Google e Microsoft: CGI.br questiona concentração de poucos fornecedores de plataformas educacionais
Com falta de diversidade, Comitê Gestor vê preocupações críticas em relação à economia de dados envolvendo adoção de aplicações oferecidas por grandes corporações de tecnologiaBy - Liliane Nakagawa, 4 outubro 2022 às 22:05
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) publicou na última quinta-feira (29) um estudo sobre o cenário de plataformização e economia de dados na educação brasileira, especialmente diante da falta de diversidade na adoção de aplicações e concentração de poucos fornecedores, esses sempre estrangeiros, relacionando tal conjunto a potenciais impactos sobre alunos e professores.
“Educação em um cenário de plataformização e de economia de dados: problemas e conceitos” é uma série de três volumes cujo objetivo é traçar preocupações e possíveis providências relacionadas ao destino e armazenamento dos dados dos usuários das plataformas, incluindo o público vulnerável – como crianças e adolescentes –, usadas no ensino público e privado do país.
“Em 2019, somente 14% das escolas públicas urbanas usavam algum tipo de plataforma de ensino a distância antes da suspensão das aulas presenciais. Em números gerais, 28% das instituições de ensino, sejam elas públicas ou privadas, localizadas em áreas urbanas, contavam essa tecnologia”, diz o documento. O cenário, porém, mudou a partir da pandemia de Covid-19.
Em 2020, com a necessidade de permanência das atividades educativas de forma remota, houve constatação de outras dificuldades, como de infraestrutura para lidar com o ensino à distância: a falta de dispositivos (como computadores e celulares) e do acesso à Internet em casa foram dois dos fatores mais desafiadores, ao mesmo tempo como oportunidades para grandes corporações de tecnologia. “91% dos gestores entrevistados disseram ter criado grupos em aplicativos ou redes sociais como alternativa para comunicação e envio de atividades. O uso de sistema de videoconferências comerciais – especialmente Google Meet, Zoom e Microsoft Teams – como recurso de apoio à continuidade das aulas foi citado por 80% das escolas estaduais, 75% das particulares e 42% das municipais”, diz dados do estudo.
Diante deste cenário de fechamento das escolas, o Comitê levanta diversas preocupações com a “entrada irrestrita desses recursos tecnológicos na educação” e a forma como foram negociados, “sem uma análise crítica sobre o tema”.
Ao concederem acesso a seus serviços voltados à educação de forma aparentemente gratuita com adesão ampla de muitos gestores públicos imediatamente à iniciativa, pesquisadores temem a economia de dados praticada pelas empresas da Big Tech.
O documento explica que por meio de tecnologias de inteligência artificial (IA), essas empresas processam, analisam e identificam maneiras de monetizar os dados pessoais e sensíveis de usuários de forma automatizada, os quais são um dos principais ativos da economia digital hoje.
“O pagamento, no entanto, existe e é feito por meio de dados pessoais e metadados relacionados aos conteúdos e às informações compartilhadas e armazenadas nessas plataformas. Poucos gestores, mães, pais e responsáveis estão cientes de que estudantes e educadores têm seus dados coletados e utilizados (GONSALES; AMIEL, 2020) e pouco sabem sobre o uso integral feito desses dados”, cita o estudo.
O estudo destaca plataformas comumente usadas como Workspace for Education e Microsoft 365, alertando para a concentração de poder de mercado em um grupo muito pequeno de empresas coletando dados dos usuários.
Os pesquisadores também apontam que “a terceirização de serviços de TI para empresas privadas desestimula a capacitação técnica de profissionais gestores públicos e estudantes, tornando-os cada vez mais dependente de tecnologias fechadas e estrangeiras”.
Fato que “ainda obriga o cidadão, no momento de exercício de um direito público – como o acesso à educação –, a aderir de forma compulsória a um mercado privado, correndo o risco de não ter sua necessidade atendida caso não dê o consentimento automático exigido pelos sistemas”.
Via Convergência Digital
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