[Review] TCL 40 NXTPAPER é um ótimo smartphone (se você tem baixas expectativas)
Modelo segue o mantra da TCL de oferecer boa tecnologia a preços acessíveis, mas faz pouco na questão de variedade de funções disponíveisBy - Rafael Arbulu, 5 dezembro 2023 às 17:20
Uma coisa que eu sempre admirei na chinesa TCL é a insistência mais que bem-vinda dela de oferecer boa tecnologia a preços mais acessíveis: é verdade que, neste caminho, a fabricante deu lá as suas “patinadas”, mas de uma forma geral, os produtos dela – em especial, as TVs – sempre me agradaram.
Eis que a empresa também passou, neste segundo semestre, a forçar mais a mão do marketing em sua linha de smartphones: pois é, a TCL também faz celulares, e o mais recente lançamento dela – o TCL NXTPAPER 40 – tem altas promessas, mantendo o ar de “alta tecnologia, baixo custo” e, bem, não é que ele “falhou”, mas a promessa cumprida meio que serve mais para esconder problemas que você não achava que teria.
TCL NXTPAPER 40 e sua tela que, sim, é “tudo isso” (mas também não é)
A primeira coisa que a TCL apresentou, quando lançou a linha NXTPAPER de smartphones, há cerca de um mês em São Paulo, foi a tela. “NXTPAPER” é também o nome de uma tecnologia proprietária da companhia chinesa que, sem entrar nas tecnicalidades, faz o display do smartphone ter a mesma textura que uma folha de papel, além de ser virtualmente imune a manchas de gordura dos dedos ou de resíduos.
E sim, a empresa cumpre o prometido com louvores aqui: eu tenho por hábito assistir séries e jogar meus videogames comendo algum petisco e, como você já deve ter adivinhado, o celular está sempre por perto. Obviamente, qualquer notificação mais interessante me faz pausar a atividade, pegar o aparelho, tocar na tela toda para destravá-lo e ver o que chegou no display.
Minhas necessidades de desconexão e possivelmente uma revisão na dieta à parte, é revigorante ver que o TCL 40 NXTPAPER sobreviveu a tudo isso sem dificuldade. Venho usando o aparelho há um mês, sem descanso, saindo para “rolês” ou em casa. Já o deixei cair umas duas vezes e, pelo menos em uma, cheguei em casa com tanto sono que esqueci de tirá-lo do bolso, deitando com todo o meu peso em cima dele.
Nem.
Um.
Risquinho.
Parça.
Smartphones mais caros – isso, desde baixo desempenho e intermediários como o Note 30 5G da Infinix até o premium Galaxy S23 da Samsung – são piores nesse quesito. Sim, afirmando categoricamente: a TCL fez um smartphone com resistência de display melhor que os modelos premium e não, isso não é um convite para você comprar um apenas para atirá-lo da janela do seu apartamento. Se você quer rasgar dinheiro, existem formas mais fáceis.
Isso dito, o ponto em que o TCL 40 NXTPAPER é pior que qualquer outro aparelho é…na tela.
Explico: no afã de fazer uma tela igualmente resistente a pancadas e manchas, a TCL deu ao aparelho um aspecto parecido com o que você tem quando instala aquelas “películas de privacidade”, que escurecem o display se você olhar para ele desse ou daquele ângulo. O que é ótimo, convenhamos: ninguém precisa saber que você usa seu CPF como a chave do PIX em uma viagem de ônibus, certo? (Aliás, não use seu CPF – ou dados em geral – como chave do PIX: crie um QR Code ou chave aleatória).
Bom, o problema dessas películas – que quase ninguém fala – é que a capacidade de brilho do display tem que ser um pouco mais alta, o que lhe abre para um entre dois problemas: ou você aumenta a capacidade de brilho (consumindo mais bateria), ou preserva a energia (e mantém o brilho baixo).
Vamos falar da bateria mais adiante, mas a TCL foi na segunda opção – e o resultado é o pior possível: qualquer “luzinha” à toa, seja um sol fraco em meio ao céu nublado ou o reflexo da sua TV em uma sala escura já são suficientes para esmaecer o visor e lhe impedir de ver o que acontece com o seu aparelho, salvo por você pegá-lo na mão, e olhar para ele no ângulo especificamente correto.
Em casa, isso é só um incômodo. Na rua, isso pode ser perigoso, já que o “ângulo correto” na nossa experiência foi na altura do rosto, um pouco afastado dele, com o braço meio esticado. Isso porque a tecnologia NXTPAPER é a união de software e hardware (o NXTVISION já visto em outras telas da empresa, e uma camada de plástico fosco extra sob o display primário). A economia de bateria é excelente; a apresentação da tecnologia, nem tanto.
Falando na bateria…
Outro destaque vem justamente para a unidade energética do aparelho: o TCL 40 NXTPAPER traz um excelente desempenho em sua bateria, segurando, com facilidade algo um pouquinho menor que um dia e meio de uso contínuo moderado (em outras palavras: sessões de uma hora ou mais no TikTok, longas reproduções de vídeo em alta definição no YouTube ou múltiplas conexões a aparelhos bluetooth).
A célula, que tem 5010 miliampere-hora (mAh) de tamanho com suporte a recarga rápida (35W) e conector USB-C 2.0, vai muito bem também no controle de temperatura. Em nenhum momento, você vai sentir o aparelho esquentar – nem moderadamente, quiçá “demais”.
A recarga rápida em si não é beeeeem um diferencial – existem outros aparelhos na mesma faixa de preço com capacidades bem mais velozes, mas também não é algo que se descarte: em cerca de 30 minutos, fui de 30% a 100%. Basicamente, o tempo de eu tomar banho e trocar de roupa para sair para os encontros entre amigos nos quais o aparelho me acompanhou.
Muito espaço para fotos (com uma câmera que decepciona)
O que mais me desmotivou no uso do TCL 40 NXTPAPER foi, de longe, a câmera. O kit traseiro vem com sensor principal de 50 megapixels (MP), sensor teleobjetivo de 2 MP e sensor grande angular de 5 MP; a câmera de selfie tem 32 MP. E lamentavelmente, embora a colorização seja bem intensa e bonita, é só isso que a câmera faz.
Isso porque o zoom dela não casa bem com o processamento de imagem, e o resultado é uma foto bem estourada mesmo nos ambientes mais simples. O melhor exemplo disso, aliás, já foi publicado aqui no site – uma coletiva de imprensa que participei recentemente – mas a reproduzo abaixo:
Não, a atriz norte-americana Kali Reis não tem essas manchas na pele. Isso é o estouro da luminosidade ambiente no obturador, em um zoom de 1,5x – ou, como eu chamei na hora, “nem aproximei nada”.
A coisa dá uma melhorada leve (porém desfocada) quando você aciona o “modo 50 MP” (que é como a TCL chamou a “alta resolução” do celular), mas não muito. Na mesma coletiva, a imagem da atriz Jodie Foster ainda ficou bem batida.
Nas selfies, a coisa segue o mesmo padrão do já citado Infinix Note 30 5G que analisamos há alguns meses, sem muita diferença. É satisfatório, mas nada que salte demais aos olhos. Mesmo nela, porém, ainda há alguns errinhos de colorização (na segunda foto: eu não tenho esse “bronzeado”) e de foco (na primeira, a luminosidade altera a direção selecionada do software).
Ao menos, as configurações internas podem compensar, dependendo do que você busca: a 256 GB de armazenamento interno (este número, aos poucos, se tornando o padrão, mas ainda mais que alguns modelos recentes) e memória de 8 GB (com expansão virtual de 8 GB adicionais), a maioria dos apps responde em relativa velocidade e o espaço dentro dele vai demorar para lotar.
O processamento, no entanto, parece ser um problema estranho: o TCL 40 NXTPAPER vem equipado com um Helio G88 – não é o mais fraco da MediaTek, mas está na linha de modelos que não são de ponta.
Digo “estranho” pois, em várias outras iterações, testamos smartphones com processadores até menores, e em vários testes eles foram bem. Aqui, botamos o celular para rodar Monster Hunter Now, o jogo da Niantic, e ele engasgou – forte – durante toda a partida. Mesmo quando os ajustes estavam no volume mais fraco possível, ele ainda ia mal.
Isso também se refletiu em apps com atividades continuadas, como reprodução de músicas no Spotify: várias vezes, os menus do aplicativo tinham um atraso de um segundo ou um pouco mais na resposta, o que causou algumas dificuldades de leitura geral.
Apesar dos problemas, TCL 40 NXTPAPER é um bom aparelho – se você reduzir suas vontades
Já estabelecemos que, como parte do ramo de smartphones intermediários (para baixo) da indústria de smartphones, o TCL 40 NXTPAPER definitivamente não é o que chamaríamos de “modelo de ponta”. Sim, alguns de seus recursos colocam até os mais premium do mercado para trabalhar, mas no desempenho geral, este modelo da fabricante chinesa fica em um campo bem inferior.
O que não é o mesmo que “ele é ruim”, vale citar: quando compramos um smartphone novo, geralmente comparamos preços versus nossas intenções – há quem queira um celular para jogar, outros para tirar fotos bacanas…e há o nicho de pessoas que só querem um smartphone “para ter um smartphone”.
Este modelo da TCL atende muito bem a este último campo. Quando você espera pouco do aparelho, qualquer entrega que ele lhe fizer será um bom lucro.
E considerando que ele vem em versões de R$ 1,4 mil e R$ 1,5 mil (pela loja oficial), temos aí uma ótima relação de custo-benefício.
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