Facebook enganou investidores sobre mudanças climáticas e desinformações sobre Covid-19, diz grupo
Organização que representa Frances Haugen alega que Facebook fez "declarações materiais falsas e omissões em declarações aos investidores" sobre esforços para combater desinformaçãoBy - Liliane Nakagawa, 21 fevereiro 2022 às 17:15
A Whistleblower Aid apresentou denúncias a U.S. Securities and Exchange Commission (Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio em tradução livre) — agência independente do governo norte-americano que supervisiona o cumprimento da lei contra manipulação de mercado — que acusam o Facebook de enganar investidores sobre esforços em mitigar mudanças climáticas e combater a desinformação sobre a Covid-19, segundo documentos.
A organização sem fins lucrativos que representa a denunciante e ex-funcionária da Meta, Frances Haugen, alega que a empresa praticou “deturpações e omissões materiais em declarações aos investidores” em relação as ações de combate à desinformação, segundo informações obtidas pelo The Washington Post. “Os documentos compartilhados com a SEC deixam totalmente claro que o Facebook estava dizendo uma coisa em privado, e outra, em público, a respeito de sua abordagem da mudança climática e da desinformação da Covid-19”, disse Andrew Bakaj, assessor sênior da Whistleblower Aid, à Engadget. “Isso não é apenas irresponsável para o público, é enganar ativamente os investidores que têm o direito legal a respostas verdadeiras da empresa“.
Baseado em revelações feitas por Haugen, um dos arquivos da Whistleblower Aid alega que a Meta não tinha uma política clara em relação à desinformação sobre mudança climática até o ano passado. Por outro lado, o discurso dos executivos aos investidores era de que havia empenho da companhia de Zuckerberg em combater a “crise global”, segundo o The Post.
Important new disclosures from our client @FrancesHaugen show how Facebook misled investors about efforts to combat climate change and covid-19 misinformation. https://t.co/EOATmqca39
— Whistleblower Aid (@wbaidlaw) February 18, 2022
Ainda, a organização apontou documentos internos mostrando que havia proliferado a desinformação e a hesitação vacinal contra Covid-19 no Facebook. Ao mesmo tempo que discursos públicos dos executivos da Meta falavam em medidas em andamento para conter a disseminação de desinformação sobre a pandemia do novo coronavírus.
Apesar de oferecer informações factuais desde 2020 sobre os dois temas que a Meta tem sido negligente por “colocar os lucros à frente da segurança dos usuários”, como apontou documentos fornecidos por Haugen a jornalistas no ano passado, uma queixa apresentada a SEC em 7 de fevereiro mostram registros de debates entre funcionários sobre o papel da rede social na disseminação de informações falsas sobre o clima.
De acordo com o WP, em um dos documentos datado do primeiro trimestre de 2021, um funcionário afirma ter visto na aba Watch do Facebook um post de “desinformação climática” visualizado 6,6 milhões de vezes após ter procurado por “mudanças climáticas”.
Outro funcionário do setor de integridade de busca da rede social pediu à empresa mais ações de enfrentamento contra o negacionismo climático. “Podemos dar um passo adiante e começar a classificar e remover a desinformação e as farsas climáticas de nossas plataformas”, escreveram eles.
Os arquivos integram uma estratégia legal mais ampla da equipe da Haugen. Só no ano passado, pelos menos outras oito reclamações foram apresentadas à agência. Uma delas, alega que investidores foram enganados quanto ao papel do Facebook na “perpetuação da desinformação e do extremismo violento relacionados às eleições de 2020 e à insurreição de 6 de janeiro”. Outros acusam de enganá-los sobre a remoção do discurso de ódio e as consequências negativas de algoritmos que promovem a desinformação e o discurso de ódio.
Em defesa, um porta-voz da Meta disse em entrevista ao Engadget que a equipe “diri[ge] mais de 2 bilhões de pessoas a informações de saúde pública confiáveis e continuamos a remover falsas alegações sobre vacinas, teorias conspiratórias e desinformação. Também criamos nosso Centro de Ciências Climáticas em mais de 150 países para conectar as pessoas a informações climáticas factuais e atualizadas, ao mesmo tempo em que fazemos parcerias com verificadores de fatos independentes para tratar de falsas alegações”. Não há soluções de tamanho único para impedir a disseminação da desinformação, mas estamos empenhados em construir novas ferramentas e políticas para combatê-la”.
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