[Review] Ray’z Arcade Chronology é um mergulho na história dos ‘jogos de navinha’
Ray’z Arcade Chronology reúne três dos melhores ‘jogos de navinha’ — RayForce, RayStorm e RayCrisis — e mergulha na história e evolução do gêneroBy - Jessica Pinheiro, 12 julho 2023 às 16:40
A compilação Ray’z Arcade Chronology foi lançada recentemente pelo estúdio japonês M2, focado em emulação e relançamentos e títulos clássicos. O pacote contém três títulos lendários do gênero shoot ‘em up (abreviado como shmup, ou “jogo de navinha” se preferir), desenvolvidos pela Taito: RayForce, RayStorm e RayCrisis. Nesta versão, estão inclusas as versões originais arcade dos três jogos da série, bem como a edição remasterizada em HD dos dois últimos títulos.
As premissas dos títulos são simples, como todo bom jogo de navinha tende a ser: em RayForce, você pilota o RVA-818 X-LAY, espaçonave que conta com um sistema revolucionário de trava e disparos em camadas duplas, enquanto enfrenta as defesas e os sistemas de antivírus da inteligência artificial Con-Human. Já na sequência RayStorm, você controla os modelos R-Gray 1 ou R-Gray 2 e deve lutar contra a ameaça da insurgente Secilian Federation, que quer destruir a Terra.
O último, RayCrisis, coloca o jogador contra a Con-Human Neuro Computer Network de novo. Mas como o jogo se passa cronologicamente antes de RayForce, você presencia o início do período de rebelião da inteligência artificial, depois de ela tomar posse de recursos militares para implementar um massacre. Para impedi-la, você deve pilotar um dos modelos da espaçonave Wave Rider (WR-01R ou WR-02R) e adentrar um mundo em realidade virtual criado pela IA a fim de entrar em contato com a consciência incorporada à rede.
No entanto, não é na história que você deve focar, e sim na jogabilidade de Ray’z Arcade Chronology. RayForce, lançado em 1994, por exemplo, foi considerado o primeiro jogo a revolucionar as mecânicas de jogos de navinha ao implementar o sistema de “duas camadas de ataque”. Na prática, isso significa que a espaçonave controlada pelo jogador consegue disparar e atingir inimigos que estão em planos diferentes: os que estão à frente e os que estão em uma superfície abaixo.
Por isso, cada espaçonave da trilogia utiliza dois tipos de armas diferentes. Os inimigos que estão vindo pela frente são atacados com projéteis comuns e os que estão abaixo só podem atingidos com raio laser. Entretanto, para conseguir alcançá-los, é necessário travar a mira sobre os inimigos, e eis aqui um pequeno detalhe que diferencia os jogos da série Ray de outros shmups: para que o sistema de lock-in alcance o maior número possível de oponentes que estão em segundo plano, você deve navegar pela tela, e não ficar parado em apenas um lugar, como é normal ocorrer.
Isso significa que, indiretamente, o jogo te instiga a navegar pela tela para que assim, você consiga travar a mira e atingir os inimigos que estão em segundo plano. Afinal, quanto mais oponentes forem abatidos, menos projéteis ficam espalhados pelo cenário — e por tabela, menos créditos (ou vidas) se perdem no processo. Além disso, como a rolagem do display é feita verticalmente, é relativamente fácil ver os adversários que estão na segunda camada.
Entretanto, é fortemente recomendado que você ative a opção de disparo automático da segunda arma (se essa opção estiver disponível, como em RayStorm, por exemplo), pois ficar apertando os dois botões de tiro em sequência é extremamente cansativo — e difícil. Por sinal, a dificuldade do game é bastante consistente, com fases que se tornam gradualmente mais desafiadoras e uma curva de aprendizagem honesta.
Vale ainda apontar que a compilação conta com inúmeros recursos que melhoram a qualidade de vida do jogador. Os créditos (ou fichas, já que os jogos da trilogia foram lançados para fliperamas originalmente), podem ser adicionados infinitamente, por exemplo. As chances de você tomar um game over, portanto, são praticamente inexistentes. Além disso, os jogos têm menu com incontáveis opções que podem ser personalizadas (desde textura, áudio, controles e muito mais) e o progresso pode ser salvo a qualquer momento. Então, se você quiser fazer um gameplay perfeito e deseja praticar algum segmento, pode usar e abusar do save e do load.
Ray’z Arcade Chronology vale à pena?
Curiosamente, este foi meu primeiro contato com os jogos da série Ray. Eu já conhecia os games por conta da banda Zuntata, pois assisti diversos vídeos e shows deles e me tornei fã do trabalho do grupo. Eles são a “banda da casa” da Taito e, portanto, responsáveis pela composição de trilhas sonoras da desenvolvedora, incluindo os títulos presentes no Ray’z Arcade Chronology.
Mesmo tendo sido uma ávida entusiasta das trilhas sonoras da série Ray por muito tempo, nunca havia de fato jogado os games até agora, com o lançamento da compilação. O pacote é, de fato, a forma definitiva de jogar (e preservar) esses títulos. E ao jogá-los, achei especialmente interessante acompanhar a evolução da franquia e do gênero shmup, já que RayForce ainda conta com gráficos em 2.5D, mas em RayStorm e RayCrisis, o 3D predomina.
Além disso, como qualquer título do gênero, os jogos da série Ray também são bastante curtos, e os games do pacote têm menos de dez fases, cada. Para compensar, a compilação oferece troféus para os colecionistas de plantão, e RayCrisis especificamente oferece um desfecho alternativo — e é realmente desafiador conseguir desbloqueá-lo e, para tanto, é necessário manter o sistema de Encroachment (uma mecânica de classificação interna) abaixo dos 20% no último chefe.
Por último, mas não menos importante, vale apontar para o preço da compilação. É compreensível que o acesso a estes jogos tenha sido dificultado por muitos anos para o público ocidental, e apenas recentemente é que se tornou mais fácil de jogá-los. Porém, o preço de Ray’z Arcade Chronology não é atraente para a grande maioria dos jogadores, ainda mais considerando que o gênero shmup faz parte de um nicho muito específico.
Dito isto, caso você seja um simpatizante dos “jogos de navinha” e tem curiosidade em experimentar a série Ray, eu diria para aguardar uma promoção. Mas, caso seja muito fã, vale a pena ter esta compilação na sua biblioteca.
Ray’z Arcade Chronology está disponível desde 30 de junho de 2023 para PlayStation 4 e Nintendo Switch. O jogo foi analisado no console da Nintendo por meio de uma cópia cedida pela Taito.
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