Vozes geradas por inteligência artificial (IA) poderão ser usadas dentro dos games, segundo os termos de um novo acordo assinado pelo SAG-AFTRA e a empresa Replica Studios, especializada na geração de discursos por voz por meio de métodos tecnológicos.

Você deve lembrar do SAG-AFTRA como uma das duas organizações sindicais representantes de atores e dubladores a organizarem uma greve geral no ano passado. Pouco depois do início das greves, o órgão aprovou que profissionais do ramo que atuassem nos games também ingressassem ao movimento.

Meses depois do fim da greve de uma certa normalização e retomada de trabalho em todas as mídias, o SAG-AFTRA anunciou a assinatura do referido acordo. Entretanto, alguns profissionais não só não aprovaram a decisão, mas também comunicarem terem ouvido sobre o assunto pela primeira vez agora em janeiro.

Um dos casos mais evidentes é o de Yong Yea, a nova voz de Kazuma Kiryu na franquia de games Like A Dragon (antigo “Yakuza”) da SEGA. No tuíte acima, o dublador afirma que nenhum profissional que ele conheça votou a favor da decisão, e alguns sequer sabiam que isso estava em debate.

O anúncio, feito pelo SAG-AFTRA durante a CES 2024, teve “aprovação de 80% de seus participantes”, segundo o próprio órgão. Isso, no entanto, não permitiu que vozes dissonantes ganhassem destaque nas redes sociais:

https://twitter.com/erikaishii/status/1744879346077278475

“Aprovado…por quem, exatamente? Será que algum dos ‘membros impactados’ que assinaram isso era um dublador? – Erika Ishii, APEX Legends

“‘Aprovado por membros impactados da comunidade de atores de voz filiada ao sindicado’. Eu humildemente me considero um dos mais conhecidos dubladores dos games. Ninguem me perguntou nada sobre isso. Ninguém quis saber minha opinião. E pelo que estou vendo, ninguém pediu a opinião dos meus colegas também” – Elias Toufexis, Starfield, Deus Ex e Assassin’s Creed

“[Aprovado] por quem, p***a? Vocês aprovaram isso? Ninguém me disse que estávamos votando por algo assim. À liderança do SAG-AFTRA, por favor, eu imploro a vocês, parem de passear por aí e façam algo que nos mantenha empregados. Sabe? O seu trabalho? Vocês não são licenciadores, mas sim um sindicato trabalhista! O que raios vocês estão fazendo?” – Xander Mobus, Super Smash Bros, Persona 5

Os termos do acordo assinado pelo SAG-AFTRA não foram divulgados em muita especificidade, mas o sindicato afirmou que a assinatura é “um passo importante na aplicação ética dessas tecnologias, de forma que assegure os membros do devido consentimento do uso de suas vozes e a justa compensação disso”.

Vozes de IA nos games? Como assim?

A briga toda é parecida com o que ocorreu nas greves do primeiro e segundo semestre de 2023: essencialmente, atores de Hollywood e roteiristas pararam de trabalhar em protesto a grandes estúdios e produtoras de streaming aplicarem recursos de inteligência artificial para imitarem feições, corpos, rostos e vozes de personagens sem ter que contratar os atores que as inspiraram.

Sabe quando Luke Skywalker apareceu nas séries mais recentes de Star Wars? É, Mark Hamill, o ator, não estava nas filmagens – aquilo é geração de computador. Agora, imagine isso, só que sem ninguém recebendo seus honorários e os estúdios ampliando seus lucros.

Greve pode ter sido ocasionada por estúdios quererem usar réplicas de IA dos atores de filmes e games

Imagem: rblfmr/Shutterstock.com

Eventualmente, a situação deixou de afetar apenas as primeiras partes envolvidas e se estendeu aos games, onde atores comumente fazem capturas de movimento, reproduções faciais e de voz. A ideia era prevenir que publishers e estúdios de desenvolvimento de games pudessem “roubar” essa parte e economizar nos “cachês” de trabalho. Isso incluiria até mesmo atores que já morreram.

Com o acordo assinado, o SAG-AFTRA afirma ter os interesses dos atores em mente, prometendo compensação devida e consentimento individualizado. Entretanto, os termos específicos do material não foram divulgados e, a julgar pelas respostas de alguns dos profissionais da área, parece que a votação não foi tão unânime – ou tão internamente divulgada – quanto o sindicato afirma.

O SAG-AFTRA foi procurado, mas não respondeu às alegações dos reclamantes.

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