Interface cérebro-espinha faz homem com paralisia voltar a andar
Dispositivo usa implante no cérebro para enviar pulsos elétricos à medula espinhal e pode retomar movimentos de paraplégicosBy - Igor Shimabukuro, 26 maio 2023 às 12:26
Por mais que seja considerada uma grande ameaça, a tecnologia também tem um papel importante para a humanidade — principalmente quando levada ao campo da saúde. Prova disso foi uma nova interface cérebro-espinha, que foi capaz de fazer um homem com paralisia nas pernas voltar a andar com a força de sua mente.
O indivíduo em questão trata-se de Gert-Jan Oskam, de 40 anos. Em 2011, quando morava na China, Oskam sofreu um grave acidente de bicicleta e lesionou sua medula espinhal na região do pescoço. Como resultado, ele ficou com os braços parcialmente paralisados e perdeu o movimento das pernas.
Felizmente, Oskam é capaz de andar hoje em dia. E tudo graças ao neurocientista do Instituto Federal Suíço de Tecnologia em Lausanne, Grégoire Courtine, e seus colegas de pesquisa, que desenvolveram um dispositivo tecnológico para funcionar como ponte digital entre o cérebro do indivíduo e os nervos abaixo da lesão.
Como funciona a interface cérebro-espinha
Intitulado de interface cérebro-espinha, o dispositivo consegue estimular a parte inferior da coluna de uma pessoa com pulsos elétricos. Consequentemente, isso pode ajudar na recuperação de indivíduos com lesões na medula espinhal e fazer com que eles possam voltar a andar.
O processo, no entanto, é complexo. Como detalhado em um artigo no Nature, Oskam teve de implantar dois discos em seu crânio para que grades de 64 eletrodos ficassem contra a membrana que cobre o cérebro.
Com isso, quando ele pensa em caminhar, os implantes detectam atividade elétrica no córtex (a camada externa do cérebro) e transmitem o sinal sem fio e decodificado para um computador — que Oskam carrega na mochila. Por fim, o PC transmite informações para o gerador de pulso espinhal, permitindo que o indivíduo consiga caminhar.
“Quando decido dar um passo, a simulação entra em ação assim que penso nisso”, revelou Oskam.
É claro que a interface não fez todo o trabalho sozinha. Aliás, foram necessárias cerca de 40 sessões de reabilitação com o dispositivo nos últimos três anos para melhoras consideráveis. E como é de se imaginar, a movimentação e o período de recuperação podem variar para cada caso.
Mas falando especificamente de Oskam, todos esses esforços conjuntos permitiram que ele, hoje, consiga mover voluntariamente as pernas e os pés. O homem de 40 anos até pode caminhar a curtas distâncias sem o aparelho, mas com a ajuda de muletas.
Mais pesquisas no horizonte
Naturalmente que a inovação coautoral de Courtine significa um passo importante para a ciência. E Anna Leonard, neurocientista da Universidade de Adelaide na Austrália, afirma que o dispositivo é “um grande salto para melhorar a função de pessoas com lesões na medula espinhal”.
Mas a própria Leonard afirma que há um longo caminho de trabalho pela frente, uma vez que funções como controle da bexiga e do intestino também podem ser implementadas ao dispositivo.
“Certamente ainda há espaço para outras áreas de pesquisa que podem ajudar a melhorar os resultados dos resultados para esses outros tipos de reinos”, destacou a neurocientista.
E vale destacar: a equipe de Courtine está recrutando três pessoas para testar se um dispositivo semelhante é capaz de restaurar os movimentos do braço.
Fica a torcida para que a interface cérebro-espinha seja apenas o começo de tudo isso.
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