The Last of Us é um sucesso. Não somos só nós quem achamos isso, mas também o Rotten Tomatoes (97% de aprovação não é para qualquer um) e Lulu Cheng Meservey, chefe da área de comunicação da Activision Blizzard. E por causa desse sucesso, segundo ela, a negociação de quase US$ 70 bilhões (R$ 355,18 bilhões) que prevê a aquisição da Activision pela Microsoft tem que ir para frente.

Se você, neste momento, está colocando à frente o seu melhor rosto de “espera, como é que é?”, calma que a gente explica: pelo seu perfil no Twitter, Meservey argumentou que The Last of Us é uma série de imenso sucesso, baseada em uma propriedade intelectual da Sony, dona do PlayStation, nos videogames. A executiva também contextualizou no tuíte – enviado à Comissão Federal do Comércio (FTC) dos EUA – o sucesso do jogo em si.

“Olá, FTC. Você chegou a ver o episódio de ontem [domingo] de The Last of Us? Foi incrível. Não é à toa que a série está quebrando recordes. É um verdadeiro blockbuster, assistido por milhões. Se você ainda não viu, deveria ver. Você pode ficar particularmente interessada no fato de que The Last of Us é produzida pela Sony Pictures Television e pelos estúdios PlayStation. Ela é baseada em um videogame best seller desenvolvido por um estúdio subsidiário da Sony, como uma exclusividade do PlayStation. 

Por que isso é importante?

[Porque] A FTC se opôs ao acordo Microsoft – Activision Blizzard sob argumento de que a Microsoft poderia ‘suprimir a concorrência’ de consoles rivais ao ter propriedade sobre os jogos da Activision. Parece que há uma preocupação de que a posição da Sony como líder de mercado poderia estar ameaçada por essa negociação.

Só que não há causa para preocupação. A Sony tem um histórico sem igual de propriedades intelectuais, não só em jogos, mas também em TV, filmes e música — os quais podem ser facilmente adaptados para jogos, ou podem servir de divulgação para jogos que já existem.

O ponto é: a série The Last of Us já está gerando um interesse renovado no jogo.

O talento da Sony e suas IPs em jogos, TV, filmes e música são formidáveis e verdadeiramente impressionantes. Não é à toa que eles continuam a dominar o mercado de consoles como líderes. 

Nos jogos, a Sony é ‘a primeira de nós’ – e eles vão continuar muito bem sem a proteção da FTC.” – Lulu Cheng Meservey, CCO da Activision Blizzard

A mensagem…não teve lá a melhor das entregas, é verdade, mas a afirmação de Meservey não vem à toa: a Sony é uma das principais opositoras à aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft justamente pelo argumento de que, como “dona” da empresa, a fabricante do Xbox teria exclusividade em franquias de sucesso, como Crash Bandicoot, World of Warcraft, Diablo…e Call of Duty. Este último, inclusive, foi chamado pela Sony de “o seu próprio gênero, sem concorrência direta”.

E a FTC parece ter acatado essa linha de pensamento, haja vista que o órgão governamental se posicionou de forma contrária à aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft.

O mais interessante, no entanto, é que a fala de Meservey foge um pouco da posição oficial da Microsoft sobre o assunto: a empresa já afirmou, repetidas vezes (sete, pelas nossas contas), que não pretende tornar Call of Duty uma exclusividade dos consoles Xbox – sim, nós contamos.

Imagem mostra pôster de Call of Duty: Modern Warfare 2, a maior franquia da Activision

Imagem: Activision/Divulgação

Ao invés disso, a executiva apelou para o fato de que a Sony, pelos números, ainda é a líder de mercado nos consoles de mesa vendidos (não, o Switch da Nintendo não entra nesta conta – oficialmente, os quadros fiscais o consideram “portátil” – outra categoria).

Apesar dos tuítes terem vindo da Chief Communications Officer – ou seja, o cargo máximo, mais globalizado das comunicações da Activision – Meservey parece não ter recebido a resposta que esperava: salvo por alguns apoiadores, a maior parte dos fãs que a responderam ressaltaram que a comparação não faz o menor sentido.

Alguns ainda disseram que, apesar de não estar nem perto do mesmo sucesso, a Microsoft também tem um jogo exclusivo seu que foi transformado em série: Halo terá uma segunda temporada, de acordo com a própria Paramount Plus, com Pablo Schreiber retornando ao papel do titular Master Chief.

Mais além, The Last of Us tem “apenas” dois jogos – de imenso sucesso, é verdade, mas ainda assim, dois. Paralelamente, temos um novo Call of Duty todo ano – o mais recente, Modern Warfare 2, chegou até a concorrer a alguns prêmios no Game Awards de 2022. Isso, sem contar com o fato de que cada lançamento de Call of Duty vem com vários elementos de microtransação e um robustíssimo componente online – Warzone – que The Last of Us, sendo mais linear, simplesmente não tem.

Vale lembrar: é a segunda vez que tuítes de Meservey colocam a Activision Blizzard em uma evidência que, talvez, a empresa não esteja procurando: em outubro de 2022, a executiva fez diversas publicações contrárias aos empregados da companhia formarem um sindicato trabalhista.

A Microsoft, a Activision, a Sony e a FTC não comentaram o caso.

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