Ela fez de novo. Ao maior risco de soar como o Dr. Ian Malcolm em Jurassic Park, afirmamos: “Square Enix, sua f…. d. p… doida, você conseguiu”. Em fevereiro, a publisher japonesa lançou ‘Theatrhythm Final Bar Line’, o jogo da sua franquia de coordenação ritmada voltado às suas músicas icônicas que, pela primeira vez desde 2012 (e tirando um baseado em Dragon Quest), abandonou a exclusividade de trilhas sonoras da série Final Fantasy e contemplou várias outras franquias.

Embora o título lançado no dia 16 para Switch e PlayStation 4 tenha lá suas falhas – as quais vamos abordar ao longo do texto – a conclusão é tão óbvia que precisamos tirar isso do caminho logo: o jogo é muito bom, e apela à nostalgia de tal forma que, quando você o termina, imediatamente quer baixar algum dos clássicos entoados simplesmente pelo valor emocional que trazem.

Theatrhythm Final Bar Line: ficha técnica

  • Publisher: Square Enix
  • Desenvolvedor: indieszero
  • Gênero: Ritmo e Coordenação
  • Plataforma(s): PlayStation 4 (testada); Nintendo Switch
  • Preço: R$ 249,50 (PS4; Switch)

Gameplay facilitado para curtir o som e o visual

A grosso – bem grosso – modo, Theatrhythm Final Bar Line ainda é o mesmo jogo com nome chato de digitar, mais chato de falar, e com a mesma mecânica do gênero: uma série de músicas são entoadas em tela, com prompts de botões aparecendo à sua frente para que você os pressione em ritmo sinérgico à canção. Você já viu isso em qualquer Guitar Hero ou, mais longe ainda, nos bares de karaokê no bairro da Liberdade, em São Paulo.

Existem, no entanto, alguns pontos bem interessantes que tornam a experiência mais proveitosa. Ao invés de inserções fechadas, o jogo preferiu uma abordagem mais simplificada: em comandos que envolvem um aperto de botão, qualquer botão serve. O mesmo vale para trechos onde o “apertar e segurar” é a chave.

Imagem mostra cena do jogo Theatrhythm Final Bar Line, da Square Enix

Imagem: Square Enix/Divulgação

Naturalmente, existe uma ordem natural das coisas – mas o ponto é: essa “ordem” é qualquer coisa que você esteja mais acostumado. Eu tenho um perfil mais tradicional de gameplay então o jogo me direcionou, sem muita cerimônia, para concentrar apertos simples no círculo, e comandos segurados nos gatilhos L2/R2. Isso, aliado aos eventuais botões de direcionamento – estes, exclusivamente nas alavancas (L3/R3) – criou uma experiência que me permitiu acompanhar a progressão visual junto da sonora. Normalmente, jogos do gênero fazem você se concentrar apenas nas linhas por onde os comandos vão passar e, se há visuais atraentes, você dificilmente conseguirá curtí-los (ou arriscar se perder no ritmo e recomeçar a fase).

“Simplificada”, porém, não iguala a “fácil”. Em vários momentos, mesmo no mais básico dos três níveis de dificuldade, Theatrhythm Final Bar Line consegue ser bem punitivo, não evitando abusar de pegadinhas bastante imediatas. Repetidas vezes me vi errando uma ou outra nota simplesmente porque esperava que ela viesse de algum jeito – um botão específico ou um tempo que eu pensei já ter marcado – apenas para o jogo me mandar uma bola curva e me pegar desprevenido.

Desta forma, me habituar aos controles foi bem fácil, mas ainda assim, isso não matou o fator de surpresa, me mantendo alerta de uma ponta à outra das 385 canções.

O setlist mais expansivo do show da Square até agora

Sim, com quase 400 músicas tiradas de franquias como Final Fantasy (ainda a maioria, apesar de não mais exclusivo) e SaGa Frontier (e packs futuros prometendo a inclusão de Octopath Traveler, The World Ends With You, Xenogears e as franquias Chrono e Mana, para citar alguns, totalizando mais de 500 canções nos planos da Square Enix), Theatrhythm Final Bar Line é, hoje, o maior compêndio musical da franquia de ritmo da publisher japonesa.

O mais interessante é que, ao contrário de certas experiências da empresa no Spotify, o jogo não aposta em “quatro remasterizações editadas da mesma música” para engordar seu catálogo, preferindo tornar cada música uma experiência exclusiva.

O maior benefício disso é o de trazer, para o jogador, uma valorização maior de partes dos jogos mais antigos que, em suas versões originais, nós nem ligamos. Em outras palavras, ouvir Battle on the Big Bridge (a luta contra Gilgamesh em Final Fantasy V e XII) em seus respectivos jogos é algo difícil, já que, bem, temos uma divindade poderosa lutando com a gente.

Neste jogo de ritmo, porém, a música é parte do gameplay e você tem que admirá-la – e admirar você vai. O mesmo vale para Opening-Bombing Mission, a primeira música que você ouve em Final Fantasy VII.

Imagem mostra cena do jogo Theatrhythm Final Bar Line, da Square Enix

Imagem: Square Enix/Divulgação

Naturalmente, isso só adiciona valor para canções já consagradas, que você sempre conseguiu parar para ouvir e curtir: One Winged Angel, a trilha que é para Sephiroth (Final Fantasy VII) o mesmo que a Marcha Imperial é para Darth Vader, ainda tem toda a pegada épica, acrescida pelos seus tambores intensos e as vozes em ópera cantada em latim. O mesmo vale para Liberi Fatali (a abertura e a primeira aparição de Edea, em Final Fantasy VIII) ou a mais “cantada” Eyes On Me (mesmo jogo). E Somnus (Final Fantasy XV) foi uma agradável surpresa.

Estranhamente, senti falta de My Hands, tema de Final Fantasy XIII: a cantora britânica Leona Lewis tem uma voz poderosa e a música em si foi amplamente divulgada na época do lançamento do jogo – esquisito a Square Enix não apostar nela como um destaque aqui.

Mesmo sem enredo, uma história familiar

Não que esse seja o objetivo, mas Theatrhythm Final Bar Line não tem bem uma “história” no sentido literal do termo: ao abrir o jogo pela primeira vez, você vê a lista de franquias e edições contempladas pelo título, destravando uma a uma como se estivesse percorrendo seus games originais.

Em outras palavras, a “história” aqui é aquela do jogo que você escolher no menu, só que percorrida como se fosse um musical: você ainda terá que enfrentar Kefka Palazzo, Ultimecia ou Ardyn (antagonistas de Final Fantasy 6, 8 e 15, respectivamente) ao “final do jogo”, mas trazer isso para o ambiente mais sonoro torna a coisa mais casual e divertida.

Imagem mostra cena do jogo Theatrhythm Final Bar Line, da Square Enix

Imagem: Square Enix/Divulgação

Isso, no entanto, gera certas inconsistências que denunciam uma certa emergência da Square Enix: especialmente nas fases mais fáceis, se você passar pelo “chefe” dela rápido demais, o jogo começa a improvisar inimigos para você progredir – a música tem uma duração fixa, afinal, e impossibilitada de cortar tudo antes, a publisher começa a enfiar inimigos aleatoriamente.

Isso ficou especialmente evidente em Final Fantasy VIII: em um de seus níveis, acabei indo bem além da expectativa e, pouco depois da metade da canção (Love Grows), me vi enfrentando a vilã secundária Adel. No jogo original, a chamada “feiticeira do tempo passado” e governante deposta da cidade de Esthar só aparece lá na metade da segunda metade (ou entre o terceiro e quarto CDs, se você lembra bem dessa época).

Faz alguma diferença? Não, não na prática. Ainda assim, é uma visão pouco esperada ver a personagem que foi inspiração de todas as muscle mommies do TikTok tão cedo (é, se você não lembra, Adel é forte pacas).

Nem tudo merece um ‘bis’

Um detalhe que pode desencorajar alguns de se aprofundarem na mecânica de Theatrhythm Final Bar Line é justamente o quão raso é o tutorial. Apesar de um gameplay simples, é sempre bom você experimentar a parte de treino do jogo para se habituar às marcações de tempo, e encontrar quais comandos são mais confortáveis ao seu estilo.

Entretanto, o tutorial se limita a dizer “aperte esse botão para fazer isso” repetidas vezes, e algumas nuances são deixadas de lado ou simplesmente pinceladas, dando uma ideia errada: a mecânica de mover a alavanca nas notas arrastadas, por exemplo, se apresenta no tutorial como se fosse algo bem sensível, quando na verdade é só uma questão de “apontar para cima nas curvas altas, para baixo nas curvas baixas”.

Eu tive que refazer algumas músicas várias vezes até perceber isso por conta própria, já que o tutorial deixou isso bem mal explicado. Eu achava que era uma coisa muito maior, mas era tão simples que eu a princípio desacreditei.

Outro detalhe é que, no aspecto visual, a Square Enix ainda quis ser magnânima, toda cheia de brilhos e luzes e apresentações agigantadas. Em algumas situações, porém, indicativos de cor e tipo de nota acabaram ofuscados por grafismos no cenário: a invocação de Ramuh é especialmente problemática, já que o deus do trovão de Final Fantasy tem golpes que preenchem a tela com efeitos elétricos tão brilhantes que, quando você percebe a nota chegando, ela ou está em cima, ou já passou.

São pequenos problemas que não quebram a experiência, afinal, para tudo existe o “retry” para começar a fase de novo. Mas existe uma diferença entre você perder e recomeçar porque o jogo foi mais inteligente, ou porque o jogo tem um buraco lógico no desenvolvimento que atrapalha o seu progresso.

Imagem mostra cena do jogo Theatrhythm Final Bar Line, da Square Enix

Imagem: Square Enix/Divulgação

Theatrhythm Final Bar Line tem que estar no Grammy Awards

Em 2023, o Grammy Awards introduziu uma categoria dedicada exclusivamente às trilhas sonoras de jogos. O primeiro prêmio do tipo na história da cerimônia foi vencido por Stephanie Economou (compositora da trilha de Dawn of Ragnarok, a DLC de Assassin’s Creed Valhalla).

Se isso foi o prenúncio de algo continuado ou apenas para agradar às massas, ainda não sabemos, mas se – pela nossa torcida – o game music ser reconhecido pela indústria majoritária ao invés de se limitar apenas ao Game Awards, Theatrhythm Final Bar Line definitivamente merece estar no páreo.

Embora nada do jogo seja necessariamente “original” – suas músicas, todas, são de jogos do passado, incluindo Theatrhythm de outros anos – essas canções remetem a tempos onde a indústria ainda caminhava, e simbolizam a evolução sonora pela qual a Square Enix passou. Diga o que quiser da japonesa, mas ela sempre valorizou seus artistas – e Nobuo Uematsu, que ainda está na empresa e compôs a maior parte do que você ouvir no título, certamente poderia levar um Grammy para coroar o seu currículo.

Galeria de imagens

[Review] ‘Theatrhythm Final Bar Line’ prova que a Square Enix merecia um Grammy
[Review] ‘Theatrhythm Final Bar Line’ prova que a Square Enix merecia um Grammy
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