A União Europeia (UE) acatou uma série de mudanças que podem obrigar a Apple a começar a aceitar o download de aplicativos vindos de outras lojas digitais, de acordo com informações publicadas pela Bloomberg. Segundo a agência, tal mudança já conta até com um projeto em desenvolvimento na “Maçã”, que pode implementar a nova política junto do lançamento do iOS 17.

Notoriamente, a Apple mantém uma política interna de apenas aceitar aplicativos baixados pela sua loja oficial – a App Store – por onde ela tem suas próprias políticas de segurança e facilita, entre outras coisas, a cobrança de uma taxa sobre o faturamento de cada aplicativo. Guarde este detalhe: ele será relativamente importante mais abaixo.

Imagem mostra o ícone da App Store, da Apple, em um iPhone

Imagem: ymgerman/Shutterstock

O processo é conhecido como side loading e, ao menos para os usuários do Android e outros sistemas operacionais portáteis, já é uma ideia conhecida: a Samsung, por exemplo, conta com duas lojas em seus smartphones: a Play Store do Google, e a Samsung Store, para aplicações próprias.

Na Apple, no entanto, a ideia sempre foi rechaçada. A iminente mudança, em resposta a alterações na legislação da União Europeia, no entanto, vem incomodando os times de engenharia de software e serviços na empresa, o que pode estar gerando uma espécie de conflito interno. Embora o primeiro já tenha conceitualizado procedimentos que permitam algum grau de side loading, o segundo ainda se mostra reticente, afirmando à Bloomberg que dedicar recursos para esta finalidade faz com que a Apple deixe de lado coisas mais importantes ou urgentes.

O mais interessante é que, segundo a agência, essa mudança vem nos calcanhares de um processo em que a Apple – ao menos teoricamente – venceu: entre 2020 e 2021, uma ação judicial viu a empresa expulsar o jogo Fortnite, da Epic Games, da App Store, alegando violação desta mesma política de não permitir o side loading. Você deve lembrar que à época, a Epic havia liberado o download do instalador do jogo para iPhones por meios próprios, efetivamente se livrando da necessidade de pagar a tarifa cobrada pela “Maçã”.

Embora vitoriosa no processo – oficialmente, Fortnite ainda está fora do iOS (dá para instalar o título no iPhone, por outros meios) – a Apple viu várias empresas se unirem ao discurso da Epic – destaque para o Spotify, a Microsoft e o Match Group, dono do Tinder e vários outros apps de relacionamento. A imagem pública da empresa acabou manchada, o que chamou atenção da UE e, por sua vez, iniciou as deliberações que levaram à alteração da legislação vigente.

De acordo com a Bloomberg, no entanto, não será um “liberou geral” para lojas terceirizadas. Ainda que os apps possam vir de outras fontes, é bem provável que a Apple exija uma série de verificações de segurança – convenhamos, o iOS ainda é seu “terreno” e é ela quem manda na casa – e essas exigências podem incluir algum tipo de tarifa a ser paga à companhia.

Por ora, as especulações apontam para a nova regra valer apenas na Europa – e mesmo isso, apenas a membros da UE (ou seja, Reino Unido não entraria na conta). Mas é fácil perceber como legislações similares podem ser aprovadas em outras nações.

Agora, saber quando isso seguirá em frente é que é complicado: a UE ainda está votando as últimas alterações da lei para que ela tenha vigência em 2023. E a Apple está se preparando para lançar o iOS 17 no primeiro semestre do ano que vem. Se uma data vai “casar” com a outra, só o tempo dirá. Ainda assim, será uma mudança histórica para a Apple, se isso se confirmar.

via Bloomberg

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