Bater em nazistas sempre vai ser legal. Atirar neles e ver, em raio-x, quase todas as partes do seu corpo virarem pasta, cortesia de uma bala de calibre grosso disparada de um rifle de alta precisão e longo alcance, então, é melhor ainda. Felizmente, Sniper Elite 5 tem isso de sobra – ainda que o restante deixe bastante a desejar.

O blog KaBuM! teve a oportunidade de jogar o novo título dos estúdios Rebellion e, felizmente, constatou que suas faltas – que não são poucas – são amplamente compensadas pelos seus acertos – que são maiores ainda.

Sniper Elite 5, o review do blog KaBuM!

Enredo

Começando pelo problema mais óbvio, Sniper Elite 5 não tem uma boa história. Não é que ela seja “ruim”: ela só é…genérica. Em todos os aspectos imagináveis: sim, ambientar a franquia em momentos específicos da Segunda Guerra Mundial pode ter sido uma jogada acertada no passado, mas essa ideia só funciona “até a página 2”, com o perdão da expressão.

O maior problema não é a progressão em si: novamente, você assume o papel de Karl Fairburne, um soldado do exército dos Estados Unidos especializado em infiltração e combates de longa distância (vulgo “sniper”, se você quer ser técnico). Se o jogo anterior viu suas balas singrar várias regiões da Itália, desta vez o clássico “herói americano” foi enviado à França, onde deve desmantelar uma nova operação bélica que pode virar a guerra a favor da Alemanha nazista, bem no momento onde, na história real, ela já estava prestes a ser derrotada.

Várias linhas de diálogo remetem ao jogo anterior, sem necessariamente falar demais sobre ele, mas mesmo essas pequenas referências – espalhadas a conta-gotas por todas as oito missões do título – servem para fazer você ignorar o fato de que alguém na Rebellion cismou de enfiar cenas de corte em todas as ocasiões possíveis, efetivamente transformando Sniper Elite 5 em um mix de Metal Gear Solid e Hitman: funciona bem de um lado, muito mal de outro.

Além disso, grande parte do que compõe uma grande história vem de seus protagonistas. E Karl Fairburne não é um bom protagonista. O dono de uma voz poderosa é apenas isso – um excelente trabalho de dublagem (de Tom Clarke Hill, o Eskel em Witcher 3: Wild Hunt) encalacrado em um herói “padrãozinho”, típico de filmes de Hollywood na década de 1980 e 1990: um exército de um homem só, capaz de matar centenas de soldados inimigos com seu confiável rifle, enquanto resolve situações que, na realidade, dependeriam de um batalhão imenso para começarem a ser determinadas.

Adicione a isso as tiradas e piadinhas no meio das missões, todas sem muita graça e facilmente ignoráveis.

E a Rebellion ainda faz isso como um escapismo da história real: hoje, já se sabe que os EUA tiveram participação importante na Segunda Guerra, mas não foram bem eles quem a “venceram” no sentido mais literal do confronto. Sniper Elite 5 faz parecer que toda a guerra foi “EUA contra todo mundo”, o que deixa um sabor meio salgado para quem joga conhecendo o mínimo da história.

Sniper Elite 5

Imagem: Rebellion/Divulgação

Visual

Os problemas narrativos acabam engrandecidos pelas estranhas decisões de design tomadas pelo time de desenvolvimento: dentro dos planos mais gerais, Sniper Elite 5 é lindo de morrer. Sério, as ambientações mais abertas são incrivelmente bem trabalhadas e, embora efeitos climáticos como chuva e neblina estejam meio ausentes do jogo, as transições de luz e sombra, noite e dia estão de fazer seu queixo cair tanto que você vai sentir o gosto do tapete.

O mesmo, porém, não pode ser dito do jogo em cenas fechadas: todas – TODAS – as cenas em ambiente interno parecem ter o mesmo molde, com uma paleta de cores que só muda de casinha para casinha. Todas as missões trazem exemplos dos dois casos, o que ajuda a dar uma quebrada nesse paradigma: pelo lado bom, você fica ansioso para ficar em ambientes abertos. Por outro, isso joga a sua imersão lá embaixo.

Mesmo isso, porém, é tolerável. O que não dá para deixar passar é o quão simplista o design dos personagens: não apenas Fairburne, que não se destaca em nenhum aspecto salvo por sua voz, mas com um visual que beira ao estranho. Outros personagens teoricamente essenciais à história, como Abellard Möller e Marie Chevalier, seguem um molde padronizado de acordo com suas afiliações e uma ou outra “demão” de cor. Möller é literalmente qualquer soldado nazista, só que artificialmente envelhecido e com cabelos cinzas. Se muito, uma cicatriz no rosto para deixar claro que, sim, ele é o vilão (e ele mal entra e, da mesma forma, mal sai de cena).

Sniper Elite 5

Imagem: Rebellion/Divulgação

Áudio

Se o enredo e os visuais representam a descida no gráfico de qualidade de Sniper Elite 5, o som é onde essa curva começa a subir – e subir rapidamente. Explico: boa parte do áudio é atrelado ao gameplay (mais sobre isso no próximo tópico), então é de se esperar que um investimento maior se fizesse notar aqui.

O efeito talvez inesperado, porém, é o grau de imersão que, não fossem os problemas visuais, seria 100% e não apenas “meio acertado”: a todo momento, é possível ouvir disparos de baterias antiaéreas à distância, caminhões e tanques percorrendo longos campos, e soldados em vigilância de postos conversando entre si, fornecendo pílulas que podem, ao mesmo tempo, lhe dar um panorama histórico da Segunda Guerra Mundial e lhe oferecer inteligência para concluir suas missões com mais precisão e, arrisco dizer, estilo e finesse.

Considere o seguinte contexto: um atirador de elite comumente tem que parar de andar, esconder-se em um canto e atentar-se a tudo ao seu redor. Em Sniper Elite 5, isso é feito com bastante frequência – e a Rebellion conseguiu traduzir isso muito bem para o jogador. Se você joga usando um headset, a recomendação é: ative o cancelamento de ruído e largue o controle por um ou dois minutos. A forma como a sonoridade do jogo se mistura ajuda a criar uma experiência um pouco mais autêntica, e o resultado disso não pode ser outro que não “épico”.

Sniper Elite 5

Imagem: Rebellion/Divulgação

Gameplay e mecânicas de jogo

Chegando ao ponto onde Sniper Elite 5 não apenas se destaca mais, mas também compensa todas as faltas citadas até aqui, o gameplay aproveita os melhores elementos que tornaram a franquia mundialmente reconhecida, aprimorando-os para um público mais contemporâneo e apegado à jogatina online de tantos títlos com algum serviço conectado à internet.

Aqui, o maior destaque fica para a “Invasão do Eixo” (Axis Invasion) – essencialmente, outros jogadores podem entrar na sua partida encarnando um sniper nazista (ok, ok, ninguém quer “ser nazista” em um jogo, entendemos) incumbido de…bem, derrotar você. Nessas horas, o jogo muda completamente de figura e a situação outrora favorável que você criou ao longo de sua missão pode virar de cabeça para baixo.

Venhamos e convenhamos, a inteligência artificial (IA) de Sniper Elite 5 é bem avançada, mas não é humana: inserir este elemento dentro de uma partida até então gerenciável torna tudo mais interessante. Seu sucesso passa a depender de uma aposta onde o senso estratégico deve prevalecer antes de todo o restante. Obviamente, isso é controlável e, se partidas online competitivas não são a sua praia como não são a minha, um comando simples no menu de opções desliga essa possibilidade, fechando sua partida para o bom e velho single player.

Se você resolver tentar isso vez ou outra – e eu definitivamente recomendo isso -, a dica é: se uma invasão ocorrer, pare tudo o que está fazendo e dedique-se apenas a combater seu novo oponente. A sua missão original ainda persiste durante esses ataques, então é bem fácil de você ser sobreposto pela IA e pelo sniper humano ao mesmo tempo. Escolha um canto, fique nele, tire quaisquer corpos inimigos de perto para dificultar a sua identificação e olho na mira – um único tiro pode te matar, e o mesmo vale de você para seu oponente.

Fora isso, os velhos elementos se fazem mais evidentes aqui: permeados por todo o cenário temos caminhões, carros, geradores e veículos cujos motores podem ser sabotados e “mascarar” o som de seus tiros, fazendo você escolher os momentos mais estratégicos para apertar o gatilho, enquanto se esconde na mata alta ou em uma torre desmoronada para pegar seus inimigos de surpresa. O planejamento aqui se faz essencial, e Sniper Elite 5 permite várias (sério, várias) vias de acesso ao mesmo objetivo, o que aumenta consideravelmente o chamado “fator replay”.

Adicione a isso uma leve camada de RPG, com uma árvore de habilidades não muito extensa, mas também não tão genérica, e você tem aqui um jogo onde várias e várias horas podem ser dedicadas de forma dinâmica.

Sniper Elite 5

Imagem: Rebellion/Divulgação

O Veredito

Sniper Elite 5 comete muitos erros. Se você leu este texto, deve estar se perguntando como raios o blog KaBuM! tem uma opinião favorável sobre um jogo onde, ao menos no início, o site dedicou longos parágrafos para apontar todos os seus pecados. É, a gente entende esse pensamento, acredite. Eu mesmo fiquei meio dividido nesse aspecto.

Entretanto, quase todos os problemas são solucionáveis – em maior ou menor grau – com atualizações e patches de correção. Onde o jogo acertou, ele o fez de maneira definitiva e irrevogável. Ao final da partida, você sai muito satisfeito com seus resultados, além de ter uma vontade bem perceptível de começar a jogar de novo, seja para compensar algum erro em missões anteriores, ou para experimentar trafegá-las por outras vias.

De longe, Sniper Elite 5 é o maior e melhor jogo da já longeva franquia da Rebellion, além de uma das mais agradáveis surpresas de 2022. Considerando que este é o ano onde temos Elden Ring e (logo menos) Modern Warfare 2, isso é dizer muito.

Sniper Elite 5 está disponível para PlayStation 4 e PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series S/X e Windows (PC).

[REVIEW] Sniper Elite 5 compensa narrativa tediosa com grande variedade de gameplay
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