O Google pode estar em estágios avançados de desenvolvimento de uma ferramenta chamada “Genesis AI” – uma nova inteligência artificial (IA) incumbida de escrever notícias do dia a dia. Tão avançados, inclusive, que a empresa de Mountain View já a teria oferecido a grandes jornais globais, como New York Times e Washington Post. Inclusive, foi o próprio NYT quem divulgou a notícia.

Segundo as pessoas citadas pelo jornal, que teriam assistido à apresentação da ferramenta, a Genesis AI tem a capacidade de criar artigos noticiosos baseados nos dados inseridos em sua base de dados, indo desde resumos de eventos recentes até coisas mais mundanas, como resultados de eventos esportivos. A tecnologia então usa isso e “cria” um texto jornalístico para veicular uma notícia.

Imagem mostra mãos robóticas digitando em uma máquina de escrever, simbolizando a Genesis AI

Imagem: Moor Studio/Shutterstock

Tais artigos, no ramo jornalístico, têm um nome: “hard news”. Tratam-se das notícias que você vê diariamente na maioria dos portais. O exemplo dos resultados de jogos é perfeito para ilustrar o tipo de texto a que nos referimos. Geralmente, em redações, usa-se o termo para diferenciar volumes de trabalho em uma matéria: reviews, entrevistas e coberturas de evento, por exemplo, não são hard news, pois exigem uma curadoria maior dos seus autores antes, durante e depois da entrega do material.

A ideia é que a Genesis IA sirva como um assistente de redação virtualizado, produzindo as hard news e “livrando” a agenda de repórteres para as matérias mais trabalhadas, que exigem um toque mais humano. As fontes ouvidas pelo Times afirmaram, no entanto, que a apresentação foi “preocupante”, ainda que as notícias produzidas pela ferramenta não fossem publicadas diretamente e uma figura humana sempre tivesse o poder final de veicular – ou vetar – o texto.

O problema, segundo uma das fontes, é se a Genesis IA tem ou não a capacidade de entregar notícias de forma confiável e factual. O Google vem se concentrando com muita força no mercado de soluções em inteligência artificial – algo que nós mesmos já havíamos antecipado – mas o caminho não é livre de tropeços, vide o “evento” de lançamento do Bard, conduzido às pressas, desagradando até mesmo aos funcionários da empresa e contendo fake news.

Vale citar que a adoção da inteligência artificial por redações de notícia não é nova, mas os casos mais públicos são notoriamente problemáticos: o CNET teve que se desculpar publicamente por 77 artigos publicados em sua editoria de negócios, feitos por um sistema do tipo; e o io9, um blog afiliado ao Gizmodo nos EUA, atribuiu ao “Gizmodo Bot” alguns artigos sobre Star Wars profundamente imprecisos.

No Brasil, ao menos, até onde se tem notícia, não há casos de uso da inteligência artificial na produção direta de notícias.

O Google, respondendo à reportagem, enviou por e-mail o seguinte comunicado ao Verge:

“Em parceria com publicadores de notícias, especialmente os menores, nós nos colocamos nos primeiros estágios de exploração de ideias para, potencialmente, oferecer ferramentas de IA para auxiliar jornalistas em seus trabalhos. Por exemplo, as ferramentas de IA poderiam ajudar jornalistas na sugestão de manchetes ou diferentes estilos de escrita.

O nosso objetivo é o de dar a jornalistas a escolha de usar essas tecnologias emergentes de forma que aprimore seus trabalhos e produtividade, da mesma forma que fazemos com ferramentas para uso pessoal no Gmail e Google Docs. De forma simples, essas ferramentas não têm intenção de – e nem podem – substituir o papel essencial dos jornalistas na reportagem, criação e apuração factual de seus artigos.”

Modelos similares de IA já foram adotados em outras indústrias, é importante ressaltar: nos videogames, a publisher francesa Ubisoft falou sobre a Ghostwriter, uma IA que a empresa utiliza para auxiliar roteiristas em seus jogos, tal qual falamos em março. Apesar dos benefícios da tecnologia, a Ubisoft ainda teve que prestar esclarecimentos sobre o uso do sistema.

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