguir seu mesmo caminho, entretanto, Letícia não recomenda. Para ela, “sempre há um risco de perder dinheiro e quem tomar essa decisão precisa estar consciente disso. Eu consigo viver disso, fazendo bons investimentos e também com um pouco de sorte”, conta. “E se eu fosse o Jack Dorsey, certamente teria feito o que ele fez”, afirma categoricamente a jogadora, entre risos.

O mercado é de oportunidades e riscos, diz professor da UFC

O professor Érico Marques, da Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em finanças e TI, traz alguns alertas para quem quer tomar a decisão de ter criptomoedas como profissão principal ou adicional.

“É importante pensar no futuro e nas formas de regulamentação”, indica o professor. “Muitos governos afirmam que ainda irão regulamentar o mercado de criptomoedas”, alerta.

“O mercado responde a oportunidades e riscos e diria que há alguns que vêem oportunidade em trabalhar com criptomoedas”, diz Marques. “Mas só o futuro pode dizer como esse mercado vai se consolidar. A volatilidade das criptomoedas é muito grande, devido ao comportamento dos players e essa é uma grande discussão no mundo inteiro.”

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