Em uma tempestade particularmente violenta em Oklahoma, nos EUA, ocorrida em 2018, foi detectado o que pode ser o maior relâmpago já visto na história. E só o vimos porque ele teve um comportamento incomum: ao invés de descer do céu e atingir o solo, ele foi disparado para cima, chegando a mais ou menos 80 quilômetros (km) da superfície, bem perto do espaço.

Tal fenômeno não é inédito, embora seja bastante raro: oficialmente, eles são conhecidos como “relâmpagos da alta atmosfera”, os quais se dividem em três categorias – jatos azuis, entradas azuis e jatos gigantes (à qual pertence o relâmpago citado nesta nota). Eles estão entre as manifestações elétricas mais poderosas que existem, e sua raridade os faz ocorrer apenas cerca de mil vezes por ano.

Apesar do fenômeno em questão ter ocorrido em 2018, ele voltou às manchetes devido a um novo estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Georgia Tech, que constatou que este pode, de fato, ter sido o maior relâmpago já registrado desde que medidas do tipo começaram a ser tomadas.

Ao analisar dados de satélite, bem como os sinais de rádio despejados pelo próprio relâmpago, os cientistas calcularam que ele se movia a uma capacidade energética de mais ou menos 300 coulombs por volt, partindo do topo da nuvem carregada que lhe deu origem até a parte baixa da ionosfera, a região da nossa atmosfera que corresponde a 100 km e 1000 km da superfície.

Essencialmente, é na ionosfera que fica a chamada “Linha de Kárman” – resumidamente, a “divisa” entre o fim da Terra e o começo do espaço.

A mera captura desses dados foi um golpe de sorte, aliás: o relâmpago ocorreu em uma área dentro da abrangência de vários aparelhos científicos – uma rede de telescópios de rádio para mapeamento (LMA), vários sistemas de radar e pelo menos dois satélites meteorológicos.

Todas essas fontes permitiram aos estudiosos analisarem formato, tamanho e despejo de energia do jato gigante em detalhes bem aprofundados.

Como o maior relâmpago foi para cima e não para baixo?

Relâmpagos não têm, obrigatoriamente, que dispararem de cima para baixo. É perfeitamente possível, em tempos tempestuosos, vermos feixes de luz viajando lateralmente, por exemplo. Normalmente, isso acontece porque o ponto de escape da tempestade elétrica fica na parte baixa de uma nuvem carregada de partículas.

O relâmpago subir, no entanto, é algo extremamente raro. Tão raro, na verdade, que os cientistas só têm teorias sobre o motivo de isso acontecer e o consenso afirma que há algum tipo de bloqueio ou “tampão” na base de uma nuvem, efetivamente forçando a tempestade elétrica a subir, ao invés de descer.

Imagem mostra três capturas do maior relâmpago da história, navegando de baixo para cima rumo ao espaço

Imagem: Chris Holmes/Georgia Tech/Reprodução

Imagine fechar o ralo da pia: normalmente, a água desce por ele, certo? Com a saída fechada e a água continuamente sendo despejada, eventualmente ela sobe, sobe, até transbordar. Em outras palavras, a água “saiu” – só que por cima.

É mais ou menos a mesma coisa, só que nesta analogia a “pia” é a nuvem que vai se enchendo mais e mais com partículas sobrecarregadas. Eventualmente, isso vai ter que sair, independentemente de onde seja esse escape.

O que o torna o possível maior relâmpago da história é ainda mais estranho: a sua localização. Jatos gigantes costumeiramente ocorrem em zonas tropicais. Oklahoma, no entanto, é um estado localizado no centro-oeste dos EUA, fora da área equatorial temperada. Teoricamente, ele não deveria ocorrer ali.

Os especialistas publicaram um relatório e prometem continuar a pesquisa para entender melhor a ocorrência.

Via Science Advances

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