Preço bom e especificações fortes do Infinix Note 30 5G não compensam software ‘bugado’
Chegando ao Brasil por licenciamento da Positivo, smartphone chinês tem design arrojado e ‘specs’ interessantes, mas blotware excessivo complica tudoBy - Rafael Arbulu, 1 setembro 2023 às 14:03
Um smartphone de grande potencial perdido por falhas que, em 2023, seriam facilmente evitáveis: esse é o Infinix Note 30 5G, o novo dispositivo da fabricante chinesa de mesmo nome que chega ao Brasil por meio de um licenciamento de marca feito pela Positivo.
Passamos cerca de um mês com o smartphone da empresa e, assumidamente, este review está chegando de forma tardia – isso porque queríamos ficar um tempo a mais com ele (convenhamos, a Infinix aparecer na maior parte dos sites tech daqui é algo incomum) e, também, porque nesta época do ano, vários outros lançamentos costumam aparecer para a mesma finalidade.
E verdade seja dita: ainda bem que “enrolamos”, porque o Infinix Note 30 5G tem vários recursos comumente encontrados em intermediários fortes ou até mesmo alguns topo de linha – estes podem facilmente enganar um usuário à primeira vista – mas a sua sequência de erros, que não é pequena, só aparece com algum tempo de uso, o que é um grande problema para o consumidor casual ainda que o preço do aparelho seja acomodável.
Infinix Note 30 5G e a velha história do que poderia ser, mas não é
Batendo o olho, o Infinix Note 30 5G é um aparelho bem bonito. Tela grande, câmera chamativa, design fino e arrojado, corpo leve mas com uma “pegada” facilitada para acessar a maioria das funções.
O dispositivo “abre” com um leitor de impressões digitais localizado no mesmo botão de ligar/desligar – algo que achei conveniente, já que tenho uma particular preferência por leitores ou sob a tela (vide o gosto pelo meu smartphone pessoal, que assumidamente, tem lá suas mancadas também) ou em um sensor lateral, já que é assim que as pessoas “pegam” no celular.
Aqui vem o primeiro tropeço: o leitor é extremamente impreciso. A ideia de um sensor de impressões digitais estrategicamente posicionado é a de que ele me permita, em um só movimento, “pegar e abrir” o smartphone para acessar o conteúdo que busco sem dor de cabeça – o Infinix Note 30 5G não me permite isso. Entre três e cinco “leituras erradas” do meu dedo, ele vai me forçar a usar a senha alfanumérica ou o identificador por reconhecimento facial.
O problema com isso: o usuário tem que querer configurar tudo isso para ter uma facilidade de uso que deveria vir de uma única função. Inserir a senha digitada é algo que, em 2023, tornou-se mais algo secundário e relegado para reinicializações de aparelho ou configurações de segurança, não um uso rotineiro.
Mas tudo bem. Convenhamos, estamos falando de abrir o celular, então é algo que eu, particularmente, consigo deixar passar sem muita crise. E outras benesses (caramba, ele vem com fone cabeado…me chame de antiquado se quiser, mas eu adoro quando certas tendências de design não são tão “seguidas” assim…) me fazem esquecer disso com certa rapidez.
Partindo para o aparelho aberto…uau, a coisa realmente não melhora, né?
Blowatware, bloatware por todos os cantos
Você usa o XShare Mini? O XArena, ou o WeZone? Folax? Não? Nunca ouviu falar desses apps? Pois é, nem eu. Mas eles estarão no Infinix Note 30 5G no instante em que você ligar o aparelho – e eles não podem ser removidos e, em alguns casos, nem desativados.
A esta altura, você provavelmente está familiarizado com o conceito de bloatware: essencialmente, aplicações desenvolvidas pela ou parceiras da fabricante de um dispositivo que vêm pré-instaladas em dito dispositivo – enfim, uma ferramenta de marketing de marca que acaba fazendo mais mal do que bem. Convenhamos, a já mencionada Samsung é campeã disso.
Entretanto, reclamações constantes fizeram as empresas encontrarem um meio termo nesta prática: os apps ainda vêm, mas você tem a opção de desativá-los e economizar a memória e processamento do seu aparelho.
Não aqui: o Infinix Note 30 5G não apenas vem com um hub dedicado de bloatwares que já estão instalados (não “pré-”…já instalados), como também não permite você se livrar deles — são os que mencionei mais acima. E o grande problema é que, embora eu possa deduzir a serventia de cada um pelos seus nomes, eu não tenho o menor interesse em descobrir suas funções, simplesmente porque sei que o Android já vem com correlatos mais convenientes com os quais eu provavelmente já estou acostumado.
O aparelho licenciado pela Positivo vem com sistema operacional XOS 13 (baseado no Android 13) e responde com ótima velocidade de comando, mas esses apps – na minha experiência, inúteis porém irremovíveis – acabam lotando a capacidade do aparelho de forma desnecessária.
Nem mesmo o assistente virtual Folax se salva: em uma era com “Siris”, “Google Assistentes”, “Alexas” e tantos outros, há que se pensar que ferramentas do tipo tenham um corte mínimo de funcionamento. Bom, se isso existe, o Folax está abaixo dele: o assistente virtual deste aparelho só é capacitado na resposta dos comandos mais básicos e qualquer querência de uso é rapidamente abandonada em virtude da falta de conveniência dele. É, essencialmente, um assistente que não oferece muita assistência.
E falando no software operacional…
XOS 13 funciona bem, mas merece uma “enxugada”
Em um review, infelizmente, não há muito o que dizer quando algo funciona porque, bem, porque ele funciona. Nem mais, nem menos. O XOS 13 é assim: ele faz o que se propõe, ainda que não se destaque em nada específico.
E está tudo bem com isso: o Infinix Note 30 5G não é um smartphone para este ou aquele público. Ele tem configurações parrudas, mas que trazem o objetivo de servir a todos. Isso se traduz no sistema operacional, que traz efeitos de transição de abas visualmente atraentes e que, ao contrário de muitos outros por aí, não vão devorar a sua bateria.
Isso dito, ele poderia ser bem mais “magrinho” sem sacrificar nada do que já faz: na intenção de oferecer bastante coisa ao usuário de forma rápida, ele acaba justamente fazendo o contrário, escondendo coisas que deveriam ser simples, como o Google Discovery, ou mesmo acessos a funções de alto interesse, como a reorganização de apps em pastas dedicadas ao seu perfil de uso.
Essa, aliás, foi uma parte que me fez torcer o nariz: meu diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo me faz organizar meus apps em pastas especificamente nomeadas pelas suas funções: “Google”, para os apps da empresa de Mountain View; “Entretenimento” para coisas como Spotify, Netflix ou podcasts que ouço; “Finanças” para apps bancários; “Redes Sociais”…enfim, você pegou a ideia.
Como ele já vem com bloatware pré-instalado, obviamente eu tive que reorganizar as coisas do meu jeitinho – o que, de novo, é parte do jogo. Mas o processo é o (des)interessante aqui: outros smartphones me deixam, por exemplo, eliminar a pasta inteira e escondê-la na gaveta geral com um ou dois toques na tela.
O Infinix Note 30 5G não: o XOS 13 me obriga a expandir a pasta, eliminando a organização e espalhando os apps dela na tela, para que eu os desinstale/desative/esconda, um por um. E como tem muita coisa para alterar, isso rapidamente se torna algo irritante.
Outro ponto onde isso se destaca é na câmera: ao abrir o app dedicado, você se depara com uma bagunça em formato de carrossel, que lhe traz várias opções que a maioria das pessoas não vai nem interagir por não saber o que significa. O modo padrão de fotos se chama AI Cam por algum motivo, embora o app também traga um segundo botão “AI” que habilita ou desliga capacidades como reconhecimento de rostos e sorrisos, ou nomeação de objetos em primeiro plano (“Planta”, “Comida” etc.). E falando nisso…
Câmera de alta capacidade para imagens medianas
Eu não sei dizer “o que” exatamente no Infinix Note 30 5G faz com que as imagens produzidas pelo seu sensor principal de 108 megapixels (MP) sejam tão…medianas. Não são imagens de qualidade ruim – longe disso. Só que fotos melhores são facilmente batidas com sensores menores. O que estaria tudo bem não fosse o volume exagerado de opções que podem passar a impressão de que você tem nas mãos uma máquina altamente capacitada e profissional, quando a entrega é só “ok”.
Elogios onde são devidos, porém, a inteligência artificial “aprende” seus gostos com relativa velocidade, especialmente nas questões de foco: em duas ou três imagens batidas, o celular marcou quais alterações eu fazia com mais frequência na escolha de onde a câmera deveria focar sua definição, e se ajustou de acordo – todas as imagens posteriores já vinham com esse ajuste pronto, exigindo mínima ou nenhuma correção da minha parte.
O zoom em si não é nada que se destaque de outros aparelhos, mas faz bem o seu trabalho, sem quebrar (muito) a imagem nas aproximações mais densas. As cores são vivas mesmo sem a aplicação de filtros, o que ajuda quando você quer dar um ar mais natural às fotos.
E a câmera de selfie, bem…ela é…uma câmera de selfie. Tem filtros de embelezamento, detecção de rostos e sorrisos e…é isso. Os 16 MP do sensor frontal não trazem nada de destaque. E a variação de qualidade entre imagens com alta iluminação e luz normal, bem…
As mesmas considerações também se aplicam aos vídeos, apesar de alguns questionamentos: o smartphone até consegue gravar em 1080p e 60 quadros por segundo (fps), mas quanto maior a resolução configurada, mais tremido é o resultado. E usar a estabilização via software reduz a taxa de quadros pela metade (30 fps) e, à meia ou nenhuma luz, mesmo ela não evita os tremores.
Entretanto, como disse, as composições em si são medianas. Para ficar fácil de entender: elas ficam legais para postar no Instagram ou enviar para algum amigo no WhatsApp. Mas experimente parear o aparelho em uma tela maior – digamos, seu notebook ou até mesmo uma smart TV, e você rapidamente vê o motivo de elas só ficarem boas no smartphone. Pixelizações, pequenas quebras e afins ficam ainda mais evidentes.
Bateria pra dar e vender
Olha, se tem algo que a Infinix fez bem nesse aparelho, foi a gestão energética: apesar de todo o desnecessário recheio, o Infinix Note 30 5G tem “gás”. A bateria de 5,000 miliampere-hora (mAh) não é de um tamanho especificamente único, mas ela dura. Muito. Deixei o aparelho apenas ligado – com todos os sinais e notificações ativados, mas sem tirá-lo da estante – e ela facilmente atravessou três dias.
Durante o uso, ela também se segurou em rotinas diárias – acessos constantes ao TikTok em reprodução direta, atualizações do feed do Instagram e do (ex-)Twitter, playlists inteiras no YouTube e até alguns jogos mais casuais não foram suficientes para causar grandes derrubadas de carga, o que é muito bom. Essencialmente, o bicho se sustenta com as tarefas mais evidentes à maioria dos consumidores.
E a tecnologia de recarga rápida de 45 W complementa esse pacote, fazendo o aparelho ir de 0% a 100% em pouco mais de uma hora. Não é exatamente uma novidade, mas é sempre uma conveniência gostosa de se ter.
O Infinix Note 30 5G é para mim?
Depende. Pelo review, você obviamente já percebeu que precisará de paciência para configurar o aparelho e deixá-lo do seu jeito. Os bloatwares e engasgos do sistema operacional certamente vão diminuir a sua experiência de uso – especialmente se você veio de um smartphone de outra marca, com maior ou menor capacidade.
Há também que se ter em mente que o Infinix Note 30 5G é um exemplar perfeito da expressão “bom em tudo, mestre de nada”: se você busca um smartphone para algum uso específico, então definitivamente siga por outra opção – este aparelho não é destinado a um público determinado (você não vai jogar Genshin Impact nele, convenhamos), mas sim um modelo forte para uso geral.
Se você conseguir ver além de tudo isso, então o smartphone trazido ao Brasil pela Positivo pode sim ser uma opção viável. Ele tem bom processamento (MediaTek Dimensity 6080), boa memória (8 GB RAM), bom espaço de armazenamento (256 GB, expansível até 1 TB) e display grande para quem é fã de algo mais chamativo (6,78 polegadas FHD+ 120 Hz). E o preço, pela loja oficial, é de R$ 1.799,10 à vista – bem menos do que muito smartphone com configuração menor por aí.
Só não espere dele grandes feitos: é como se ele próprio se limitasse, apesar do alto potencial para ir bem mais longe. Quem sabe em uma próxima versão…
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