O telescópio espacial James Webb conseguiu ver, de relance, a estrela Earendel, o astro mais distante e mais antigo de todo o universo, e descoberto apenas recentemente, por cientistas que fizeram uso de outro telescópio famoso, o Hubble.

“Earendel” é o nome de um personagem do livro “O Silmarillion”, obra assinada pelo autor J.R.R. Tolkien e que precede os eventos vistos em “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”. A imagem abaixo, compartilhada no Twitter, pode te enganar, já que a estrela que você procura não é a mais brilhante e mais óbvia.

Imagem mostra milhares de pontos brilhantes que são galáxias no espaço e, no meio disso, está Earendel, a estrela mais distante e mais antiga já descoberta

A imagem acima pode te enganar: Earendel, a estrela mais distante do universo, não é o ponto brilhante ao centro, mas sim…(Imagem: NASA/JWST/Reprodução)

Quer saber onde está Earendel, de fato? Bem, um pouco mais abaixo, e ligeiramente à direita:

Veja imagem de Earendel, a estrela mais distante do universo

…um tímido arco com o ponto mais fraco ressaltando a estrela distante (Imagem: NASA/JWST/Reprodução)

A estrela mais brilhante (se é que é uma estrela de fato: pode ser o aglomerado de galáxias WHL0137-08) da imagem tirada pelo James Webb é um outro objeto, usado para praticar o que chamamos de “lente gravitacional”. Em termos resumidos, esse efeito ocorre quando um campo gravitacional distorce e amplifica a luminosidade de uma estrela atrás dele, mas na mesma linha de observação.

Pense da seguinte forma: imagine que você está em um show, e no momento de um refrão, o homem à sua frente, que é bem maior do que você, se alinha entre você e o palco, impedindo a sua visão. Bem, você acaba de perder a banda cantando a melhor parte de uma música, mas você ainda ouviu o material, certo?

No espaço, o processo é o mesmo, mas o resultado é, ao invés de som (que não existe no espaço), é a visão do objeto mesmo quem chega até você: essencialmente, a luz de uma estrela ou galáxia(s) mais próxima dispersa ao redor do “homem grande” (um objeto mais à frente), chegando ao nosso ponto de observação.

Amplificada pelo efeito gravitacional do corpo mais próximo, essa luz nos permite enxergar a estrela mais distante – neste caso, do universo inteiro: Earendel estaria a 28 bilhões de anos-luz de distância da Terra (um ano-luz equivale a 9,046 trilhões de quilômetros, aproximadamente).

Earendel, tecnicamente, morreu há muito tempo

Sim, usamos “estaria” de forma proposital.

Isso porque, dentro do aspecto mais técnico da observação astronômica, há quem argumente que Earendel não existe mais, estimando que a estrela explodiu em uma supernova há 12,9 bilhões de anos, e o que estamos enxergando agora, “ao vivo”, é a luz remanescente da estrela naquela época. 

“Supernovas” são, em essência, a explosão que sinaliza a morte de uma estrela, embora essa regra não valha para todos os astros: o Sol, por exemplo, não entrará em supernova pois não tem massa suficiente para isso. Estrelas muito mais “parrudas” que ele, no entanto, têm na supernova – um colapso em seu núcleo energético – a premonição de seu fim. E o pior: de uma supernova, pode “nascer” uma estrela de nêutrons ou um buraco negro, os dois objetos mais densos do universo.

Agora, considere tudo isso dentro de um contexto onde Earendel não existe mais: ela tinha mais ou menos 50 vezes a massa do Sol, o que a tornaria uma candidata ideal para uma supernova, mas ainda não temos como saber – ou, pelo menos, não conseguimos identificar – nada do que pode ter saído dessa explosão.

Pense nisso como um testamento do quão grande é o universo: a luz viaja, bem, na velocidade da luz, a maior e mais rápida medida já registrada na história (pouco menos de 300 mil quilômetros por segundo, ou km/s); Nesta velocidade, isso significa que a luz de Earendel levou quase 13 bilhões de anos para chegar até o nosso telescópio. E conforme essas observações mudarem ao longo dos anos, provavelmente também veremos o “fim” da estrela como aconteceu no passado.

Enxergar Earendel é mais um testamento de como o telescópio espacial James Webb vem funcionando conforme o esperado desde sua concepção pela NASA: o objeto – o maior projeto de observação astronômica direta do espaço que já lançamos – foi desenhado justamente para observar as luzes das primeiras estrelas e, com sorte, nos ajudar a entender mais sobre o início do universo.

Via CosmicSprngJWST (Twitter)

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